30/05/2017 - 14:22
O Brasil deveria anunciar na próxima quinta-feira dados de crescimento positivo no primeiro trimestre de 2017, depois de dois anos de recessão, mas a notícia dificilmente acabará com a incerteza que toma conta dos mercados em meio à crise que cerca o presidente Michel Temer.
A crise política também diminuiu o otimismo sobre maiores cortes na taxa de juros na reunião do Banco Central que se encerrará na quarta-feira.
O IBGE deve anunciar um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,9% no primeiro trimestre do ano em relação ao trimestre anterior, embora com uma contração de 0,3% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a estimativa média de 20 analistas e instituições consultados pelo jornal Valor Econômico.
Este seria o primeiro resultado trimestral positivo do PIB desde o final de 2014, quando o país começou a entrar em recessão, com uma contração econômica de 3,8% em 2015 e de 3,6% em 2016.
“Deixamos para trás a maior recessão que a história brasileira já conheceu”, afirmou Temer nesta terça-feira em um fórum com empresários em São Paulo, antecipando em dois dias o anúncio oficial.
O presidente aproveitou a ocasião para defender as reformas trabalhista e previdenciária, que considera fundamentais para estimular o crescimento.
“Não permitiremos – e houve momentos de medidas populistas – que voltem a colocar em risco o presente e o futuro dos brasileiros”, acrescentou Temer.
“Chegaremos ao fim de 2018 com a casa em ordem”, garantiu, desafiando os que apostam no fim antecipado de seu mandato.
Seu otimismo, entretanto, dificilmente será contagioso, em um ambiente dominado pelas denúncias de corrupção que o envolvem desde a divulgação de uma gravação com o empresário Joesley Batista em que parece dar seu aval ao pagamento de suborno ao ex-deputado Eduardo Cunha.
Na semana passada, a agência de classificação financeira Standard and Poor’s indicou que pode rebaixar a nota de risco soberano do Brasil e a Moody’s reduziu a perspectiva de seu rating emissor de estável para negativa.
A S&P alegou temores de “paralisia política” e a Moody’s apontou um “aumento da incerteza” em relação às reformas.
O anúncio deve ser ofuscado pela divulgação na quarta-feira dos dados de desemprego recorde, que já afeta a 14,2 milhões de brasileiros e que deve subir dois décimos, a 13,9%, segundo a consultora Gradual Investimentos.
Segundo o analista independente Felipe Queiroz, um PIB positivo seria “marginal”, pois o Brasil enfrenta “uma conjuntura recessiva”, agravada por “cortes do gasto público e dos investimentos e pelo crescimento do desemprego”.
– Taxas de juros –
Segundo o consenso do mercado, o Banco Central (Bacen) fará na quarta-feira seu sexto corte consecutivo da taxa Selic, que caiu de 14,25% em outubro a 11,25% em abril.
Mas se até duas semanas os analistas se inclinavam a pensar que o corte seria de 1,25 ponto percentual, a aposta caiu sensivelmente.
Dos 41 especialistas consultados pelo Valor, apenas um acredita nesse corte; 35 acham que será de um ponto e cinco que se limitará a 0,75 ponto percentual.
O informe semanal Focus de expectativas de mercado aumentou na segunda-feira pela primeira vez em onze semanas a previsão de inflação deste ano, de 3,92% para 3,95%; e fez um pequeno rebaixamento (de 0,50% a 0,49%) na sua projeção de crescimento do PIB em 2017.
Nada particularmente grave, tendo em conta que a inflação, de 10,67% em 2015 e de 6,20% em 2016, caiu em abril a 4,08%, abaixo do centro da meta oficial, de 4,50%.
Segundo Queiroz, as “elevadíssimas” taxas atuais “favorecem sobretudo o mercado financeiro”.
Mas “com um índice de desemprego elevado e uma expectativa de inflação ainda baixa, não há nenhuma pressão inflacionária consistente”, afirma o analista.