O empresário varejista Abilio Diniz deu a senha: o Brasil está em liquidação. Quem caça oportunidades pode comprar tudo muito barato. Uma verdade indiscutível após a desvalorização do real. E ainda mais visível a partir do agravamento da crise. Ela impôs dificuldades a empreendedores e abriu margem para a barganha de ativos. Nas últimas semanas movimentos de aquisição reforçaram a ideia de bons negócios em oferta. Os R$ 3,8 bilhões lançados pela multinacional de cosméticos Coty para a compra da divisão de beleza da brasileira Hypermarcas – levando assim as grifes Risqué, Monange e Bozzano – foram considerados uma pechincha diante do potencial de mercado do setor.

Basicamente disputado por gigantes nacionais como Natura, Boticário, Jequiti, entre outros, o segmento abre-se agora a uma maior competição internacional. Grupos brasileiros também estão querendo ampliar horizontes. O empresário Carlos Wizard não hesitou em pagar quase R$ 50 milhões pelas divisões de calçados Topper e Rainha, da Alpargatas. Quer virar o novo Midas da atividade. Muitos estão se posicionando à espera da retomada da economia interna. Quem está capitalizado ou enxerga adiante não vai ficar parado. E certamente sairá na frente dos adversários.

Beto Sicupira, que participa do triunvirato controlador da Inbev/Ambev, deu por esses dias uma mensagem inspiradora, que soa como conselho a qualquer empreendedor. Ele lembrou que “nem Dilma, nem Cunha” participam da empresa. Portanto ficar pelos cantos se lamuriando da crise e das estripulias políticas não leva a nada. É perda de tempo. Embora debilitado pela infindável lista de erros de gestão do Governo, o parque produtivo brasileiro é forte e de padrão global. Empresas como Petrobras, Vale do Rio Doce, Embraer, Friboi ou BRF possuem know how de sobra, escala e eficiência para competir.

São locomotivas que em um momento mais favorável devem puxar a economia. Para vencer no atual ambiente criatividade e prospecção viraram palavras mágicas. A ousadia está na natureza dos negócios e vários são os investidores que estão percebendo as chances de desengavetar projetos agora, quando a demanda está ainda em baixa e os competidores adormecidos. Analistas preveem que até 2018, depois do período recessivo que deve se estender até o ano que vem, o Brasil volta a ganhar ritmo de cruzeiro. E quem tiver se preparado vai lucrar e liderar o processo.

(Nota publicada na Edição 941 da Revista Dinheiro)