12/09/2016 - 0:00
Criada em 1986, pelo empresário Paulo Roberto de Andrade, a Fazendas Reunidas Boi Gordo, tornou-se uma das sensações do mercado financeiro brasileiro, na segunda metade dos anos 1990, ao lançar na praça certificados de investimentos que prometiam lucros fabulosos, na casa dos 40% em apenas 18 meses, numa época em que o lucro médio da pecuária não passava de 9% anuais.
Seu sucesso foi instantâneo, ao ponto de Andrade, inspirar um dos personagens da novela Rei do Gado, da rede Globo, cujo protagonista principal, o ator Antonio Fagundes, que interpretou o fazendeiro Bruno Mezenga, brilhou como garoto propaganda da empresa. Com essa retaguarda, não foi difícil atrair as atenções e captar as economias de gente famosa, como a atriz Marisa Orth, os jogadores de futebol Evair, Vampeta, Edilson e Cesar Sampaio, o técnico Luiz Felipe Scolari, o designer Hans Donner e o cantor e compositor Erasmo Carlos, entre outros.
O sonho, no entanto, durou pouco. Em 2001, os clientes constataram que havia boi na linha. Incapaz de cumprir suas promessas, a Boi Gordo revelou a que veio: era nada mais nada menos do que uma gigantesca pirâmide, montada por Andrade, uma versão pecuária do escroque americano Bernard Madoff.
Resultado:incapaz de cumprir com a promessa de enriquecimento rápido vendida aos incautos, foi obrigada a pedir concordata. Três anos depois, vergada por um rombo de R$ 2,5 bilhões ( R$ 4 bilhões, em dinheiro de hoje), o calote que afetou cerca de 32 mil investidores (70% deles de pequeno porte), foi transformado em falência.
Desde então, os administradores da massa falida vêm se esforçando para, ao menos, ressarcir em parte, o prejuízo de quem foi prejudicado pela arapuca montada por Andrade. A saída encontrada foi a venda do imenso patrimônio imobiliário da Boi Gordo. Em 2013, na primeira fase do processo, algumas fazendas foram leiloadas, deixando no caixa da massa falida cerca de R$ 200 milhões.
Na segunda, iniciada no dia 19 de agosto e que deve se encerrar nesta quarta feira, 13, estão sendo oferecidas no pregão (eletrônico e presencial), operado pela Lut Leilões, de São Paulo, as Fazendas Guaporé I e II, localizadas no município de Comodoro, na região de Parecis, no Estado de Mato Grosso, as mesmas propriedades que serviram de cenário para o Rei do Gado.
Com uma área total de 135 mil hectares, 40% superior à extensão urbana da capital paulista, as duas fazendas são consideradas as “joias da coroa” da Boi Gordo e têm valor de mercado avaliado em R$ 500 milhões, segundo Juliana Galo, coordenadora de leilões extra judiciais da Lut. No entanto, para quem quiser arrematar o conjunto das terras, está sendo oferecido um deságio de até 40%. “A expectativa é arrecadar em torno de R$ 320 milhões”, afirma Juliana.
Caso não surja um comprador para a área total, os administradores da massa falida têm um trunfo na manga: o fatiamento das duas fazendas em 31 lotes, baseado num estudo georreferencial sobre as atividades mais indicadas para cada um deles. “As terras são produtivas e estão divididas com indicações de áreas nobres para lavoura, agropecuária e reserva ambiental, o que facilita ao comprador identificar exatamente aquilo que está adquirindo e planejar a produção”, diz Juliana.
