10/07/2014 - 15:09
As preocupações com o Grupo Espírito Santo (GES) e, principalmente, com o principal credor de Portugal, o Banco Espírito Santo (BES), pesaram sobre as ações do setor financeiro em toda a Europa, levando as bolsas da região a fecharem em quedas acentuadas nesta quinta-feira, 10. A tendência de baixa também foi direcionada pela decepção com indicadores da França e Itália, que alimentaram temores sobre a situação da indústria no continente. O índice pan-europeu Stoxx 600 perdeu 1,06%, aos 336,37 pontos, marcando o quinto dia seguido de recuos.
Desde maio, as irregularidades descobertas nas contas de companhias controladoras do BES vêm pressionando a bolsa de Lisboa. A situação agravou-se após a notícia publicada ontem de que o Espírito Santo International (ESI) atrasou pagamentos de cupons relativos a alguns títulos de dívida de curto prazo. Em reação, o regulador dos mercados portugueses suspendeu hoje os negócios com ações do BES e da holding financeira Espírito Santo Financial Group (ESFG), cujas ações caíam 17,24% e 8,85%, respectivamente, antes da determinação.
Outro alvo desta crise são as ações da Portugal Telecom (PT), que está em processo de fusão com a Oi. A PT informou recentemente que fez um investimento de 897 milhões de euros (R$ 2,7 bilhões) em papel comercial da Rioforte, companhia em dificuldade financeira do Grupo Espírito Santo, que, por sua vez, é dono de 10,05% da operadora. Esta exposição tem castigado os papéis da PT, que hoje caíram 6,80%, renovando mínimas históricas durante o pregão. Com isso, o índice PSI-20, de Lisboa, encerrou o dia com perda de 4,18%, aos 6.105,24 pontos, a maior queda desde julho de 2013 e o nível mais baixo de fechamento desde outubro.
A repercussão na turbulência portuguesa se estendeu a toda a Europa. As ações listadas em Londres do Barclays caíram 1,65%, enquanto, em Frankfurt, as perdas dos papéis do Commerzbank e Deutsche Bank ficaram em 2,29% e 1,94%, respectivamente. Em Paris, as ações do BNP Paribas perderam 1,40% e do Société General, -2,15%.
“O incidente atingiu os mercados financeiros da Europa como um torpedo e relembrou os investidores de seus piores pesadelos” sobre o continente, disse o chefe de estratégia em ações do Saxo Bank, Peter Garnry. Analistas mencionaram que grande parte da resposta negativa nas bolsas se deu por medo de um possível contágio e preocupações com a situação do sistema bancário dos países da Europa periférica. Contudo, muitos alertaram que a reação pode ter sido exagerada.
Na capital francesa, o índice CAC-40 recuou 1,34%, para 4.301,26 pontos. Em Frankfurt, a baixa no índice DAX foi de 1,52%, aos 9.659,13 pontos. Entre os piores resultados, o índice milanês FTSE Mib cedeu 1,90%, aos 20.488,75 pontos, e o índice madrilenho caiu 1,98%, aos 10.533,60 pontos.
A aversão por risco foi intensificada pelos indicadores decepcionantes da Europa conhecidos mais cedo. A produção industrial da Itália registrou queda de 1,8% em maio ante o mesmo período do ano anterior, contrariando a expectativa de alta de 1,2%. O indicador semelhante da França seguiu o mesmo caminho, com uma baixa mensal de 1,7% em maio, em comparação com estimativa de ganho de 0,1%. Ambos os números alimentaram ainda mais as preocupações com o setor no continente, depois que indicadores do Reino Unido e da Alemanha também decepcionaram.
Além disso, números de comércio exterior da China e do Reino Unido ficaram aquém do esperado. O déficit comercial de bens britânico subiu para 9,2 bilhões de libras em maio, ante previsão de diminuição no saldo negativo, para 8,7 bilhões de libras. As exportações do gigante asiático tiveram alta anual de 7,2% em junho, frustrando a expectativa de aumento de 10,0%. O superávit comercial chinês foi de US$ 31,6 bilhões no mês passado e a projeção era de um saldo positivo consideravelmente maior, de US$ 36,9 bilhões. Devido aos resultados chineses, as ações da BHP Billiton PLC e da Rio Tinto cederam cerca de 1,4%, levando o índice FTSE-100, de Londres, a uma queda de 0,68%, aos 6.672,37 pontos.