07/11/2017 - 18:19
O Brasil está atrasado na corrida tecnológica que caracteriza a nova era industrial, a chamada Indústria 4.0. Essa é a conclusão que pode ser tirada do encontro entre especialistas no debate organizado nesta terça-feira, 7, pela revista DINHEIRO.
Em outras corridas desenvolvimentistas, o País já ficou para trás. Importantes exemplos são a indústria eletrônica nos anos 1970, que hoje está concentrada no sudeste asiático, e o setor de desenvolvimento de softwares, entre os anos 1980 e 1990, que tem no Vale do Silício, nos Estados Unidos, os seus expoentes. A boa notícia é que, segundo os especialistas, ainda há tempo de o Brasil conquistar uma posição de destaque global na inovação industrial.
Mas, primeiramente, em um mundo interconectado e que a cada dia nascem novos produtos e serviços, o que é exatamente inovação na indústria? Segundo João Fernando Gomes de Oliveira, conselheiro da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), inovação é a capacidade de transformar conhecimento em negócios – quaisquer tipo de novidades que permitam uma empresa aumentar sua competitividade e alavancar suas receitas. E a forma correta de se fazer isso é, antes de tudo, detectar as necessidades e os problemas da indústria a serem resolvidos.
Aqui e ali, algumas iniciativas têm sido colocadas em prática. Entre elas, pode ser citada a própria criação da Embrapii, que busca ser para a indústria o que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foi para o agronegócio. O ritmo desses programas, no entanto, está aquém das necessidades brasileiras.
Para acelerar, segundo Rafael Lucchesi, diretor geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) da CNI, o tema precisa ser tratado como uma política pública, tal como inflação e taxa básica de juros. “Na política macroeconômica, a inovação fica estrangulada e reduz nossas ambições. Em países como Estados Unidos, Alemanha, Coréia do Sul e Japão, que estão liderando essa corrida, o traço comum é que essa agenda não se subordina à macroeconomia. A discussão sobre a construção de um futuro passa pela criação de riqueza”, afirma Lucchesi.
Ana Cristina Costa, chefe do departamento de Bens de Capital, Mobilidade e Defesa do BNDES, afirma que o governo federal vem implementando medidas para fomentar a inovação, como o Grupo de Trabalho da Indústria 4.0 (GTI 4.0), subordinado ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviço (Mdic). Porém, isso não tem sido suficiente. “O que outros países fazem é envolver a academia, o setor privado e o público. As instituições comuns de desenvolvimento, como as ICTs (Instituições de Ciência e Tecnologia) e os Senais, que têm conhecimento acumulado, precisam ser integrados às indústrias”, diz Ana Cristina.
Os especialistas contam que, devido às crises, política e econômica, vividas pelo Brasil nos últimos anos, muitas empresas cortaram gastos com pesquisa e desenvolvimento, asfixiando a inovação. O entendimento, no entanto, é que elas deveriam fazer exatamente o contrário: focar a inovação como uma forma de se distanciar dessa conjuntura negativa.
“O ideal é que durante uma crise, as empresas invistam ainda mais em inovação, em busca de produtividade. Isso é benéfico no longo prazo. O caso brasileiro, por outro lado, foi pior porque quando a crise apareceu, o Estado estava limitado em recursos. E só investindo forte e de maneira sistemática em inovação é possível sair rapidamente dessa situação”, diz Paulo Mól, superintendente nacional do Instituto Euvaldo Lodi (IEL).
Constantino Seixas Filho, managing director para América Latina da Accenture Industry, afirma que não é necessário investir grandes somas para inovar em momentos de crise. Muitos projetos podem trazer ganhos rápidos e ajudar a empresa a se levantar. “A inovação pode vir de projetos em gestão de recursos, melhorias em manutenção, programas que em 3 ou 4 meses trazem retorno. É possível ter um processo de inovação auto-sustentável”, explica.