Com o consumidor desligando os aparelhos da tomada para economizar a energia do ?reloginho?, o lançamento de um novo modelo de refrigerador a R$ 1.500, bem acima da média do mercado, poderia parecer uma estratégia suicida. Não para a BSH, empresa alemã dona das marcas Bosch, Continental e Metal Frio. A Bosch acaba de desenvolver, a um custo de R$ 18 milhões, uma geladeira frost free de alto padrão e baixíssimo consumo de energia ? classificação A do selo Procel. ?A crise trouxe novas oportunidades?, afirma Bernhard Schuster, presidente da BSH para América Latina. A empresa agora está se voltando para o segmento top de mercado. Não deixa de ser uma alternativa para alavancar as vendas de eletrodomésticos, que sofreram enormes quedas com o racionamento. Os produtos frost free representam 20% do mercado nacional de refrigeradores em número de unidades e 35% em faturamento.

?Com a alta do dólar, aquelas pessoas que viajavam para o exterior e compravam geladeiras de US$ 4 mil vão buscar alternativas no Brasil?, afirma Schuster, que apesar de ter chegado no Brasil há um ano fala português com bastante desenvoltura. Desenvolvido na unidade de Hortolândia, cidade do interior de São Paulo, com tecnologia alemã e um sistema exclusivo de refrigeração nas portas, o novo produto é destinado ao mercado doméstico. Mas 30% da produção ganhará os mercados da América Latina, Europa e Ásia. Essa expressiva participação das exportações na receita da BSH tem ajudado a equilibrar as contas da empresa, compensando as perdas decorrentes da crise energética.

A perspectiva de apagão representou um duro golpe no setor de eletrodomésticos, que no início do ano vinha tentando despertar de quatro anos de hibernação. As vendas de fornos de microondas, ar-condicionados e freezers registraram quedas de até 50%. Na BSH, a divisão mais afetada foi a Metal Frio, fabricante de freezers para empresas de bebidas e alimentos, que chegou a demitir 70 funcionários. Agora, a empresa aposta pesado nas vendas
de Natal de geladeiras mais sofisticadas e de baixo consumo de energia para crescer. Só em marketing, a BSH irá desembolsar
R$ 4 milhões. Bastante para uma empresa que está há seis anos fora da mídia eletrônica.

Confiança. Dona de um faturamento de US$ 5,6 bilhões, a BSH (uma fusão das empresas Bosch e Siemens para o setor de eletrodomésticos) é líder de mercado na Alemanha e na Europa. Chegou no Brasil em 1994, com a aquisição das marcas Continental e Metal Frio, e já conquistou a terceira posição, com 17% de participação. No segmento específico de refrigeradores, no qual a empresa atua desde 1997, a participação é menor: 10%. Mas as expectativas em relação aos novos refrigeradores frost free da marca Bosch são mais ambiciosas: 20%. ?Viemos ao Brasil para ficar e estamos confiantes de que a situação vai melhorar?, afirma o executivo. ?Quem não estiver preparado para a era pós-crise energética não terá condições de colher as oportunidades.?