11/06/2008 - 7:00
EM 2005, A FABRICANTE de computadores Dell foi eleita pela revista americana Fortune a empresa mais admirada do mundo. No mesmo ano, seu fundador, o texano Michael Dell, entrou na seleta lista dos maiores inovadores da história do capitalismo, de acordo com a mesma publicação. O motivo? Aos 19 anos, ele criou a companhia num dormitório da Universidade do Texas, mas seu grande feito foi desenvolver um modelo de negócios incomum. Em vez de vender os computadores nas gôndolas das lojas, ele comercializava os equipamentos via telefone ou pelo site da empresa. A estratégia foi um sucesso e garantiu à Dell a liderança mundial na fabricação de computadores. Em meados de 2006, uma reviravolta. Com uma política agressiva de vendas, a HP tomou a dianteira da rival. Surpreendido, Michael Dell foi obrigado a reinventar sua empresa ? e a derrubar antigos dogmas. No ano passado, a Dell começou a vender computadores nas lojas do Wal-Mart. Até então focada no segmento corporativo, ela descobriu o potencial das vendas diretas ao consumidor final. Os resultados começam a aparecer. Na semana passada, a Dell apresentou o balanço do primeiro trimestre. Alcançou uma receita recorde de US$ 16 bilhões, um salto de 9% ante igual período do ano passado. As vendas de notebooks, uma das novas prioridades da companhia, cresceram 43%, algo que surpreendeu analistas e a própria empresa. ?Acertamos na estratégia?, diz Fernando Loureiro, diretor global de mercados emergentes da empresa.
No Brasil, a resposta foi ainda mais rápida. Sua participação de mercado saltou de 4,8% no início de 2007 para 5,9% no primeiro trimestre deste ano. Com isso, superou a HP, passando a ocupar o segundo posto, atrás apenas da Positivo Informática. Pela primeira vez, o faturamento gerado fora dos Estados Unidos superou as vendas do mercado americano. Os líderes desse processo são justamente as nações emergentes, como Brasil, Rússia, Índia e China. Não à toa, os planos da companhia são ambiciosos nesses países. Segundo Loureiro, a meta é ocupar todo o mercado brasileiro em apenas três anos. Será uma tarefa árdua. Líder disparada de vendas no varejo, a paranaense Positivo Informática é dona de 28% desse mercado, o equivalente à soma do segundo, terceiro e quarto colocados. ?O Brasil é a oportunidade do momento?, diz o executivo. ?O País tem tudo para se tornar a maior potência em tecnologia entre os emergentes, atrás apenas da China.?
O histórico da Dell no Brasil é marcado por sobressaltos. Em 1999, a empresa pensou em abandonar o País, diante da desleal concorrência do mercado paralelo. Loureiro garante que isso é coisa do passado. Hoje, a empresa baseia sua expectativa de crescimento na recémconquistada solidez econômica. De acordo com o executivo, até 2011 o mercado nacional terá consumido 130 milhões de computadores. Para efeito de comparação, no ano passado foram comercializados apenas 11 milhões de equipamentos.
A Dell assinou parcerias para alavancar seu desempenho. No Brasil, os computadores com a marca podem ser encontrados no Wal-Mart e no Ponto Frio. Juntos, eles oferecem mais de 10 mil pontos- de-vendas. Também foram desenvolvidos novos produtos. Entre eles, a linha de notebooks Inspiron, criada especialmente para a Classe C, que custa a partir de R$ 1.799.
As perspectivas são boas, mas especialistas alertam para o ainda incerto mercado brasileiro. ?Vender computador no Brasil não é um grande negócio como todos pensam?, diz Evair Rodrigues, diretor de pesquisa da consultoria IT Data, especializada no setor tecnológico. ?Aqui, a margem de lucro é muito pequena. Por isso, é fundamental que a empresa mantenha boa parte das vendas no segmento corporativo, que é mais rentável.?
Para atender à crescente demanda, a empresa vem investindo em infra-estrutura. Em 2007, a fábrica de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, foi estrategicamente transferida para Hortolândia, no interior de São Paulo. Isso porque quase 70% dos clientes da Dell estão concentrados no Sudeste. Concebida para otimizar a produção e reduzir gastos, a nova fábrica inspirou a construção das unidades fabris da Dell na Polônia e na Irlanda. ?Todos os novos sistemas de manufatura que a Dell desenvolveu ultimamente foram usados pela primeira vez aqui?, diz Laury Johnson, diretor de operações da fábrica da Dell no Brasil.
Quem conhece a fábrica de Hortolândia tem a impressão de estar em um laboratório. Qualquer pessoa que entra ou sai da unidade deve passar por um rigoroso sistema de segurança. Nas visitas, todos são obrigados a usar óculos de proteção. ?Fazemos isso para manter o baixíssimo índice de acidentes?, afirma Johnson. Outro diferencial está na logística. O local foi projetado para agilizar o processo de fabricação. Para facilitar o acesso dos funcionários aos produtos, a central de armazenamento fica no centro da unidade, entre o setor de produção de desktops e de notebooks, algo pouco usual no setor. A marca registrada da empresa no Exterior, a fabricação de computadores por encomenda, foi mantida. ?O cliente pode escolher entre mais de 100 mil combinações diferentes?, afirma Johnson. Com uma produção local de larga escala, aumento dos pontos de vendas e o desenvolvimento de produtos mais populares, a Dell espera conquistar definitivamente o mercado brasileiro.