No final da década de 90, ao decidir transformar sua paixão por vinhos em negócio, o empresário Manoel Dilor de Freitas adquiriu uma propriedade entre os núcleos urbanos de Bom Retiro e Urubici, na Serra Catarinense. Começava ali o pioneiro plantio de vinhedos de altitude no País. A área de 800 hectares, repleta de matas, araucárias, lagos e picos que se elevam a até 1,8 mil metros sobre o nível do mar, materializou um sonho decantado ao longo de anos por Dilor de Freitas, que morreu em decorrência de um infarto em 2004. Além de empresas do setor ceramista, ele deixou como parte de seu legado a Villa Francioni, em São Joaquim, principal referência do vinho catarinense.

Hoje, a vinícola pertence a suas filhas e genros. Já o filho João Paulo e o neto Abner estão à frente da expansão do empreendimento que deu origem a tudo: a Fazenda Bom Retiro, onde 23 hectares de vinhedos plantados a partir de 1998 convivem com um megaprojeto de turismo enogastronômico e de desenvolvimento imobiliário.

“Minha família vem de uma tradição na indústria, mas meu avô decidiu apostar nesse ramo, ter uma nova atividade”, afirmou Abner de Freitas à DINHEIRO. “Ele era apaixonado pela Toscana, na Itália, e vislumbrou a similaridade da geografia e do terroir dessas duas regiões.” A Serra Catarinense costuma registrar temperaturas abaixo de zero no inverno e é um dos poucos locais onde neva no Brasil.

A natureza privilegiada da Serra Catarinense
A natureza privilegiada da Serra Catarinense

Fundador da Cecrisa Revestimentos Cerâmicos, ainda nos anos 60, e mais tarde da Cerâmica Portinari, ambas controladas pela Duratex desde 2018, Dilor de Freitas construiu a Villa Francioni em 2001.

Àquela época, toda a matéria-prima era cultivada na Fazenda Bom Retiro. Lá são colhidas também as uvas que dão origem aos rótulos da Vinícola Thera, criada em 2013 e reconhecida por inúmeros prêmios e altas pontuações dentro e fora do País. “A vinificação ainda é feita na Villa Francioni, mas só até inaugurarmos a nossa vinícola, em outubro deste ano”, disse Abner.

A vista das cabanas, algumas com banheira e varanda
A piscina: capricho nos detalhes é um dos pontos altos do empreendimento

Nova vinícola

Será uma planta de 2,5 mil m2 de área construída e capacidade para 300 mil garrafas por ano, sendo dois terços de vinhos próprios e o restante de terceiros, já que existem outros produtores de uva na região. “Todo o projeto foi pensado para favorecer a experiência do turista. Teremos três salas de degustações e uma área VIP dentro da sala de barricas que será toda envidraçada”, afirmou.

“Um novo espaço enogastronômico terá aproximadamente 210 lugares, com vista para os vinhedos”. Há cerca de dez meses, um incêndio de causa desconhecida destruiu o winebar que chegava a receber 30 mil visitantes por ano na Fazenda Bom Retiro.

Com a nova operação, a expectativa é aumentar o fluxo de pessoas em até 50%.

A Vinícola Thera, cujo nome homenageia a avó paterna de Abner, Therezinha, foi criada após a divisão dos ativos da família Freitas, há dez anos. Além do patrimônio, o patriarca transmitiu aos herdeiros sua paixão pelo vinho.

Hoje sócio-diretor da Thera, Abner tinha 18 anos e morava em Paris quando o avô decidiu levar toda a família para visitar algumas das mais renomadas regiões produtoras da França. “Ele alugou um ônibus e colocou todos nós, meus pais, meu irmão, meus tios com os filhos deles. Foi maravilhoso”, disse. “Eu sempre tive interesse pela gastronomia, que vem da minha avó materna, italiana, que fez a vida dela basicamente dentro de um restaurante. Mas o momento marcante que despertou meu interesse para o vinho foi aquela viagem com a família.”

Opus One

Antes de criar a Thera, João Paulo e Abner aprenderam muito com os erros e acertos da Villa Francioni, que chegou a ter consultoria do enólogo responsável pelo Opus One, um dos grandes vinhos da Califórnia, criado por meio de uma joint venture de Robert Mondavi e da família Rothschild.

Comprometidos com a excelência, pai e filho colocaram o vinho catarinense em um novo patamar.

A Thera produz três linhas de espumantes, além de brancos, rosados e tintos de alta qualidade, com uso moderado de barricas e bom equilíbrio entre a acidez e o álcool.

A vista das cabanas, algumas com banheira e varanda
A vista das cabanas, algumas com banheira e varanda

Complexo turístico tem vinho como pilar

A rápida aceitação da marca fez de seus produtos o vetor para a expansão dos negócios. “A gente elegeu um tripé conceitual: vinho, arte e natureza”, disse Abner. “O vinho é o pilar central de tudo que planejamos, é a alma do negócio, a música do baile.”

Sobre esse tripé conceitual foi construído um complexo turístico que contempla pousada, restaurante e áreas de lazer e um residencial com 83 lotes distribuídos ao logo de 38 hectares.

Ainda virão um museu do vinho, um art park com anfiteatro ao ar livre, um hotel spa, um borgo (vila, em italiano) com áreas de hospedagem, comércio e convivência. Tudo pensado como um ecossistema a partir de um masterplan. “Meu pai conheceu um grande arquiteto italiano, o Marco Casamonti, que se tornou nosso consultor”, disse Abner. “Enviamos fotos da propriedade, ele se encantou e desenvolveu um plano de ação.”

O ponto de partida foi a pousada, inicialmente com oito suítes e já ampliada para 18. Os hóspedes têm à disposição um restaurante de alta gastronomia, lounges interno e externo, academia, sauna e piscinas.

Há opções de passeio a cavalo, trilhas, piqueniques nos parreirais e degustações dos rótulos Thera. O art park, ainda em fase embrionária, teve inspiração no Inhotim, de Brumadinho (MG).

Em 2020, o executivo Thiago Mendes foi contratado para desenvolver e planejar a comercialização do segmento imobiliário.

“É o primeiro condomínio residencial dentro de uma vinícola lançado no Brasil.”
Executivo Thiago Mendes

“Existem outras iniciativas, mas estão em projeto. O nosso já está funcional, com toda a infraestrutura pronta, vias internas asfaltadas, saneamento, rede elétrica e fibra óptica instalada.”

Duas residências já foram construídas por sócios investidores e outras cinco estão em fase de aprovação. Com preço de R$ 1 mil o metro quadrado, cada lote sai por cerca de R$ 2 milhões. “Com a vantagem de ter um quintal de 800 hectares, com vinhedos e vinícola”, afirmou Mendes.

Há ainda a opção de casas prontas, que serão erguidas em lotes de frente para os lagos. “Serão oito casas com quatro tipologias, de 680m2 a 860m2 e até cinco suítes”, disse Abner de Freitas. Um local para relaxar em um clima único, com paisagem bucólica e ótimos vinhos feitos ali mesmo.