O diretor da Corretora Geração, Mauro Mello, participou na quarta-feira 26 de um jantar memorável. Em sua companhia, estava o chefe da Casa Civil da Presidência de Angola, Antônio Joaquim Cruz Lima. O motivo? Celebrar o final da primeira etapa da colaboração brasileira no projeto de construção de uma bolsa de valores em Luanda, a capital angolana. Durante uma semana, Mello fez palestras para executivos e funcionários públicos angolanos sobre o mercado de capitais brasileiro, escolhido como referência para o de Luanda. A exportação de know-how foi encomendada em 2004 à seção paulista da Apimec (Associação dos Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), encarregada da formação de operadores locais. ?As regras para a abertura de capital e a grande participação de pessoas físicas na Bolsa de São Paulo foram fundamentais para escolhermos o mercado brasileiro?, diz Lima, coordenador do futuro pregão angolano.

Há cinco anos, ele concluiu seu curso de Finanças na City University Business School, da Inglaterra. A partir daí, saiu em busca de soluções para o desenvolvimento do setor financeiro em Angola. Durante esse período, entre outros pregões e mercados internacionais, conheceu a Bovespa, a BM&F (Bolsa de Mercadoria & Futuros) e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que o seduziram com um apelo bem prático: o idioma comum. ?O Brasil tem padrões de legislação e fiscalização internacional, com a vantagem de ser tudo em português?, diz. No final de 2004, Lima trouxe ao País uma comitiva angolana com 30 profissionais financeiros para participar de um treinamento realizado pela Apimec. Os operadores africanos pretendem replicar em Angola as regras brasileiras de incentivo à criação de clubes de investimento e venda de ações de estatais.

A segunda etapa da consultoria da Apimec, em março, incluirá a capacitação de auditores, analistas e operadores de mercado em São Paulo. Estes profissionais terão, então, até o fim do ano para abrir a bolsa de Luanda. ?Temos um cenário econômico favorável?, garante Lima. Devastada por 30 anos de guerra civil, encerrada apenas em 2002, Angola começa a apresentar indicadores de estabilidade. A inflação, que girava em 300% ao ano, caiu para os atuais 30%. Em três anos, os juros básicos baixaram de 150% para 25%. Para iniciar o mercado de ações, as autoridades locais contam com a abertura de capital de empresas petrolíferas ? que respondem por 80% do orçamento público nacional de US$ 5 bilhões ?, mineradoras e agrícolas.