No dia em que o contrato do petróleo WTI de maio, com vencimento na terça, 21, foi negociado abaixo de zero, o Ibovespa mostrou notável resiliência em sessão de vencimento de opções sobre ações. Assim, o principal índice da B3 neutralizou as perdas do dia, fechando praticamente estável (-0,02%), a 78.972,76 pontos, longe da mínima deste pregão espremido entre o fim de semana e o feriado nacional de Tiradentes. Em sessão pré-feriado brasileiro, os investidores costumam mostrar grau ainda maior de cautela, visto que os mercados do exterior estarão abertos amanhã.

O volume financeiro totalizou R$ 35,1 bilhões na sessão, com o Ibovespa tendo oscilado entre mínima de 76.942,89 e máxima de 80.105,99 pontos. Em abril, o índice passou a acumular ganho de 8,15%, mas ainda cede 31,71% no ano. Na sessão, apesar do derretimento dos contratos da referência americana de petróleo, os papéis da Petrobras tiveram desempenho melhor do que o de outras blue chips, como Vale e bancos. No fechamento, Petrobras ON e PN mostravam baixa, respectivamente, de 0,90% e 1,12%, enquanto Vale cedia 3,50% e Itaú Unibanco, 2,50%. Na ponta negativa do Ibovespa, Gerdau Metalúrgica caiu 3,70%, Embraer, 3,66%, e Gerdau PN, também 3,66%. No lado oposto, Cyrela subiu 8,85%, seguida por Magazine Luiza (+8,72%) e Localiza (+6,15%).

“Apesar de todo estresse na esfera política e a derrocada do petróleo, o Ibovespa recuou muito menos do que o mercado internacional, em vista da forte queda dos juros futuros, movimento que favoreceu em especial o setor de consumo e varejo”, diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, chamando atenção para o “tom muito dovish” do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em teleconferência pela manhã, na qual “reforçou o compromisso da autoridade monetária em oferecer fluxo de crédito, que é a principal preocupação do mercado neste momento.”

Com participação perto de 10% na composição da carteira teórica do Ibovespa, as ações da Petrobras são correlacionadas ao Brent, a referência global que hoje, no vencimento para junho, fechou em baixa de 8,94%, ou US$ 2,51, a US$ 25,57 por barril. A queda livre do contrato para maio do WTI, a referência americana, assim como forte depreciação do contrato para junho, refletiu o “esgotamento de uma estratégia do presidente Donald Trump de comprar e estocar o petróleo disponível para dar alguma sustentação aos preços”, observa Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, em atuação que se impôs aos EUA desde que a Arábia Saudita anunciou, no início de março, descontos e aumento da oferta quando a demanda global já estava colocada em dúvida pela pandemia do novo coronavírus.

Mesmo que neste mês tenha se chegado a acordo na Opep+ quanto ao nível de oferta, o estrago já estava feito, diz Arbetman, na medida em que a demanda americana segue enfraquecida pelo “lockdown” – a suspensão de atividades não essenciais em grande parte do país. Enquanto a reabertura da economia americana segue como um plano de intenções distribuído por três fases, a perspectiva de recuperação da referência americana de petróleo permanece incerta. Hoje, o principal assessor econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, disse que a intenção do governo é iniciar a reabertura em 1º de maio, se as condições médico-sanitárias assim permitirem.

Além do vencimento de opções sobre ações nesta segunda-feira, que contribuiu para que tanto a ON como a PN de Petrobras mostrassem resiliência na sessão, o fato de a receita da petrolífera brasileira ter mais exposição ao consumo doméstico do que à demanda externa também ajuda a entender o comportamento, no mesmo dia em que a empresa anunciou novo corte de preços nas refinarias este ano. “Na Petrobras, 70% da receita vem do mercado doméstico e 30% do externo, dos quais dois terços correspondem à demanda da China, que há duas semanas voltou a comprar, com a reabertura de sua economia depois do coronavírus, embora ainda não nos mesmos níveis de antes”, aponta Arbetman, acrescentando que a recuperação da economia chinesa parece se desenhar em forma de V.