O Brasil tem uma situação externa forte e é menos vulnerável que no passado. A avaliação é do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. Mesmo assim, ele ressaltou que o câmbio flutuante continua sendo a primeira linha de defesa externa da economia brasileira e o BC pode intervir para evitar volatilidade excessiva.

“O regime de câmbio flutuante é a nossa primeira linha de defesa contra choques externos. Isso não evita que o Banco Central use instrumentos à disposição para evitar volatilidade excessiva no mercado de câmbio”, disse o presidente do BC em evento do Council of the Americas realizado em Brasília.

No evento, o presidente do BC defendeu que o País é menos vulnerável a choques externos que no passado. Ele lembrou que o déficit corrente é atualmente em torno de 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB), patamar muito menor que os investimentos diretos equivalentes a 4,4% do PIB e o Brasil ainda conta com cerca de 20% do PIB em reservas – cerca de US$ 370 bilhões. “Isso funciona como um colchão de segurança durante os períodos de turbulência do mercado”, disse, ao também lembrar da redução do estoque de contratos de swap cambial de US$ 108 bilhões para US$ 22 bilhões.

No campo interno, o presidente do BC avalia que a combinação do fim da era dourada para as commodities, o aumento dos gastos públicos em ritmo insustentável, aumento da intervenção governamental na economia, entre outros motivos, gerou muitas distorções na economia brasileira. Entre as consequências, ele citou o déficit fiscal, aumento da dívida pública e preços administrados artificiais. “Nesse contexto, a inflação ficou desancorada e o Brasil viveu a mais severa recessão da história.”

Com a reversão dessas políticas, o presidente do BC avalia que o País também é menos vulnerável diante do progresso na queda da inflação e na ancoragem das expectativas.

Situação mundial complexa

O presidente do Banco Central avaliou que o cenário internacional é “complexo, mas particularmente interessante” com a permanência das incertezas, mas com sinais cada vez mais consistentes de que a economia global se recupera. Nesse cenário, Goldfajn nota que há riscos para as economias emergentes. “A atual perspectiva da economia global é particularmente interessante com mais incerteza política e riscos geopolíticos, mas com um contexto de que finalmente vivemos uma recuperação gradual da atividade econômica global”, disse.

Para Ilan, há incerteza sobre o novo governo nos Estados Unidos, que poderia gerar o protecionismo como uma das consequências. “Isso poderia impactar a recuperação econômica global e indiretamente afetar o Brasil no longo prazo”, disse.

Também há incerteza sobre a normalização da política monetária nos Estados Unidos. Para ele, expansão fiscal adicional nos EUA com a economia próxima do pleno emprego pode levar ao aumento da inflação e uma política monetária ainda mais dura.

Fora dos EUA, o presidente do BC destacou a situação na Europa, onde é possível que os novos estímulos acelerem o crescimento. Essa assimetria entre a política monetária dos EUA e da Europa pode colocar ainda mais pressão sobre a taxa de juros nos EUA, afirmou Ilan.

“É provável que essa incerteza global tenha implicações para as economias emergentes. Juros mais altos nos EUA resultarão em condições menos favoráveis para o financiamento nas economias emergentes”, disse o presidente do BC. Além disso, eventual protecionismo afetaria diretamente as economias e o crescimento global.

Apesar desses riscos, Ilan Goldfajn nota que o cenário externo ainda é de recuperação e benigno para o Brasil. “Até agora, a atividade econômica global é mais forte e resulta em impacto positivo nos preços das commodities; tem mitigado os efeitos das mudanças nas políticas econômicas em economias centrais, particularmente nos EUA e na economia do Brasil”, disse.