08/06/2011 - 21:00
O cientista inglês James Lovelock, guru na área de energias limpas, previu há quase dez anos que a energia nuclear seria, nos dias de hoje, a solução para os desafios energéticos do mundo. Lovelock errou. Após o efeito dominó causado pelo terremoto e o consequente vazamento da usina de Fukushima, no Japão, o desafio agora é como acabar com esse tipo de energia.
Nos últimos dias, governos dos cinco continentes vieram a público afirmar que a geração de eletricidade nuclear está fadada ao fracasso.
A chanceler alemã Angela Merkel foi a mais enfática: até 2022, as 17 usinas atômicas do país serão desativadas. “Não podemos esperar que o pior aconteça para tomar, depois, a iniciativa”, disse ela. O desafio é gigantesco. A Alemanha é a maior economia da Europa e 22% de sua matriz energética é nuclear. “Teremos, a qualquer custo, uma energia mais segura.”
A decisão do governo alemão logo se alastrou pelo mundo. No Brasil, o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, na quarta-feira 1º, disse que o governo está reavaliando a construção de quatro usinas nucleares no País. Lobão não descartou a possibilidade de cancelar parte do projeto nuclear brasileiro. O Brasil tem atualmente duas usinas em funcionamento e uma terceira em fase de construção.Outras quatro estavam previstas para serem construídas nos próximos anos. “Não dependemos dessa fonte de energia, então, vamos priorizar aquilo que for mais seguro”, afirmou Lobão.
A chanceler Angela Merkel: decisão alemã de desativar usinas nucleares reverbera no Brasil
Na França, o presidente Nicolas Sarkozy garantiu que o país ampliará os investimentos em novas fontes de geração de energia nos próximos anos, a fim de reduzir a excessiva dependência da atômica – hoje, cerca de 80% da matriz energética francesa é nuclear. Postura semelhante à de Sarkozy foi adotada em diversos países, da Austrália à Coreia do Sul e ao Canadá, uma reviravolta que anima o setor de energias limpas e seguras. “Trata-se de um caminho sem volta”, disse Charles Lenzi, presidente da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa (Abragel). “O mundo se deu conta de que energia hidrelétrica, eólica ou outras fontes seguras devem ser prioridade máxima.”
As águas vão rolar
O Ibama libera a licença que faltava para o início das obras da polêmica Belo Monte, no Pará, que será a terceira maior hidrelétrica do mundo
Enquanto o governo discute os rumos do programa nuclear, um passo importante para a expansão da matriz hidrelétrica foi dado na semana passada. A Usina de Belo Monte, no Pará, recebeu, na quarta-feira 1º, sinal verde do Ibama – a última autorização necessária ao início das obras. Será o maior empreendimento hidrelétrico em construção no mundo, e o terceiro em potencial de geração, atrás apenas de Três Gargantas, na China, e de Itaipu, na fronteira Brasil-Paraguai. O custo total é estimado em R$ 30 bilhões.
A emissão das licenças para a construção da usina – em discussão há 30 anos – não significa, no entanto, um final feliz para a polêmica novela de Belo Monte, que já foi palco de disputas políticas, embates entre empreiteiras e até levantes indígenas. Antes do início da operação, os responsáveis pela obra precisarão vencer a resistência de ONGs, como a Anistia Internacional, que pregam a suspensão de Belo Monte para garantir os direitos da comunidade indígena da região.
E, de quebra, redesenhar o acordo entre os sócios do consórcio Norte Energia, que ganhou o leilão para construir Belo Monte: eram 18 sócios, mas sete pediram já para sair. Para viabilizar o investimento é preciso encontrar novos parceiros. A usina, quando pronta, vai gerar 11.233 MW de potência, dando conta da expectativa de aumento do consumo de energia até 2021.