28/08/2025 - 6:00
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin, disse que Brasil e México têm “boa complementaridade econômica” e é possível avançar nas parcerias em produtos agropecuários, na área industrial e no setor de serviços, como inteligência artificial (IA) e data centers. “Tem muitas possibilidades”.
+ 13 estados brasileiros têm os EUA entre principais destinos de exportações
Alckmin lidera uma missão brasileira que desembarcou no México nesta semana com foco em, entre outros temas, ampliar os laços comerciais e de investimentos entre as duas maiores economias da América Latina.
Após a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos, segundo maior parceiro comercial do Brasil, sobre diversos produtos do país, uma das estratégias do governo e exportadores para mitigar os efeitos da taxa extra ao país é diversificar ou ampliar mercados. O México é atualmente o sexto maior parceiro comercial do Brasil.
Nesta quinta-feira, 28, está prevista uma audiência com a presidente do país, Claudia Sheinbaum, que deve acontecer nesta quinta-feira. A comitiva também realizará uma série de reuniões com empresários mexicanos e encerrará a missão em evento da Associação Brasileira de Proteína Animal.
“O México é um parceiro importante para o Brasil. A visita é uma oportunidade estratégica. Vamos nos reunir com o governo e com o setor privado para destravar oportunidades em áreas como indústria, agronegócio e saúde, fortalecendo a integração produtiva regional”, disse Alckmin.
Principais parceiros do Brasil no primeiro semestre de 2025
O mercado Brasil – México
Em 2024, a relação comercial entre Brasil e México ultrapassou os US$ 13 bilhões. Mais da metade foi de produtos que o Brasil exportou para o México, a exemplo de automóveis de passageiros, carnes de aves e miudezas e veículos para transporte de mercadorias.
Por outro lado, o Brasil importou do México, em 2024, aproximadamente US$ 6 bilhões em produtos como peças e acessórios de carros, veículos automóveis de passageiros e veículos automóveis para transporte de mercadorias.
Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, aponta que o México é um parceiro crucial para o Brasil na busca de diversificação. Monteiro afirma que ampliar o relacionamento com o México reduz exposição a choques em mercados principais e ajuda na construção de resiliência externa
“O México não vai substituir os Estados Unidos como principal destino do agro brasileiro, mas pode se tornar um mercado estratégico. Hoje, mais de 70% das importações mexicanas ainda vêm do mercado americano. Mesmo assim, o Brasil já começa a ganhar espaço em setores onde é líder global, como soja, carnes e celulose, oferecendo competitividade e ajudando a reduzir a dependência mexicana de um único fornecedor”, aponta Braga.
Rogério Marin, CEO da Tek Trade, especialista em comércio exterior e presidente do Sindicato das Empresas de Comércio Exterior de Santa Catarina (Sinditrade) também avalia que o país representa uma oportunidade importante para o agro brasileiro, “especialmente com as isenções fiscais temporárias concedidas pelo governo mexicano”, que segundo ele impulsionaram as importações de produtos como milho, soja e carnes.
“Acordos sanitários recentes abriram portas para itens como material genético de suínos e aves, pepsinas suínas e carne processada, reforçando a posição do México como parceiro estratégico na América do Norte. Além disso, o México absorve matérias-primas brasileiras, transformando-as localmente, o que sustenta um comércio bilateral baseado em rigorosos padrões de saúde e segurança”, diz Marin.
Por muitos anos, os dois países competiram pela liderança regional na América Latina, divergindo em estratégias comerciais. Enquanto o México tem fortes laços com os Estados Unidos, antes por meio do Nafta (e agora do USMCA – Acordo Estados Unidos- México- Canadá), o Brasil aposta no Mercosul, de perfil mais fechado. Mas isso vem mudando.
O México se tornou o quarto principal destino da carne bovina brasileira em 2024, demonstrando potencial para compensar possíveis perdas no mercado norte-americano. O café brasileiro também deve ser tema central nas negociações, sendo um dos cinco principais produtos exportados para o México.
Produtos que o Brasil mais enviou para o México em 2024
- Veículos (outros que não ferroviários/trilhos): US$ 1,56 bilhão
- Máquinas e Equipamentos (reatores nucleares, caldeiras): US$ 1,20 bilhão
- Carnes e miudezas comestíveis: US$ 881,34 milhões
- Oleaginosas, frutos oleaginosos, grãos, sementes: US$ 726,00 milhões
- Madeira e artigos de madeira: US$ 318,09 milhões
Produtos que o México mais enviou para o Brasil em 2024
- Veículos (não ferroviários/trilhos): US$ 1,90 bilhão
- Máquinas e equipamentos (reatores, caldeiras, etc.): US$ 664,43 milhões
- Equipamentos elétricos e eletrônicos: US$ 636,50 milhões
- Produtos químicos orgânicos: US$ 149,13 milhões
- Plásticos: US$ 114,11 milhões
Exportações de carne bovina quase triplicam
Segundo dados da Abiec, de janeiro a julho deste ano, o Brasil exportou 67.659 toneladas de carne bovina ao México (US$ 365 milhões), quase o triplo do volume do mesmo período do ano passado. No acumulado dos sete primeiros meses do ano, o país havia sido o quarto maior destino da exportação da proteína brasileira, atrás da líder absoluta China, dos EUA e do Chile.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse na quarta-feira, 27, que a abertura do mercado de carne bovina e suína no México vem trazendo resultados positivos para ambos os países. Segundo o ministro, no caso do Brasil, após o período de consolidação dessa abertura, empresas privadas começaram a efetivar negócios, o que resultou, segundo ele, em um crescimento de aproximadamente 250% nas exportações de carne bovina em apenas 2 anos e 8 meses.
“No mesmo período, as vendas de carne suína aumentaram 95% e as de frango, 14%. Esses avanços são benéficos não apenas para o Brasil, mas também para o México, que, em seu programa de combate à inflação dos alimentos, encontra a oportunidade de adquirir carnes de alta qualidade”, disse Favaro.
Outros mercados
Ainda na busca pela diversificação de destinos, Marin, da Sinditrade, acredita que o Canadá desponta como um mercado semelhante ao México, com importações significativas de soja, milho e carnes. “Como parte do USMCA, é uma opção estratégica para diversificar o agro brasileiro, especialmente em cenários de barreiras comerciais americanas.”
“Mercados asiáticos, como Indonésia e Malásia, e alguns mercados africanos também são promissores, mas o Canadá alinha-se mais ao México por sua proximidade geoeconômica e demanda por commodities. Expandir acordos com o Canadá pode posicionar o Brasil como líder global no fornecimento de alimentos, apontando para um futuro de maior diversificação”, avalia Marin.
A comitiva para o México conta com o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro; a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet; e a secretária-geral do Ministério das Relações Exteriores, Maria Laura da Rocha. Também participam os presidentes da ApexBrasil, Jorge Viana; da Conab, Edegar Pretto; da Anvisa, Leandro Safatle; e representantes do Ministério da Saúde, Fiocruz e Instituto Butantan; além de empresários e da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
*Estagiário sob supervisão
(Com informações de Estadão Conteúdo)