Da Reuters e The New York Times. A fabricante europeia de aviões Airbus anunciou a encomenda de 290 aviões A320 e outros 10 A350 por parte da China, informou o governo da França nesta segunda-feira. As negociações duravam havia 12 meses. O acordo faz parte de um pacote de pactos comerciais a serem acertados durante visita à Europa do presidente chinês, Xi Jinping.

“A conclusão de um grande contrato (de aviação) é um passo importante e um excelente sinal no atual contexto”, disse Macron em comunicado junto a Xi Jinping, presidente chinês. A encomenda foi feita pela China Aviation Supplies Holding Company.

O anúncio é mais um capítulo no inferno astral da Boeing desde a queda do segundo avião 737 Max – sua linha mais moderna – dia 10 de março na Etiópia, quando morreram 157 pessoas (8 tripulantes e 149 passageiros). Menos de cinco meses antes, dia 29 de outubro, um acidente na Indonésia nas mesmas circunstâncias (logo após a decolagem) também havia matado todas as pessoas a bordo (189, sendo 181 passageiros e 8 tripulantes).

The New York Times

Em extensa reportagem publicada pelo The New York Times, o jornal americano traz detalhes do desenvolvimento do 737 Max. Na reportagem fica demonstrado que o gatilho para a produção apressada do modelo – versão modernizada de um best-seller da empresa, produzido desde 1968 – ocorreu quando a American Airlines anunciou sua maior compra de aviões da história, da maior rival da Boeing, a Airbus, após décadas de exclusividade da aérea americana com modelos Boeing.

Para reconquistar a antiga cliente exclusiva, a centenária empresa da Chicago abandonou a ideia de criar um avião do zero – que demoraria 10 anos para ser entregue – e voltou seus olhos para uma modernização do clássico 737, que tem cinco décadas, mas cujo projeto demoraria apenas seis anos para começar a ser operado. Com a decisão feita, a fábrica da Boeing se tornou uma panela de pressão, com engenheiros tendo de entregar desenhos em velocidade duas vezes mais rápida que o normal e diretores de setores realocando funcionários de outras partes da fábrica para ajudar no desenvolvimento do 737 Max.

De acordo com a reportagem do The New York Times, segundo pessoas que trabalharam no projeto, o ritmo de produção intenso fez com cerca de 16 desenhos técnicos fossem entregues por semana, o dobro do normal. O problema é que técnicos que recebiam estes documentos alegavam a falta de detalhes técnicos, como a ligação de cabos e fios que, segundo engenheiros, seriam detalhados “mais à frente no projeto”. O problema é que sem instruções sobre qual ferramentas usar em determinadas ligações podem causar má instalação e gerar efeito cascata no funcionamento do avião.

Modelo novo, mas sem treinamentos novos

Porém um dos principais pontos do 737 Max era criar um avião moderno, econômico e sem muitas mudanças em relação aos seus antecessores. Esse era um dos pré-requisitos para a Boeing, que buscava criar um modelo que não necessitasse de novos treinamentos para pilotos de aéreas do mundo todo para que pudesse ser certificados rapidamente e entrar em operação.

O pedido fez com que diversas modernizações fossem feitas pela metade, caso do cockpit, que não teve novos mostradores ou indicadores adicionados. A única mudança foi a transformação dos displays analógicos em digitais. Em respostas as alegações de que o processo foi mais rápido que o normal, a Boeing soltou nota dizendo que “o programa se iniciou em 2011, foi oferecido a clientes em 2012, e o primeiro modelo ficou pronto em 2015. Um processo de diversos anos não pode ser considerando corrido”.

Ponto decisivo

Porém no centro da polêmica da segurança dos 737 Max está o sistema MCAS, um software que joga o nariz do avião automaticamente para baixo quando percebe um ângulo perigoso para evitar o estol, efeito em que o avião deixa de planar, voar, e passa a cair. Por funcionar de maneira automática, a Boeing achou que não era necessário treinar pilotos para lidar com ele. Mas segundo a apuração da caixa preta do acidente da Lion Air, em outubro do ano passado, a queda do avião foi causada por um sensor disfuncional, que acarretou em queda involuntária do avião até que ele perdesse sustentação e caísse. A Boeing anunciou que atualizou seu sistema de estabilização.