Gilberto Peralta assumiu a presidência da Airbus Brasil em julho de 2020 em um dos piores momentos da história da aviação. Por conta da pandemia de Covid-19 que praticamente parou o mundo, milhares de aviões ficaram em solo. Aeroportos que estavam desativados foram reabertos, não para operar pousos e decolagens, mas para receber e estacionar as aeronaves que não tinham utilização naquele momento. A chegada de Peralta foi estratégica para a companhia ter um norte e um representante diante de um cenário de incertezas e inseguranças, e proporcionar mais proatividade da empresa que estava sem comandante no País desde 2015.

Peralta também saiu da inatividade. Desde 2018 ele estava aposentado, após 40 anos na GE Aviation, onde começou como engenheiro mecânico de motor e atuou nos últimos quatro períodos como presidente da corporação. Foi essa bagagem que o credenciou a liderar a operação brasileira da Airbus e concomitantemente tomar assento na presidência do Conselho de Administração da Helibras, a única fabricante brasileira de helicópteros e subsidiária da Airbus Helicopters.

Quatro anos se passaram desde que o executivo chegou à fabricante de aeronaves. O momento é outro. O problema é outro. Agora, um problema bom, se é que assim podemos dizer. Se antes os aviões estavam no chão, hoje há recordes de decolagens, pousos, cargas e passageiros. E, consequentemente, encomendas de novas aeronaves para a líder global do segmento. O desafio tem sido as entregas, segundo Peralta. “Os clientes estão desesperados, querendo que nós aceleremos as entregas”, disse o presidente à DINHEIRO.

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“Os clientes estão desesperados, querendo que nós aceleremos as entregas […] O Brasil é um mercado muito importante para nós. É o principal da América Latina e do Hemisfério Sul.”
Gilberto Peralta, presidente da Airbus Brasil

Atualmente, a capacidade da Airbus é de 60 aviões entregues por mês.

O planejamento, a partir de investimentos nas linhas de produção em plantas de Hamburgo (ALE) e Toulouse (FRA), é atingir 75 aeronaves mensalmente.

Companhias aéreas brasileiras estão à espera de suas encomendas, principalmente do modelo A320, o carro-chefe, ou melhor, o avião-chefe da fabricante.

São 120 aviões com notas de compra emitidas no Brasil, o que vai aumentar o share da Airbus entre 65% e 70% das aeronaves que operam no País. Hoje, com as 180 aeronaves da marca, a participação é de 57%.

“O Brasil é um mercado muito importante para nós. É o principal da América Latina e do Hemisfério Sul”, disse Peralta.

Uma performance ancorada na retomada do setor aéreo. Em 2023, houve aumento de 10,5% nas decolagens e 15,3% no total de passageiros transportados em relação a 2022, segundo o Anuário do Transporte Aéreo publicado pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Foram 911 mil decolagens domésticas e internacionais, com 113 milhões de passageiros. A oferta de assentos (ASK, mensurada em assentos por quilômetro ofertados) foi a maior registrada nos últimos 10 anos.

O modelo A330 da Airbus é um dos mais vendidos do mundo. Com setor aquecido, encomendas estão em alta (Crédito:Divulgação )

Números que geram resultados financeiros para as companhias aéreas e para as fabricantes como a Airbus, que tem se recuperado do tombo do período pandêmico.
Em 2019, antes de o mundo parar por conta do coronavírus, a empresa registrou faturamento global de 70,5 bilhões de euros, com 768 aeronaves entregues.
Em 2020, a receita foi de 49,9 bilhões de euros, com 566 aviões entregues.
De lá para cá, crescimento paulatino, até fechar o ano passado com 65,4 bilhões de euros em vendas e 735 aviões entregues. Ainda abaixo de 2019, mas com boas perspectivas de bater o desempenho de cinco anos atrás.

Melhorar a operação brasileira, para contribuir ainda mais com os resultados globais, é possível e está nos planos de Peralta. Mas tem esbarrado no governo.

Para a Airbus, a ampliação do Aeroporto de Itajubá (MG), onde está a sede da Helibras, é fundamental para evolução da companhia.

No ano passado, foi anunciado aporte de R$ 100 milhões no local, mas as obras não têm andado. “Nós poderíamos aumentar nossos investimentos se tivéssemos um aeroporto operacional”, disse o presidente da empresa, que possui um heliponto e um hangar no aeroporto.

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Com o mercado de aviões mais preponderante do que o de helicópteros, desde o ano passado os engenheiros da Helibras estão atuando em projetos de aviões. À direita, o modelo militar H-225, da Helibras (Crédito:Divulgação )

Se a melhoria na infraestrutura estivesse concluída, o aeroporto poderia receber material para fabricação de helicópteros que hoje chegam por caminhões a Itajubá. E o hangar, construído para montar o modelo H-225, um helicóptero grande, o que significa que o espaço pode ser utilizado para manutenção de aviões também. “Um aeroporto melhor equipado daria mais flexibilidade à nossa operação”, disse Peralta, que recentemente esteve com o ministro Silvio Costa Filho, de Portos e Aeroportos. O café estava bom. A conversa também. Mas falta ação. E sobra dinheiro para a Airbus investir.

49,9 bilhões
foi a receita global da airbus em 2020, quando o mundo parou em decorrência da pandemia de covid-19. o setor de aviação foi um dos mais afetados no período e os pedidos despencaram

65,4 bilhões
foi o faturamento da fabricante europeia em 2023, um avanço de 31% depois do tombo nas vendas em 2020, ocorrido pelo efeito negativo da pandemia de coronavírus

Para Emerson Eduardo Moraes, especialista em aviação, inspetor, perito aeronáutico e militar da reserva da Força Aérea Brasileira, apesar das dificuldades do mercado nacional — sejam estruturais, de gargalos logísticos, elevados custos de operação, altas taxas e impostos —, as estimativas apontam para um crescimento de até 10% no setor.

“A Airbus se insere no mercado de curto e médio alcances utilizando-se da expertise adquirida na própria Europa”, ao destacar que a linha de aviões da família A320, que segue com as versões A318, A319, A320 e A321, somadas às aeronaves modelo A220 (antigo Bombardier CSeries,) cobre uma parte significativa da demanda doméstica.

HELICÓPTEROS

Cerca de 60% dos helicópteros do Brasil são da Helibras.

No setor de segurança, que envolve Forças armadas e polícias militares dos estados, rodoviárias e federal, o share da marca chega a 80%.
•  A empresa tem um campo de provas para treinamento de pilotos no Rio de Janeiro e uma base operacional e administrativa no Campo de Marte, em São Paulo.
Mas a maior estrutura está mesmo em Itajubá.

Com o mercado de aviões mais preponderante do que de helicópteros, desde o ano passado os engenheiros da Helibras estão atuando em projetos de aviões. O pacote de desenhos chega da Europa para os profissionais brasileiros. “Dessa forma, mantemos nossa força de trabalho especializada”, disse Peralta. Assim, a Airbus segue alçando voos mais altos no Brasil.