O presidente russo, Vladimir Putin, “não pode se safar”, declarou nesta quinta-feira (22) o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, no Conselho de Segurança da ONU, durante uma reunião dedicada à Ucrânia, na qual seu colega russo, Serguei Lavrov, rejeitou as acusações ocidentais.

“A ordem internacional que tentamos salvar aqui está sendo destruída diante de nossos olhos”, criticou Blinken durante a reunião extraordinária a nível ministerial. “Não podemos deixar o presidente Putin se safar”, acrescentou.

Para o chefe da diplomacia americana, a decisão do presidente russo de realizar vários referendos nas áreas ocupadas da Ucrânia para endossar sua anexação não fez mais do que “derramar óleo no fogo” que a Rússia “acendeu” com a invasão da Ucrânia há sete meses e “demonstra seu total desrespeito pela Carta das Nações Unidas”.

Lavrov, com quem Blinken se recusa a se encontrar desde a invasão de 24 de fevereiro, refutou as acusações ocidentais.

“Os Estados Unidos e seus aliados, com o conluio de organizações internacionais de direitos humanos, estão encobrindo os crimes do regime de Kiev”, acusou Lavrov em resposta a relatos de abusos por parte das forças militares russas.

“Kiev deve sua impunidade a seus parceiros ocidentais”, acrescentou Lavrov, que acusou o “Estado totalitário nazista” ucraniano e a impunidade da Ucrânia por seus atos desde 2014 e garantiu que a decisão de lançar a operação militar especial – Moscou sempre negou invadir um país democrático e livre – era “inevitável”.

“Há uma tentativa de nos imputar uma narrativa completamente diferente sobre a agressão russa como origem desta tragédia”, disse Lavrov, acusando a Ucrânia de “russofobia” ao tentar impor seu idioma.

Já o chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, garantiu ao colega russo -com o qual afirmou que “manteria uma distância sanitária”- que Moscou “nunca ganhará esta guerra”.

“Cada ucraniano hoje é uma arma pronta para defender a Ucrânia”, acrescentou.

A França, que preside o Conselho de Segurança, convocou esta reunião para exigir que a Rússia preste contas.

“Não há paz sem justiça”, declarou a chefe da diplomacia francesa, Catherine Colonna, à imprensa.

Nesta quarta-feira, os ocidentais intensificaram os ataques a Moscou, após o anúncio de Putin de mobilizar cerca de 300.000 reservistas para relançar a ofensiva na Ucrânia diante das derrotas sofridas no terreno nas últimas semanas e sua disposição para usar “todos os meios” ao seu alcance para vencer a guerra.

A União Europeia anunciou novas sanções contra os interesses de Moscou.

– “Catálogo de crueldades” –

A evidência de violações dos direitos humanos na Ucrânia é esmagadora: execuções sumárias, violência sexual, tortura e outros tratamentos desumanos e degradantes contando civis e prisioneiros de guerra.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu uma investigação completa desse “catálogo de crueldades” para “garantir a responsabilidade”.

Os culpados, disse ele, devem se sentar no banco da justiça em “julgamentos justos e independentes”.

A descoberta de covas com centenas de mortos, incluindo crianças, na cidade de Izium, recentemente recuperada pelas forças ucranianas após meses sob controle russo, é “extremamente perturbadora”, criticou Guterres, que destacou o “impacto inaceitável desta guerra sobre os direitos humanos”.

As vítimas e suas famílias têm direito à “justiça, indenização e reparação”, disse ele.

No dia anterior, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, exigiu perante a Assembleia Geral da ONU uma “punição justa” contra a Rússia.

Cada vez mais vozes na comunidade internacional pedem que o Tribunal Penal Internacional investigue as acusações de crimes de guerra e execuções sumárias na Ucrânia, rejeitadas por Lavrov.