Por Angelo Verotti

O mercado financeiro brasileiro se agitou na quinta-feira (23) com o anúncio do Bradesco da indicação de Marcelo de Araújo Noronha para o posto de presidente do banco, o segundo maior privado do País, em substituição a Octavio de Lazari Junior, que assumiu o cargo em 2018.

O agora ex-presidente Lazari será designado a um posto no Conselho de Administração. Noronha tem longa trajetória no mercado financeiro e na instituição. Ele será o sexto presidente da história do Bradesco ­— que teve na cadeira Amador Aguiar, que fundou a instituição em 1943 e a comandou até 1990; Lázaro de Mello Brandão (1990-1999), Márcio Artur Laurelli Cypriano (1999-2009); Luiz Carlos Trabuco Cappi (2009-2018), Lazari e, agora, Noronha.

“A mudança tem o propósito de iniciar um ciclo de projetos e objetivos estratégicos robustos para os próximos anos”, afirmou o hoje presidente do Conselho de Administração do banco, Trabuco.

“O contexto de mercado é absolutamente desafiador, do ponto de vista da eficiência operacional, aumento da competitividade e ambiente regulatório.”
Luiz Carlos Trabuco, presidente do Conselho de Administração do banco

A escolha de Noronha decorreu da vasta experiência profissional adquirida ao longo de mais de 38 anos no mercado financeiro, 20 dos quais dedicados à organização.

De acordo com nota da instituição, Noronha “ascendeu a todos os cargos da diretoria e vinha exercendo, nos últimos oito anos, o posto de diretor vice-presidente, cumulativo com outros que ocupa e continuará ocupando em empresas da organização.”

Em seu novo papel, terá a missão de fazer a tradicional instituição navegar pelos novos horizontes do mercado financeiro, com desafios cada vez mais disruptivos. “O momento representa um cenário propício para dar visão renovada aos movimentos necessários em direção aos objetivos colocados pelo Conselho de Administração do Bradesco”, afirmou em nota Trabuco.

CARREIRA

Noronha, 58, é atualmente vice-presidente do banco, posto assumido em 2015. O executivo iniciou a carreira bancária em 1985, no Recife. Transferiu-se para São Paulo em 1994 e, antes de ingressar no Bradesco, trabalhou na diretoria do Banco Bilbao Vizcaya Brasil até 2003.

Foi, também, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABECS), entre 2013 e 2017.

Formado em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco, Noronha tem especialização em finanças pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC) e Advanced Management Program (AMP) pelo Instituto de Estudios Empresariales (IESE) da Universidade de Navarra, Espanha.

Para o presidente do Conselho do Bradesco, “cada geração de executivos tem seu momento de maturação, ritos de passagem e patrimônios acumulados como legado”. Na visão de Trabuco, “Marcelo Noronha apresenta carreira consistente, sólida, e acreditamos que suas prerrogativas serão adequadas e compatíveis à conjuntura econômica e às exigências do mercado.”

Como novo presidente, Noronha disse que o Bradesco tem estrutura organizacional e cultura corporativa que oferecem os pilares centrais de uma gestão focada em resultados.

“O mercado é muito competitivo e exige múltiplas capacidades de todos nós. Com os pés no chão, tenho consciência da minha missão. E não será diferente desta vez”, afirmou ele por meio de nota oficial.

“Tenho visão plena das decisões relevantes que me aguardam, e o tamanho da carga das expectativas dos clientes, colaboradores e acionistas do Bradesco.”
Marcelo de Araújo Noronha, novo presidente do Bradesco

Depois de cinco anos como presidente do Bradesco, Lazari seguirá para o Conselho de Administração do banco, que viveu momentos difíceis com o escândalo Americanas

MOMENTO DESAFIADOR

A mudança no comando ocorre após um ano difícil para a instituição financeira. A alta da inadimplência afetou fortemente a base de clientes.

O Bradesco encerrou o terceiro trimestre com queda de 11,5% no lucro líquido recorrente sobre um ano antes, carteira de crédito estável e atingindo o pico da inadimplência dos últimos períodos, mas vendo os próximos trimestres como de recuperação na margem financeira.

Na divulgação dos resultados do terceiro trimestre, Lazari chegou a afirmar que o “pior ficou para trás”.

Um forte baque para a instituição ocorreu no escândalo Americanas. O Bradesco segue como um dos credores mais atingidos pelo caso. A rede varejista acusou este ano dívidas superiores a R$ 45 bilhões, após fraude nos balanços financeiros, e o imbróglio parece longe do fim.

Lazari, 60 anos, deixa o cargo após cinco anos, antes da idade limite (65 anos) determinada pelo estatuto do Bradesco para seus altos executivos e agora vai participar das decisões estratégicas de longo prazo no Conselho de Administração. No mercado acionário, a mudança foi bem recebida e as ações do banco valorizavam 3,75% às 14h da quinta-feira (23).