23/05/2012 - 21:00
O mercado acionário vem sendo uma fonte de sustos para a maioria dos investidores, aqui e lá fora. O desaquecimento da economia brasileira e as turbulências no mercado internacional vêm provocando quedas significativas das bolsas de valores nas últimas semanas. Na primeira quinzena de maio, a queda acumulada na Bovespa chega a 9,5% e, no trimestre, supera 13%. Esse resultado atingiu os investimentos em fundos de ações. Apesar do cenário, alguns gestores acertaram nas escolhas e blindaram suas carteiras contra os solavancos dos pregões. É o caso do fundo de ações FIA America, gerido pela corretora gaúcha Solidus. A rentabilidade em abril foi de 40% e, no acumulado do ano, o fundo ostenta um ganho de 66%.
Lamounier (a esquerda) e Martins, da GPS: fugir dos índices ajuda a driblar perdas.
A chave para o sucesso foi uma aposta arriscada – mas bem-sucedida – na reestruturação das empresas de telefonia, em especial as do grupo Oi Brasil Telecom. De acordo com Débora de Souza Morsch, gestora da Solidus, a estratégia do fundo é assumir riscos elevados e apostar pesado. No caso, a Solidus apostou no direito de recesso dos acionistas minoritários da Telemar, que não concordaram com as relações de troca das ações antigas pelas da Oi Brasil. O FIA America é um fundo exclusivo, e seus recursos pertencem apenas a um grupo de cotistas, mas outros fundos da Solidus seguem estratégias semelhantes. O Solidus FIA acumula alta de 24,3% até o fim de abril, em comparação com um ganho de 8% do Ibovespa nesse período.
“Esse fundo está concentrado em construção civil, mas, dentro do setor, é importante ficar de olho nas empresas que realmente possam trazer bons retornos”, diz Débora. “A escolha de um papel errado pode fazer a estratégia ir por água abaixo.” Se a estratégia da Solidus é correr riscos, a da gestora paulista Skopos é justamente o contrário. E, como a gaúcha, ela se deu bem. O fundo de ações Skopos BRK 60 FIC FIA é um dos mais rentáveis de seu segmento, com um ganho de 14,1% em abril. Marina Braga, executiva da Skopos, afirma que a estratégia do fundo é escolher boas ações e, ao mesmo tempo, usar instrumentos financeiros para anular as oscilações. A equipe concentra os recursos em empresas que tenham um bom time de gestão e que consigam preservar valor em momentos de queda da bolsa.
Fábio Gallo, da FGV: É preciso experiência para lidar sozinho com a bolsa tão volátil.
“Atualmente, a carteira é composta por Contax, OHL, Copel, Porto Seguro e Tractebel”, diz. Para compensar os momentos de queda, o fundo assume posições “vendidas” (ou seja, que ganham com a baixa) por meio dos mercados futuros de índice. “A exposição do fundo à bolsa está próxima de zero, dado o cenário macroeconômica global e o resultado das empresas no Brasil, abaixo do esperado”, diz Marina. Segundo os especialistas, ir além dos principais indicadores do mercado é a principal estratégia para driblarem a queda da bolsa. “Se analisarmos os dois principais índices, o Ibovespa e o IBX, mais de 50% de suas ações estão ligadas a commodities e bancos, deixando uma parcela muito pequena para setores que realmente fazem a diferença, como o de consumo, por exemplo”, diz o economista Antonio Martins, da GPS, empresa de gestão de patrimônio.
“Essa estratégia pode fazer a diferença no retorno do fundo”, reforça Geraldo Lamounier, também da GPS. Fábio Gallo, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), acredita que o investidor comum pode seguir a estratégia dos grandes gestores, mas ressalta: “É preciso bastante experiência para lidar sozinho com a bolsa tão volátil.” Martins e Lamounier concordam. “Não é impossível, mas são necessários tempo e informação para seguir essas estratégias e obter sucesso de forma independente”, diz Lamounier. Para Martins, a ideia é válida, também, na hora da escolha dos fundos de investimentos em ações. “É importante comparar o retorno do fundo com as altas e baixas da bolsa e buscar orientação para escolher segundo o seu objetivo”, afirma Martins.