Se lhe perguntarem o nome das sub-variantes da Covid-19 em circulação atualmente, o mais certo é que gagueje e que que diga uma série de letras e números que se consiga lembrar. A variante da Covid-19 mais predominante é a Ômicron, com a linhagem BA.5 a ser a mais recorrente, com outras linhagens como a BA.4, BA.4 e BA.2 em circulação em menor volume.

Mas, agora, há novas sub-variantes da Ômicron que potencialmente se tornarão nas estirpes dominantes: a BQ.1, a BQ.1.1, a BF.7 ou a XBB, esta última que já foi detectada em 35 países. Também o Centro Europeu para a Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) está monitorando uma variante ainda com mais números: a B.1.1.529.

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Mas o que explica estes nomes confusos e cheios de letras e números, aparentemente aleatórios, que parece uma mudança relativamente aos nomes anteriores? Esta ‘sopa de letras’ seguiu-se ao estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que instituiu em maio de 2021 que as variantes da Covid-19 seriam designadas seguindo o alfabeto grego. Depois da Alpha, verificou-se a Beta, a Gamma, a Delta e, finalmente, a Ômicron.

O sistema de letras gregas não substituiu outros de dar nomes científicos – responsáveis por ‘etiquetas’ como BA.5 ou XBB – , já que a ideia era simplificar a comunicação ao público sobre as variantes virais mais importantes.

A OMS dá o nome de uma nova letra quando a variante da Covid-19 em causa é significativamente diferente da anterior. No último ano o que se tem verificado são sub-linhagens da variante Omicron e não uma versão totalmente nova do SARS-CoV-2, pelo que ainda não houve uma variante Pi da doença (seria a próxima letra no alfabeto grego).

“O que o público em geral precisa saber e o que cada variante lhe diz em termos de risco. Daremos novos nomes, com letras do alfabeto grego, a estas variantes quando forem substancialmente diferentes umas das outras” em termos de severidade, evasão à imunidade ou transmissibilidade, explica Maria Van Kerkhove, responsável técnica da Covid-19 na OMS, em declarações à revista Time.

Mas alguns especialistas argumentam que os nomes das subvariantes também têm implicações no público em geral. Peter Hotez, médico e codiretor do Centro de Desenvolvimento de Vacinas do Hospital Infantil do Texas, nos EUA, considera que estas sub-variantes ‘Scrabble’ (porque os nomes parecem que saíram do famoso jogo de tabuleiro) vêm confundir a população e exemplifica: As vacinas ‘bivalentes’ contra a Covid-19 foram formuladas para as sub-variantes BA.4 e BA.5 mas, como a BQ.1, a BQ.1.1 são ‘descendentes’ da BA.5, estas vacinas também protegem contra as novas sub-variantes, algo que o público em geral não conseguiria inferir só através do nome.

T. Ryan Gregory, professor de Biologia Integrativa da Universidade de Guelph, no Canadá, explica que a letras das novas sub-variantes são muito importantes porque são a forma de os cientistas comunicarem entre si a informação sobre o que mudou no vírus, como este evoluiu ou se transformou. O responsável adianta, no entanto, que deveram ser criados nomes não-oficiais mais comuns para as sub-variantes como “Cerberus”, “Tufão” ou “Grifo”. Peter Hotez sugere que, se não se justifica nomear uma nova variante com outra letra, deveriam ser criados nomes como ‘Omicron 1’ ou ‘Omicron 2’ e daí por diante. O problema é que existem atualmente mais de 300 sub-linhagens da variante Omicron da Covid-19 a ser analisadas.

Segundo Maria Van Kerkhove, a OMS está trabalhando em “métodos mais robustos” para aferir quando é que uma variante da Covid-19 deve ter um nome diferente, com um foco particular na forma como consegue ‘escapar’ à imunidade existente no organismo. “O ‘salto da Delta para a Omicron foi muito dramático, por isso foi fácil dar-lhe um novo nome. Mas, agora, o vírus está sofrendo mutações mais sutís, por isso é uma decisão mais complicada”, adianta a responsável da OMS.