Na manhã da segunda-feira 3, Arnaldo Vieira, o vice-presidente responsável pela área de cartões de crédito do Bradesco, era um brasileiro tão atormentado como qualquer outro pela derrota da Seleção na Copa, dois dias antes. ?Foi uma coisa inacreditável. Não havia liderança?, lamentava o executivo em uma sala de reuniões na sede do maior banco privado do País. Vieira está, ele próprio, na posição de líder de uma missão desafiadora na organização. Com o aval do Banco Central à aquisição da American Express pelo banco, anunciado no último dia 30, cabe a ele comandar a equipe que integrará as duas operações. Como no caso de Parreira, seu desafio é fazer uma das marcas de maior prestígio no mundo render tudo o que pode. Vieira, porém, nem cogita ver a Amex repetir, em suas mãos, o fiasco dos Ronaldos e companhia. Para contar uma história diferente, de sucesso, sabe que só não pode inventar moda. ?Num primeiro momento, não muda nada?, diz ele. A tese é a de que este cartão já é objeto de desejo do consumidor brasileiro de alta renda. Portanto, a prioridade é manter a qualidade do produto e dos serviços.

Há, no entanto, algo a melhorar. A escassez de pontos-de-venda que aceitam o famoso cartão com a figura do centurião é historicamente a principal fragilidade percebida na estratégia da Amex para o País. São apenas 120 mil estabelecimentos, contra cerca de 900 mil da Mastercard e da Visa. Por isso, não é raro encontrar clientes American Express ? cujo gasto mensal médio é de R$ 900, ante R$ 170 nas demais bandeiras ? usando mais o cartão no Exterior do que no Brasil. Uma pesquisa feita pelo Bradesco com clientes da Amex revelou que a aceitação relativamente baixa do cartão é a principal reclamação dos usuários. ?Por isso, vamos aumentar a rede Amex em, no mínimo, 50% ao longo de três ou quatro anos?, revela Vieira. Se a ampliação já é necessária com a atual base de 1,2 milhão de cartões da Amex, será fator crítico de crescimento nos próximos meses, quando o banco começar a oferecer os cartões Centurion aos clientes do Prime, seu serviço para o público de renda mais alta.

Vieira, vice-presidente:meta é aumentar a rede Amex em 50% nos próximos três ou quatro anos.

De acordo com Vieira, 100% do time de funcionários da American Express será mantido. Pelo menos por ora, a dança das cadeiras resume-se a dois nomes. O atual diretor do Departamento de Cartões do Bradesco, Marcelo Noronha, vai comandar a operação da American Express, em substituição a Hélio Magalhães, o presidente da companhia no País. Magalhães, por sua vez, vai prestar consultoria ao Bradesco por 90 dias, antes de ser realocado pela multinacional. O Bradesco garante que só pretende pensar em sinergias num segundo momento, ainda sem data para se materializar. De acordo com Vieira, a principal razão para o investimento de US$ 468 milhões que o banco fez na Amex foi a intenção de obter um diferencial importante para a acirrada disputa pela clientela de alta renda ? e não a aposta numa fusão para enxugar estruturas e reduzir custos. Por isso, as duas operações serão mantidas independentes, até mesmo fisicamente ? cartões Bradesco na sede do banco, em Osasco, e American Express no QG do Centro Empresarial, na Zona Sul de São Paulo. ?Em outras circunstâncias, poderíamos enxugar o back office (retaguarda operacional), mas no caso da Amex até o call center é o estado da arte?, diz Vieira. O posicionamento da marca, propositadamente elitista, também será mantido como está. E não há planos de introduzir o logotipo do Bradesco nos plásticos da bandeira. Mais do que nunca, vale a máxima futebolística: em time que ganha, não se mexe.

BRADESCO
US$ 468 milhões
foi a quantia paga pelo banco na compra das operações
brasileiras da Amex.

AMEX
R$ 900
é o gasto mensal médio do cliente American Express, contra R$ 170 nas rivais Visa e Mastercard.