O Brasil voltou a registrar saldo positivo na abertura de empresas no segundo ano de pandemia de covid-19, alcançando um recorde de 5,749 milhões de companhias ativas em 2021. No entanto, o fenômeno permanece puxado majoritariamente pela modalidade sem nenhum trabalhador assalariado, ou seja, em que havia somente o proprietário ou sócios. Os dados são do Cadastro Central de Empresas (Cempre) referentes a 2021, divulgados nesta quarta-feira, 21, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em 2021, o número de empresas e outras organizações ativas cresceu 5,8% em relação a 2020, 314,5 mil a mais. Em dois anos de pandemia, houve abertura de 509,4 mil empresas.

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O total de empresas sem assalariados, que são compostas apenas por sócios ou proprietários, avançou de 2,637 milhões em 2019 para 2,864 milhões em 2020, subindo a um ápice de 3,085 milhões em 2021, o equivalente a 448,7 mil CNPJs ativos a mais em dois anos de pandemia. Já o número de empresas com ao menos algum trabalhador assalariado caiu de 2,603 milhões em 2019 para 2,570 milhões em 2020. Houve melhora em 2021, para o patamar de 2,663 milhões de companhias, o que significa 60,6 mil empresas a mais com empregados em relação ao pré-pandemia.

Os dados sugerem que o impulso mais vindo de empresas sem funcionários tenha contribuição de um empreendedorismo de necessidade: uma maior criação de CNPJs por trabalhadores demitidos que tentavam abrir seu próprio negócio ou que buscavam compensar uma perda de renda provocada pela crise sanitária, apontou Eliseu de Oliveira, analista da pesquisa do IBGE.

“Pode ter efeito do aumento do empreendedorismo, pode ter efeito das reformas que foram feitas”, complementou Oliveira. “Quando digo empreendedorismo, é o efeito da pandemia desempregando muitas pessoas, e as pessoas procuram outra fonte de renda. Então pode ter o chamado empreendedorismo por necessidade. Isso pode explicar de certa forma esse aumento”, acrescentou.

Porém, Oliveira lembra que houve também mudança metodológica recente na pesquisa, já que os registros usados como base para o cadastro também sofreram algumas alterações.

A atualização do Cempre é realizada anualmente a partir das informações do IBGE provenientes das pesquisas estruturais das áreas de Indústria, Construção, Comércio e Serviços e do Sistema de Manutenção Cadastral – Simcad, além de registros administrativos do Ministério do Trabalho e Previdência, que sucedeu a então Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, do Ministério da Economia. A prestação de informações por empresas via Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) está sendo substituída gradativamente pelo Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas – eSocial, lembrou o IBGE.

“Tem sim uma componente da mudança metodológica. A gente ainda está avaliando os impactos dessa mudança que houve, que foi a mudança do eSocial”, afirmou Oliveira.

A pesquisa do IBGE mostrou ainda uma retomada mais intensa do emprego como um todo no País no ano de 2021, superando o patamar pré-pandemia tanto na modalidade de sócio ou proprietário como de assalariado.

A quantidade de sócios e proprietários subiu 5,1% na passagem de 2020 para 2021, totalizando 7,7 milhões, 372,3 mil pessoas a mais. Nos dois anos de pandemia, mais 674,1 mil pessoas se tornaram sócios ou proprietários em empresas ativas.

Houve recuperação também no emprego assalariado formal: após um extermínio de 825,3 mil vagas assalariadas em 2020 ante 2019, o pessoal ocupado assalariado cresceu 4,9% em 2021, 2,227 milhões de empregados a mais, para um total de 47,693 milhões de pessoas nesse tipo de trabalho formal.

As maiores contribuições para o aumento de pessoas ocupadas assalariadas na passagem de 2020 para 2021 partiram do Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (+428,5 mil) e Indústrias de transformação (+386,9 mil). Já a maior redução ocorreu nas Outras atividades de serviços (-34,3 mil).

No ano de 2021, o pessoal ocupado assalariado era composto por 55,1% de homens e 44,9% de mulheres. Na comparação com o ano anterior, houve um aumento de 6,3% no número de mulheres assalariadas e alta de 3,8% no de homens assalariados. Com a melhora no emprego das mulheres, a participação feminina no pessoal ocupado assalariado das empresas recuperou o patamar pré-pandemia.

O salário médio pago pelas empresas do País caiu 2,6% em um ano, passando de R$ 3.353,07 em 2020 para R$ 3.266,53 em 2021. Com a queda na renda, porém mais pessoas trabalhando, a massa salarial real somou R$ 2,0 trilhões em 2021, alta de 0,3% em relação a 2020.