Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) – O governo brasileiro marcou para o início de agosto a reunião, em Belém, que pretende reavivar a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que reúne os países com áreas amazônicas, e servirá para tentar definir uma posição única da região sobre desenvolvimento e combate à crise climática em foros internacionais.

“É uma reunião importante porque o presidente (Luiz Inácio Lula da Silva) quer coordenar com os outros sócios da OTCA uma visão dos países Amazônicos sobre a Amazônia”, disse o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, em conversa na quinta-feira com jornalistas estrangeiros.

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A intenção de Lula é usar essa posição acordada no encontro do OTCA para seu discurso na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro, onde as mudanças climáticas devem ser parte central da sua fala.

“Ele quer levar um pouco a visão de todos os países. Tem que se promover o encontro antes para que todos contribuam para uma política comum que será feita”, explicou Vieira.

A retomada da OTCA é uma das metas de Lula em seu terceiro governo. O grupo teve reuniões presidenciais virtuais nos últimos anos, mas com relevância diminuída e com o Brasil praticamente abandonando as deliberações do grupo.

A ideia é usar a instância para unificar os discursos dos oito países que compõe o grupo e atrair investimentos para a região dentro das políticas de combate ao desmatamento, proteção de povos indígenas e desenvolvimento com o objetivo de fortalecer a posição frente a organizações internacionais e países desenvolvidos, os que mais pressionam por ações na região.

MACRON E KERRY NA CÚPULA

A Cúpula da OTCA, em princípio marcada para os dias 8 e 9 de agosto, deve incluir este ano a presença do presidente da França, Emmanuel Macron, para representar a Guiana Francesa. O presidente francês viria ao Brasil em visita oficial ainda no primeiro semestre deste ano, mas a viagem deverá ser então durante a Cúpula.

Também devem estar presentes o enviado especial do clima dos EUA, John Kerry, que confirmou que pretende visitar a Amazônia este ano, e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que vinha se mantendo afastado das reuniões regionais nos últimos anos, depois do rompimento de relações diplomáticas com o Brasil e estremecimentos com outros países da região.

Perguntado se havia mesmo uma data definida para uma primeira visita de Maduro ao Brasil – houve especulações de que poderia ser no final de maio -, Mauro Vieira negou que haja uma data, mas afirmou que Maduro poderá visitar a qualquer momento.

“Não foi nada marcado. Mas é muito simples, é muito fácil, a Venezuela está a quatro ou cinco horas daqui”, disse.

Vieira deixou claro que o Brasil quer recuperar as relações com a Venezuela, cortadas durante o governo de Jair Bolsonaro, e pode atuar no diálogo entre governo e oposição no país, especialmente com vistas às eleições do ano que vem.

No mês passado, o assessor especial da Presidência e ex-chanceler Celso Amorim foi a Venezuela, enviado por Lula, para conversar com o governo de Maduro e também ter encontros com membros da oposição.

“Onde formos chamados vamos conversar, como fizermos em 2016. Não era só o Brasil, era Brasil, Colômbia e Equador”, disse Vieira, lembrando que os três países intermediaram a negociação das eleições legislativas que terminaram por dar vitória à oposição. “Brasil está pronto também a voltar a conversar com o governo e com a oposição.”

 

(Reportagem de Lisandra Paraguassu)

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