16/10/2015 - 15:34
Delegações de todo o mundo voltarão nesta segunda-feira a Bonn, na Alemanha, para uma última semana de negociações antes da Conferência do Clima de Paris (COP21), com o intuito de reduzir a distância que as separa de um acordo para limitar o aquecimento global.
“O fato de fundo, o que me parece essencial e me torna otimista, é que quase todo mundo aceitou o fato de que o preço da inação é mais elevado que o custo de uma intervenção decidida agora”, declarou na quinta-feira o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que se mostrou preocupado com a lentidão do processo de negociação.
O desafio não tem precedentes: ratificar por consenso o princípio de uma transição energética a nível mundial para afastar-se das energias fósseis. Um passo que supõe afrontar vários interesses industriais e estatais.
Os 195 países que negociam o futuro acordo encaram outro obstáculo: garantir financiamento para as nações em desenvolvimento, sobretudo os mais pobres, com o intuito de ajudá-los a preferir as energias limpas e a adaptar-se às consequências do aquecimento global (infraestruturas, segurança alimentar, abastecimento de água, etc.).
Diante de uma alta na temperatura média do planeta de 0,8ºC desde a era pré-industrial – que já se traduz por uma redução das geleiras e uma acidificação dos oceanos – a comunidade internacional quer limitar o aquecimento global em 2ºC para evitar impactos dramáticos.
Quase 150 países, que representam cerca de 90% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, publicaram seus objetivos para reduzir este número. Mas este compromisso só limitariam a alta das temperaturas a 3ºC.
“Continuamos longe dos 2ºC, os países terão que revisar suas propostas de hoje a 2020, data da entrada em vigor do futuro acordo de Paris”, garantiu Celia Gautier, da rede Ação Clima, um conjunto de 900 ONGs.
Etiópia, Marrocos ou Costa Rica têm objetivos considerados ambiciosos, ao contrário dos “maus alunos”: Canadá, Austrália, Rússia, Japão ou Turquia, e os países do Golfo que ainda não anunciaram objetivos pós-2020.
A situação mudou desde a conferência de Copenhague em 2009, e a China, primeiro emissor mundial de gases de efeito estufa (25%), “faz sua parte do trabalho e envia bons sinais”, com um desenvolvimento massivo de energias renováveis e investimentos, afirmam as ONGs.
Embora o esforço global continue sendo insuficiente, Laurence Tubiana, a negociadora francesa, considera que foi iniciado um movimento de fundo. Ter tanto objetivos nacionais, que implicam uma previsão da produção e do consumo de energia futuros é “inédito”, segundo ela.
Paralelamente aos compromissos de casa país, o texto debatido em Bonn, sede da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, tenta estabelecer um marco geral.
Trata-se de incluir o aumento de 2ºC num objetivo a longo prazo para avançar rumo à descarbonização da economia, e prever mecanismos para revistar com regularidade os compromissos dos países e conseguir financiamento para os países mais pobres.