06/03/2013 - 21:00
Recordo-me dos anos em que nós brasileiros éramos sinônimos de trabalhadores braçais em países do mundo inteiro, tratados como “aqueles que fazem aquilo que não queremos fazer”, principalmente, nos Estados Unidos. Pois bem, o tempo passou e a roda-gigante da vida nos levou ao patamar de maiores consumistas do mundo. Não à toa, entregamos mais de US$ 22 bilhões para os gringos no ano passado. Só neste mês de janeiro, já foram US$ 2,2 bilhões. Economistas e autoridades monetárias buscam explicações nas equações mais complicadas do planeta – conversão de moedas, ascensão da classe C emergente (nem sei o que é isso), linha de crédito internacional.
Enfim, como nos filmes de ficção científica, o fenômeno às vezes é inexplicável. Os Estados Unidos dão preferência a quem fala português na contratação de mão de obra. Os americanos buscam brasileiros nos hotéis para levá-los ao shopping, criou o personal shopper e ainda mandam entregar as nossas comprinhas. Os cassinos, que há muito tempo já deveriam estar funcionando por aqui, nos privilegiam através de tratamento só fornecido a membros de família real. Em Foz do Iguaçu, você atravessa a rua e já tem alguns nos esperando. A história mostra que boa parte do mundo desenvolveu o turismo graças à lícita indústria do jogo. Os valores que são deixados nas roletas, felizmente, não são revelados.
Caso contrário, o nosso susto seria muito maior e os bilhões de dólares, bem, melhor não falar! Alguém pode me dizer a diferença entre cassino e loteria? O que talvez ninguém tenha mencionado é que só acordamos para o problema depois que, num determinado sorteio de país sede da Copa, fomos contemplados. Em ato contínuo, lembraram que a nossa infraestrutura aeroportuária está sucateada; a rede hoteleira, cara e velha; os aeroportos estavam jogados às traças; e nossos profissionais do setor turístico, absolutamente destreinados. Caos instalado e a pergunta: como vamos resolver isso? A solução é complexa e pode levar muitos anos. Mas algumas coisas já podem ser feitas imediatamente.
Um esforço no sentido de se evitar altas extremas das tarifas de hotéis soa bem para quem pretende nos visitar durante a Copa das Confederações. E, para nós, fica melhor ainda, já que somos os maiores beneficiários. Temos de pensar nos 60 milhões de brasileiros que viajam internamente, todos os dias. Há um custo elevadíssimo de locação de automóvel por aqui, talvez o maior do mundo. Em Miami, por exemplo, custa US$ 89 alugar por uma semana inteira um carro novo. E não temos dúvida de que o Ministério do Turismo precisa fazer uma manobra gigantesca para promover os destinos nacionais fora do eixo Rio/São Paulo/Bahia. Ainda dentro do tema, me parece irreversível a decisão da entrada de companhias aéreas internacionais no mercado interno.
Ou será que ninguém sabe que a TAM está com a Lan, a Gol com a Delta, a Avianca com o seu QG na Colômbia, e a Azul na barra da irmãzinha JetBlue? Mesmo assim, os preços continuam subindo. Muitas vezes justificado pela alta do petróleo, mas muitas com problema de gestão. Finalizando, precisamos dividir os esforços de qualificação em vários turnos. Não existe método que possibilite transformar um “local” num guia turístico num passe de mágica. Ou seja, primeiro temos de dizer para ele que vamos ajudá-lo a sair da informalidade. Quer saber? Pode parecer bobagem, mas temos vagas no setor de “limpeza de placas de sinalização”. Quem sabe com pequenos gestos tiramos o “Z” do Brasil.