16/04/2008 - 7:00
A INTEL TROPEÇOU. E SE levantou. Depois de amargar uma forte queda nos resultados, sofrer com a desvalorização de suas ações e perder alguns pontos de participação de mercado, a maior fabricante de processadores do mundo comemora a volta aos bons tempos. O balanço de 2007 registra um lucro operacional de US$ 8,2 bilhões, com alta de 45% em relação ao ano anterior. A receita atingiu US$ 38,3 bilhões, 8% a mais que em 2006. Os números pouco têm a ver com a crise enfrentada em 2006. Na época, a Intel foi afetada pelo esfriamento do mercado de processadores e pelo crescimento de sua maior concorrente, a AMD. O lucro anual da companhia caiu 42% em relação a 2005, totalizando US$ 5 bilhões. A receita em 2006 foi de US$ 35,4 bilhões (9% a menos que em 2005) e o lucro por ação foi de US$ 0,86 por ação, uma queda de 39%. “Acreditamos que a Intel atualmente oferece uma linha de produtos superior à da AMD. Para nós, a Intel concretizou sua recuperação e continuará ganhando participação de mercado em processadores para servidores, desktops e notebooks”, comenta o analista Kevin Cassidy, da corretora Thomas Weisel Partners. Legal, mas e o Brasil com isso? A resposta: O principal empurrão dessa recuperação veio do desempenho dos países emergentes, sobretudo da China, que acaba de receber um novo fundo de investimentos da Intel Capital de US$ 500 milhões. O Brasil também teve papel importante, mas, no QG da corporação, o País é mesmo visto como a grande aposta para o futuro. A posição de destaque do Brasil fica clara com o envolvimento pessoal do lendário Craig Barrett, atual chairman, em um projeto de inclusão digital da Intel no País (leia reportagem a seguir e a entrevista exclusiva com Craig Barrett).
Para virar o jogo no mundo, a gigante passou por uma profunda reestruturação: vendeu divisões, demitiu mil funcionários e foi à caça de novos compradores. E onde eles estavam? Em mercados emergentes, nos quais as vendas de computadores crescem sem parar. Por isso, a Intel mudou parte de suas fábricas de componentes e laboratórios para países em desenvolvimento. Hoje, mais da metade da receita da empresa vem da África e das Américas – há uma década esse número não passava de 15%. O interesse pelo Brasil aumentou com a estabilidade econômica e o crescimento do País. “O incentivo fiscal e o crédito mais acessível foram iniciativas do governo que promoveram a inclusão digital. Isso fez com que o mercado brasileiro explodisse”, diz Oscar Clarke, presidente da Intel no Brasil. “Em 2010 seremos o terceiro maior mercado de computadores no mundo. A tendência da Intel é investir cada vez mais no Brasil.” De acordo com o IDC, o Brasil encerrou 2007 na quinta posição no ranking mundial de vendas de PCs, com 10,7 milhões de unidades, aumento de 38% em relação a 2006. O Brasil também foi líder na América Latina, com fatia de 47,3%.
De olho nesse crescimento, a companhia passou a concentrar parte de seus esforços para atender às necessidades do mercado brasileiro. Em 2006, anunciou um fundo de US$ 50 milhões para comprar participações acionárias em empresas de tecnologia no País. No ano seguinte, firmou um acordo com a fabricante brasileira de componentes digitais Digitron para iniciar a montagem de uma de suas linhas de placas-mãe no Brasil. As placas-mãe Intel montadas no País ficariam 20% mais baratas. Enquanto investia na indústria local, a Intel realizava por aqui projetos pilotos de WiMax, evolução da rede de internet sem fio Wi-Fi, que oferece conexões de até 75 Mbps em um raio de 50 km – tecnologia que será predominante no futuro. A companhia pretende lançar no País, no segundo semestre, plataformas de notebook baseadas com o processador Intel Centrino com acesso a Wi-Fi e WiMax. A empresa tem participado do processo de inclusão digital dos brasileiros – e, por tabela, ajuda a aumentar o contingente de consumidores de seus produtos. Tais investidas têm surtido efeito. A participação da Intel no mercado brasileiro até meados de 2004 encontrava-se em 57%. Hoje, subiu para 82%. De acordo com o Anuário Informática Hoje, sua receita líquida no Brasil em 2007 foi de US$ 435 milhões, 1,18% a mais que em 2006. A participação nos negócios globais ainda é tímida, mas o potencial tem atraído a atenção dos chefões da corporação. Craig Barrett que o diga.
