26/03/2010 - 6:00
Do mesmo jeito que criou uma bolha no preço das ações da Telebrás ao anunciar a reativação da companhia antes mesmo que o Plano Nacional de Banda Larga estivesse concluído, o governo federal começou nas últimas semanas um processo de esvaziamento. Na quarta-feira 24, o vazamento de uma nota técnica do Tesouro, considerando mais recomendável criar uma nova companhia para evitar o passivo da Telebrás, derrubou os papéis preferenciais (TELB4) em 15%.
Neste mês, a queda chega a 38%, principalmente depois das revelações de que o ex-ministro José Dirceu prestou consultoria para um sócio da Eletronet, subsidiária da Telebrás e dona dos cabos de fibra óptica que seriam utilizados pela estatal ressuscitada. Ainda há muita gordura para queimar na bolsa: de janeiro de 2003 (início do governo Lula) até a quinta-feira 25, a alta acumulada do papel foi de 9.553,2%, segundo a Economática.
O curioso é que o colegiado da Comissão de Valores Mobiliários, que age com mão de ferro em outros casos envolvendo empresas privadas e estatais ? o diretor de relações com os investidores da Petrobras, Almir Barbassa, por exemplo, já foi punido pelo vazamento de informações que poderiam beneficiar determinados investidores ?, tem sido muito cauteloso diante da bolha da Telebrás.
As negociações não foram suspensas por ordem da CVM ou da Bovespa e nenhum diretor da Telebrás ou membro do Executivo foi advertido. No máximo, o que se fala é em uma investigação muito recente. Somente em 8 de fevereiro, a CVM começou a trabalhar no caso, que tende a prejudicar os investidores desavisados se a Telebrás continuar inoperante.
?Na hipótese de o trabalho de apuração em curso concluir que ocorreu ilícito na esfera do mercado de capitais, poderão ser responsabilizados todos aqueles em relação aos quais, à luz da legislação aplicável, existam suficientes indícios de materialidade e autoria?, disse a presidente da CVM, Maria Helena Santana, à DINHEIRO.
Dificilmente qualquer punição será aplicada aos envolvidos na bolha da Telebrás no último ano do governo. O próprio presidente Lula já deu declarações sobre o tema. ?Nós vamos recuperar a Telebrás. Nós vamos utilizá-la para fazer banda larga nesse país?, disse Lula em fevereiro. Depois disso, o Tesouro se encarregou de furar a bolha.