Ao olhar os números isolados das emissões de títulos verdes no Brasil, o leitor pode ter a impressão de que empresas e governo andam fazendo seu dever de casa. Desde a emissão do primeiro papel carimbado — em maio de 2015, no valor de US$ 549,45 milhões pela BRF — até hoje, o mercado cresceu 1.483% e acumula US$ 8,7 bilhões em emissões. Mas um olhar em perspectiva mostra que na verdade o País tem uma participação quase irrisória no mercado global.

Na soma de todos os países foram pouco mais de US$ 1 trilhão, na América Latina US$ 45 bilhões e nessa história o Brasil participou com 0,87% do total global. O Chile, com um PIB em torno de 20% do brasileiro e com parte do território coberto pelos Andes, é o primeiro emissor da região com US$ 9 bilhões.

De acordo com Jennifer James, gerente de Portfólio de Dívidas de Mercados Emergentes da Janus Henderson, empresa que acaba de publicar o relatório Descarbonização nos Mercados Emergentes, a responsabilidade pelos baixos investimentos estrangeiros é compartilhada. “As ambições políticas limitadas e a falta de financiamento do setor privado reduziram o progresso na descarbonização na América Latina, que poderia ser mais rápido”, afirmou. Para ela, o volume movimentado pelo Brasil não “chega nem perto” da quantia que precisa ser captada no caminho de “sua meta de ser carbono zero”. Prazo que vence em 2050.

Evandro Rodrigues

(Nota publicada na edição 1264 da Revista Dinheiro)