Como o segundo país mais afetado pela pandemia da covid-19, o Brasil virou polo de testagem das vacinas contra a doença. Mas, mesmo com uma população de mais de 200 milhões de habitantes, se situa atrás muito dos Estados Unidos e a Europa nas compras futuras de doses. EUA e países da União Europeia já assinaram contratos com farmacêuticas para ter acesso à milhõess de doses após a validação da eficácia da imunização. Para especialistas, no entanto, esse processo não deve atrapalhar ou atrasar o acesso do Brasil às vacinas.

A infectologista e diretora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Lessandra Michelin, acredita que, se for possível produzir as vacinas aqui, esse cenário não deve nos afetar.

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“Para a vacina da influenza, sempre temos outros locais que compram muito também, por exemplo. Acho que o fundamental é saber quais serão as vacinas possíveis e a quantidade de produção”, ressalta. Lessandra explica também que os institutos responsáveis por esses testes já estão organizados para produção assim que que as vacinas forem aprovadas.

Já para a infectologista Mirian Dal Ben, do Hospital Sírio-Libanês e conselheira do Society for Healthcare Epidemiology of America (SHEA), a expertise do Brasil em campanhas de vacinação é uma das principais vantagens para a produção nacional.

“Nós já temos uma rede muito estruturada no SUS [Sistema Único de Saúde] para a vacinação e a gente também detém tecnologia para a produção de vacina. Hoje, não dependemos da importação de uma série de vacinas consideradas essenciais. Temos capacidade de produzir aqui”, diz.

Atualmente, o País está testando as seguintes vacinas: a britânica, desenvolvida pela Universidade de Oxford; a chinesa CoronaVac, da Sinovac Biotech; a americana do laboratório Johnson & Johnson; e as germano-americanas BNT162b1 e BNT162b2, testadas por um mesmo estudo das empresas BioNTech e Pfizer.

No mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 168 potenciais vacinas estão sendo desenvolvidas, mas nenhuma está em fase de comercialização ainda.

“As vacinas de Oxford e da China são acordos para transferência de tecnologia. Se for provada a eficácia, nós vamos poder produzir aqui. Acredito que se pelo menos essas duas vacinas forem liberadas, nós não teremos dificuldade de acessar a imunização”, acrescenta Mirian.

Vacina para todos?

Lessandra também destaca que essa produção inicial não será para toda a população. Pessoas que já foram infectadas pela doença, por exemplo, não serão imunizadas, exceto se for comprovado que a imunidade da covid-19 é transitória.

“Nesse momento, a prioridade são pessoas que não tiveram a doença. Acredito que talvez aconteça como na vacina da influenza, o grupo de pessoas com maior risco de mortalidade seja priorizado, mas sempre depende do tipo de vacina. Vacinas vivas, por exemplo, não podem ser aplicadas em todas as pessoas”, finaliza.