O risco de uma crise da dívida nos países em desenvolvimento está aumentando, alertou nesta terça-feira (6) o Banco Mundial (BM), que pediu aos credores que favoreçam a reestruturação dos passivos antes que seja tarde demais.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) advertiu e o BM confirmou: mais de 60% dos países em desenvolvimento estão prestes a mergulhar, se é que já não estão, em uma crise da dívida.

É que os países mais pobres e emergentes podem não conseguir honrar seus compromissos se houver uma recessão global e o crescimento econômico enfraquecer nos próximos anos, explica o BM.

Na última década, a dívida dos países em desenvolvimento mais do que dobrou, alcançando US$ 9 trilhões em 2021 e provavelmente superará este valor em 2022, de acordo com o relatório anual do Banco Mundial sobre a dívida internacional, divulgado nesta terça-feira.

Há múltiplas razões para essa situação: desvalorização das moedas em relação ao dólar (moeda em que as dívidas costumam ser contraídas), aumentos das taxas de juros, que encarecem o crédito, assim como altas nos preços de energia, dos alimentos e dos fertilizantes, que esgotam as reservas cambiais.

“Para os países em desenvolvimento, as perspectivas são sombrias, tanto no curto quanto no médio prazo”, disse o presidente do BM, David Malpass, em coletiva de imprensa.

“O acesso a eletricidade, fertilizantes, alimentos e capital permanecerá limitado durante um longo período”, acrescentou.

Isso agrava as dificuldades dos países mais pobres, que já gastam mais de 10% de sua renda anual para pagar sua dívida. Além disso, a instituição financeira se preocupa com o risco de que se esgotem suas opções de refinanciamento.

“A combinação de um altíssimo nível de endividamento e um aumento das taxas de juros levará a uma absorção significativa do capital global pelos países desenvolvidos por um longo período”, insistiu Malpass.

Taxas elevadas em países considerados seguros para investir atraem capital.

– Novos credores –

O aumento dos juros obriga os países, sobretudo os mais vulneráveis, a refinanciarem suas dívidas, o que significa novas emissões, mas a taxas mais caras. Isso reduz sua capacidade de investir em projetos.

Diante desta situação, o BM apela aos credores para que atuem o quanto antes para ajudar a reestruturar os passivos.

Mas, como reconhece Malpass, “a composição da dívida mudou radicalmente, o que complica essas reestruturações, que são mais do que necessárias”.

Até pouco tempo atrás, a dívida estava principalmente nas mãos dos países do Clube de Paris (cerca de vinte, incluindo o G7 e a Rússia), mas passou para o controle do setor privado (61%).

E vários Estados não pertencentes ao Clube de Paris, como China, Índia e países do Golfo, aumentaram sua participação nos passivos de nações emergentes ou em desenvolvimento.

Em alguns casos, a China acumula quase metade dos empréstimos a um Estado.

As cláusulas dos contratos entre os países e esses novos credores costumam ser mantidos em sigilo, o que dificulta ainda mais a revisão da situação financeira na hora de avaliar uma reestruturação.

Esse é especialmente o caso da China, cujos empréstimos podem vir tanto do Estado como de algumas províncias ou empresas públicas, o que impede uma visão de conjunto.

As dificuldades dos países em desenvolvimento se devem “em parte ao enorme crescimento do montante da dívida” com a China, apontou Malpass.