Surpresa. Essa era a sensação no mercado financeiro ao comentar a saída, anunciada no fim da tarde, de Júlio de Siqueira Carvalho de Araújo, vice-presidente executivo do Bradesco. O comunicado oficial do banco informou que a decisão “tem caráter irrevogável e foi motivada por razões pessoais”. A maior surpresa, porém, vinha na frase seguinte: “suas atribuições serão ocupadas interinamente pelo vice-presidente executivo Alexandre Gluher”. Julinho, como é conhecido no mercado, era responsável pelas áreas de Controladoria, Relações com o Mercado, Recursos Humanos, Organização & Métodos e Patrimônio.

A saída difere da coreografia tradicional. No Bradesco, as palavras “interino” e “sucessão” raramente freqüentam os mesmos comunicados. “Mudanças no primeiro escalão são planejadas com um ou dois anos de antecedência, de modo a preparar o sucessor não só para a função, mas para apresenta-lo formalmente à cúpula da organização”, diz um profissional com conhecimento da casa. “É parte da liturgia, para aparar eventuais arestas.”

A saída difere da coreografia tradicional. Com largo tempo de casa, Araújo integrou-se ao Bradesco em 1997, vindo do BCN, adquirido naquele ano. Pelas contas do mercado, o executivo estava a um ou dois anos da aposentadoria compulsória, aos 62 anos. “Na compulsória, os executivos que se aposentam costumam levar um caminhão de benefícios, e antecipar a saída não costuma fazer sentido”, diz um ex-bradescano.

Araújo foi uma peça crucial nas mudanças introduzidas no Bradesco após a compra do BCN. A aquisição, a primeira em quase duas décadas, injetou uma cultura nova e agressiva na sede da Cidade de Deus, capitaneada por Márcio Cypriano, que presidiu o banco entre 1999 e 2010, após chefiar o comprado BCN. Ao assumir a presidência, Cypriano trouxe Araújo da tesouraria do BCN. O executivo modernizou a tesouraria do Bradesco, transformando-a em uma das mais rentáveis do sistema bancário. “Ele juntava a pontaria que tinha no BCN com a munição do Bradesco, e fazia um estrago danado na concorrência”, diz um experiente tesoureiro.

A substituição de Cypriano por Luiz Carlos Trabuco Cappi, em 2010, porém, reduziu o espaço dos executivos trazidos do BCN. José Acar Pedro, por exemplo, que sucedeu Cypriano no BCN em 1999 e era cotado para sucede-lo também no Bradesco, acabou deixando o banco em 2010, rumo ao PanAmericano. Araújo era um dos últimos remanescentes do BCN na cúpula do Bradesco. Procurado, o banco não fez comentários.