Há algo de estranho com a Blockbuster no Brasil. A maior rede de locadoras do mundo não consegue sair do vermelho desde que estreou por aqui em 1995. O balanço de 2000 acaba de sair do forno e o resultado é um rombo de US$ 13,6 milhões, quase o triplo do prejuízo de R$ 5,7 milhões do ano anterior. Isto apesar de sua receita ter crescido 10%, atingindo R$ 68,1 milhões. ?Acontece que fizemos amortizações da dívida acumulada e sofremos depreciação de bens, além de pagarmos impostos?, explica Arthur Negri, vice-presidente da Blockbuster. Para piorar o diagnóstico, o lucro operacional, que é o resultado antes do impostos e referência básica para o mercado, apresentou também queda. Registrou um saldo de apenas R$ 1,6 milhão, abaixo dos R$ 2,1 milhões de 1999. Além disso, a receita por metro quadrado gira em torno de R$ 2,5 mil, metade do que é considerado lucrativo em magazines de varejo. Enfim, a Blockbuster do Brasil, pelo menos por enquanto, não é campeã de bilheteria.

Os numerais negativos vêm causando certo espanto no mercado. A pergunta que circula entre analistas é uma só: como é que o Unibanco, proprietário da BWU, franquia da rede americana no País, continua a administrar um negócio que não engrena? ?O tempo que a Blockbuster tem levado para apresentar dados positivos é bastante incomum?, afirma um conhecido consultor. Para montar suas 75 lojas no Brasil, a empresa investiu R$ 60 milhões. Seis anos em atividade, segundo esse mesmo consultor, é tempo suficiente para uma rede do porte da Blockbuster estar operando num reluzente azul. A origem de todo este imbróglio, de acordo com especialistas em varejo, é um erro de estratégia no desembarque da rede no Brasil. A empresa veio com muita sede ao pote. Prometeu 250 lojas até 2000, mas não tem sequer a metade. Em seguida, foi surpreendida pelo avanço da tevê a cabo e pelas crises cambiais. O estrago estava feito.

Para 2001, Negri promete ampliar o número de pontos de locação de 75 para 90. A idéia é tentar elevar o faturamento para R$ 89 milhões. Mesmo assim, descarta novamente a possibilidade de lucro. ?Só vamos entrar no azul em dois anos. Temos de recuperar os US$ 60 milhões em investimentos realizados até agora?. Além das novas lojas, o executivo planeja também entrar no e-commerce até o início de 2002. A idéia é oferecer aluguel e vendas de fitas pela Internet. Enquanto a filial tenta soluções, a matriz sofre outras turbulências. Em 2000, a Blockbuster dos EUA amargou perdas de US$ 75,9 milhões. O grupo Viacom, controlador da rede, pensou até em vendê-la, diante de sucessivos balanços no vermelho. Mas a idéia foi cancelada. Será que ninguém se habilitou?