Selva digital
A Intel transformou Parintins, no coração da Amazônia, no lugar com acesso à internet mais remoto do mundo
PARINTINS FOI A ESCOLHIDA. Entre tantos destinos do planeta, foi justamente a pequena ilha amazonense que fez os olhos de Craig Barrett brilharem. O principal homem e atual chairman da Intel encontrou na terra do boi-bumbá o cenário perfeito para a realização de um sonho: a vila digital brasileira. Afinal, a cidade tinha tudo que a Intel precisava. É grande o suficiente para se beneficiar da comunicação online, remota o bastante para servir de desafio logístico e demasiadamente conhecida a ponto de chamar atenção – 100 mil turistas assistem anualmente ao festival folclórico do boi. Se a Intel fosse capaz de conectar Parintins à rede wireless, qualquer outro lugar também poderia fazê-lo. E foi o que aconteceu. Acessível apenas por barco ou avião, Parintins foi conectada ao resto do mundo por uma rede sem fio de alta velocidade.
Pouco mais de um ano após a chegada da revolução digital, a vida dos 114 mil habitantes nada tem a ver com a rotina offline de um passado não muito distante. “A Intel abriu uma janela no meio da Floresta Amazônica para a gente enxergar o mundo”, conta Frank Bi Garcia, prefeito de Parintins. Com o suporte de parceiros, entre eles Cisco, Embratel, Fundação Bradesco e Universidade de São Paulo, a Intel instalou em Parintins uma avançada rede WiMax. “Nós avançamos tanto que hoje temos a primeira praça digital do Brasil que permite acesso livre à rede com vista para o mar”, acrescenta. O projeto da Intel ligou à internet de alta velocidade um centro de saúde, duas escolas públicas, um centro comunitário e a Universidade do Estado do Amazonas.
A Prefeitura desembolsou R$ 500 mil em reformas, construção do centro de medicina e em móveis para atender à chegada da internet semfio. Já a Intel não diz quanto gastou, mas revela que a iniciativa faz parte do Programa World Ahead, um projeto que planeja investir mais de US$ 1 bilhão em todo o mundo, ao longo dos próximos cinco anos, para acelerar o acesso a computadores e à internet em comunidades em desenvolvimento. Para Elaine Nucci, diretora de desenvolvimento de mercados da Intel da América Latina, o objetivo da companhia é mostrar como a tecnologia pode contribuir para o desenvolvimento de uma comunidade. “Mas para isso, é preciso preparar as pessoas para o uso dessa tecnologia”, conta. O programa vai além de seu cunho social. Habitantes de Parintins e de 200 outros lugares de países em desenvolvimento estariam sendo “educados” para se tornarem novos clientes. Afinal, como o próprio Barrett diz, a Intel não é uma organização de caridade. A prova são os destinos escolhidos pelo Programa World Ahead. A companhia não tem investido nos países menos desenvolvidos do mundo e sim em locais com perspectivas de crescimento, como Brasil, China, Índia e África do Sul, assim como em nações pequenas, mas com rápido desenvolvimento, como é o caso do Vietnã e Paquistão. Metade da classe-média global vive atualmente em países emergentes. De acordo com estimativas do World’s Bank, em 25 anos o índice pode chegar a 90%. “Hoje o mundo tem um bilhão de pessoas conectadas à rede. O que se pretende agora é formar o próximo bilhão de usuários. Isso só vem através da inclusão digital, da criação de uma cultura digital”, diz Elaine. A meta está sendo colocada em prática. Parintins, por exemplo, fez recentemente sua primeira compra de computadores -com processadores Intel – para ampliar o projeto da vila digital.
O MENTOR DA INCLUSÃO DIGITAL |
Craig Barrett falou com exclusividade à DINHEIRO sobre o projeto da Intel em Parintins
Qual é a importância dessa iniciativa para o desenvolvimento social? Em sua segunda visita à cidade digital, em dezembro de 2007, o que constatou? Quais são seus próximos projetos? Pretende criar outras cidades digitais pelo mundo? |