A B3 perdeu 48 empresas desde 2021. Só em 2025, já foram nove, número que chegará a 11 até o fim do ano, com as já anunciadas saídas da Gol e do Banco Pan. Dados da própria bolsa brasileira mostram que, hoje, existem 415 companhias listadas.

E esse número já foi muito maior. No início da década de 90 o Brasil chegou a ter mais de 600 empresas listadas, número que se manteve relativamente estável até o fim daquela década. A trajetória de queda se intensificou a partir do início dos anos 2000.

Motivos para empresas saírem da bolsa

Segundo o professor da FIA Business School, José Carlos de Souza Filho, existem quatro fatores principais que levam uma empresa a deixar o mercado de capitais. O primeiro deles são os processos de fusão e aquisição de grupos que buscam mais escala e competitividade no mercado.

Um exemplo disso foi o setor de saúde. Levantamento da KPMG mostra que entre 2003 e 2023, o Brasil registrou 817 transações no mercado de saúde. Rede D’Or, Intermédica, Dasa, DaVita, Hapvida, Fleury, Oncoclínicas, Sabin, Amil, Viveo e Hermes Pardini foram algumas dessas empresas, muitos das quais tinham ações em bolsa e fecharam seu capital após o M&A.

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O segundo grande motivo para uma empresa deslistar suas ações da bolsa é a decisão de se fechar o capital por meio da chamada OPA (Oferta Pública de Aquisição). Esse, aliás, é o modelo que será seguido pela Gol, como anunciado esta semana pela companhia, e há alguns anos, foi usado pela J&F para fechar o capital da Vigor Alimentos – anos depois a empresa foi vendida para o grupo mexicano Lala.

O professor Souza Filho ainda menciona como terceiro motivo a decisão de uma empresa buscar outras bolsas, como também disse que vai fazer a Gol. A holding que controla a companhia aérea disse que pretende fazer um IPO nos Estados Unidos, mas ainda sem uma data definida.

“O último motivo é quando a empresa quebra, como aconteceu com a Saraiva e, há mais tempo, com a Varig. Seja qual for o motivo, sair da bolsa traz consequências como menor visibilidade do mercado e menos opções para capitalização”, afirma o professor.

O peso do juros altos

Mas não são só os aspectos microeconômicos, ligados à estratégia de cada empresa que interferem na decisão de deixar a bolsa. O professor Souza Filho, explica que fundamentos macroeconômicos, como a taxa de juros, também provocam um efeito colateral no longo prazo.

“Os juros altos desestimulam o investimento. Eles [juros] remuneram muito os investimentos no mercado financeiro e também punem muito os tomadores de recursos”, explica o professor.

De fato, existe uma correlação entre a tendência de alta dos juros com a saída de empresas da bolsa. Entre os anos 2000 e 2005, deixaram a bolsa 114 empresas. Ao final de 2005, existiam 381 companhias listadas, o menor patamar dos últimos 20 anos.

Nesse mesmo período, a taxa básica de juros da economia brasileira passou de 15,75% para 18%, depois de ter batido 25% em dezembro de 2002. Nos cinco anos seguintes, a taxa Selic caiu para 10,75%. Coincidência ou não, o número de empresas listadas alcançou 471.

Nos últimos quatro anos, em que a bolsa perdeu quase 50 empresas, a taxa de juros passou de 9,25% para os atuais 15%.

“Os juros têm um efeito de longo prazo. Acredito que tenhamos alcançado um patamar elevado e que essa curva comece a se inverter. Certamente, isso incentivará o retorno das empresas à bolsa, só não vai acontecer do dia para a noite”, diz o professor.