Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) – Em discurso durante cerimônia do Dia do Combate à Corrupção, o presidente Jair Bolsonaro elevou nesta quinta-feira o tom e retornou aos ataques ao Supremo Tribunal Federal e adversários além de voltar a fazer ameaças de reação.

Em uma fala de cerca de meia hora, Bolsonaro afirmou que parlamentares não poderiam ser presos, que seu então ministro da Justiça Sergio Moro –hoje pré-candidato a Presidência e que o presidente não citou nominalmente– não se empenhou na investigação sobre a facada que levou na campanha de 2018 e reclamou que querem limitar o uso das redes sociais.

Na plateia do evento, chamado para comemorar o combate à corrupção, estava o deputado Daniel Silveira, que ficou sete meses preso por ataques e ameaças à democracia e ao STF. Sem citar o nome de Silveira, Bolsonaro disse que “doeu” seu coração ver o “colega” preso

“Temos aqui um parlamentar que ficou sete meses preso. Se coloque no lugar dele. Muitos dizem ‘não toca no assunto, não se meta’. Não estou me metendo, estou defendendo a liberdade, a Constituição. Ninguém pode interpretar a Constituição como bem entender”, disse, acrescentando que “não tem cabimento” prender um parlamentar.

“Doeu no meu coração ver um colega preso? Doeu. Mas o que fazer? Será que queriam que eu tomasse medidas extremadas? Como é que ficaria o Brasil perante o mundo? Possíveis barreiras comerciais, problemas internos. Nós vamos continuar dentro das quatro linhas da Constituição”, completou.

No dia anterior, em entrevista a um programa de um canal de comunicação do Paraná, Bolsonaro já havia voltado aos ataques ao STF e às ameaças veladas. Chamou de abuso a prisão de bolsonaristas como o caminhoneiro Zé Trovão e o ex-presidente do PTB Roberto Jefferson e ameaçou, de novo, sair das “quatro linhas da Constituição”.

“Tudo tem um limite. Eu jogo dentro das quatro linhas e quem for jogar fora das quatro linhas não vai ter o beneplácito da lei. Se quiser jogar fora das quatro linhas, eu jogo também. Não pretendo fazer isso, não é ameaça para ninguém, mas que cada uma dessas pessoas façam um juízo da sua consciência, do que está fazendo”, disse ao programa.

No discurso desta quinta, Bolsonaro ainda atacou, sem citar nomes, os seus principais rivais na disputa pela Presidência na eleição do ano que vem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Moro.

Acusou o ex-ministro de não ter tido boa vontade para investigar a facada que tomou em 2018, durante a campanha –a Polícia Federal, em duas investigações, concluiu que Adélio Bispo agiu sozinho–, de não ter “mostrado serviço” e só ter “feito intrigas”.

“Infelizmente algumas pessoas têm que ser mudadas porque fraquejam ou são cooptadas pelo sistema”, disse.

Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, mas sendo derrotado em todos os cenários e com Moro avançando em cima de parte de seus eleitores, Bolsonaro revelou o temor de ficar, nas eleições, sem o seu principal meio de campanha, as mídias sociais.

“Mandamos uma Medida Provisória para tratar das mídias sociais, copiando artigos da Constituição. Foi devolvido. Nosso alcance diminui cada vez mais. Que país é esse? Onde estamos indo?”, afirmou, reclamando ainda que não pode falar de hidroxicloroquina, medicamento defendido por ele mas que já foi provado ineficaz contra Covid-19, ou tem posts retirados.

Citou, ainda, a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) de abrir inquérito sobre uma live em que relacionou, sem evidências e de forma errônea, as vacinas contra Covid-19 a casos de Aids.

“Será que vão querer bloquear minhas mídias sociais, a mídia social que mais interage no mundo? Vão querer quebrar uma perna minha? Isso é democracia? Não é. Isso é jogar fora das quatro linhas. Nós queremos respeito, mais que isso, exigimos”, disse.

Bolsonaro baseou praticamente toda sua campanha em 2018 no uso de redes sociais. No entanto, de lá para cá a Justiça e as próprias plataformas têm aumentado o controle sobre a difusão de notícias falsas, o que tem obrigado o presidente a restringir algumas falas ou migrar para plataformas com menor alcance e menos controle.

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