Por Nayara Figueiredo

SÃO PAULO (Reuters) -A Boa Safra e a gestora de investimentos independente Suno Asset lançaram nesta segunda-feira seu primeiro fiagro, um fundo híbrido composto por ativos imobiliários e de crédito, que deve ajudar a companhia de sementes a diversificar suas fontes de financiamento e focar nos planos de expansão.

O Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais (fiagro) tem o objetivo de captar recursos de investidores para aplicar em ativos do agronegócio. Semelhante a um fundo imobiliário, ele permite que o investidor compre cotas.

“Para a companhia, ele é mais uma fonte alternativa de funding… além dos financiamentos bancários”, disse à Reuters o CFO da Boa Safra, Felipe Marques.

Quando a empresa realizou seu IPO, no ano passado, a expectativa de expansão anunciada era atingir capacidade produtiva de 360 mil “big bags” até 2026. Agora, a captação de recursos via fiagro deve contribuir para a que Boa Safra siga apostando nesta meta.

O fundo tem um montante inicial de 150 milhões de reais, sendo 125 milhões aplicados em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e 25 milhões de reais no arrendamento de terras.

Com o valor do arrendamento, foram adquiridas duas propriedades em Mato Grosso. A primeira, em Sorriso, com área total de 90 mil metros quadrados, e a segunda em Primavera do Leste, com 293 mil metros quadrados. A Boa Safra vai se encarregar de fazer melhorias nas propriedades, implementando suas unidades de beneficiamento (UBS) e centros de distribuição (CD).

Já o montante aplicado em CRA tem como lastro os recebíveis de soja e sementes com foco em revendas e produtores agrícolas.

“A Boa Safra vende semente para os produtores e os produtores pagam na safra, esses recebíveis de venda de sementes foram cedidos para a securitizadora e embalamos em um CRA”, afirmou o chefe de investimentos da Suno, Vitor Duarte.

Segundo ele, dada a sua estrutura, o fiagro terá rendimento mensal, com fluxo proveniente do arrendamento das terras agrícolas e dos recebíveis da Boa Safra. A rentabilidade alvo é de CDI mais 3% ao ano e não há taxa de performance.

A Suno, como gestora, encarrega-se das tomadas de decisão e administração do montante, além de prestar contas aos cotistas com relatórios gerenciais detalhados.

Denominado SNAG11, o fiagro da Boa Safra e Suno terá cotas que serão comercializadas por 100 reais (preço inicial), na B3, para completar o portfólio de pessoas físicas que se interessam por ativos vinculados ao agronegócio.

“O foco é o público geral, isento de imposto de renda, é uma forma do investidor, principalmente pessoa física, diversificar de verdade”, disse Duarte.

ATRATIVIDADE

A advogada especializada em agronegócios Marcela Cavalo afirmou que os fiagros podem ser divididos em três tipos, são eles: direitos creditórios, imobiliários e participações.

Nos casos das participações e nos imobiliários –onde se enquadra o fundo da Boa Safra– as taxas de juros costumam ser pós-fixadas, o que torna o ativo mais atrativo aos investidores em momentos como o atual, quando a taxa básica de juros (Selic) está em patamares elevados.

“O fiagro tende a ser um bom investimento mesmo nesse ambiente de juros altos também porque ele vem do agronegócio, é um setor que tende a crescer e não trazer grandes surpresas (negativas)”, disse.

Com base nos dados mais recentes da B3, ela afirmou que até junho haviam 23 fiagros registrados, sendo que seis deles ainda não tinham passado por IPO.

“E desses 23, estimamos que existe um valor de 2,4 bilhões de reais em aporte… Para um ano de operação, é um valor bem expressivo”, afirmou, considerando que cerca de 98% dos investidores são pessoas físicas.

Ela ainda disse que uma projeção recente da XP Investimentos indica que, até 2025, o Brasil pode chegar a 75 bilhões de reais em fiagros.

(Reportagem de Nayara Figueiredo; edição de Roberto Samora)

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