11/01/2022 - 12:38
O Brasil registrou em 2021 uma inflação de 10,06%, a mais alta desde 2015 e muito mais elevada que a do ano anterior (4,52%), um dado que pode complicar ainda mais o panorama para o presidente Jair Bolsonaro a nove meses das eleições presidenciais.
“É a maior taxa acumulada em um ano desde 2015, quando foi de 10,67%”, afirmou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em seu boletim publicado nesta terça-feira (11).
O aumento de preços superou as projeções do mercado, situadas em 9,99% na última pesquisa Focus do Banco Central (BCB).
A inflação de dezembro (0,73%) foi ligeiramente inferior ao 0,95% registrado em novembro.
O resultado para 2021 está bem acima da meta de 3,75%, e de seu teto de 5,25%, estabelecidos pelo BCB, algo que não acontecia desde 2015.
Segundo o IBGE, o dado foi influenciado principalmente pelo transporte, que teve a maior variação (21,03%) e a maior incidência (4,19 pontos percentuais) no ano, seguido por habitação (13,05%) e alimentação e bebidas (7,94 pontos percentuais).
Juntos, os três setores responderam por cerca de 79% da inflação de 2021.
“O transporte foi afetado principalmente pelos combustíveis”, explicou o responsável pela elaboração do índice de inflação do IBGE, Pedro Kislanov.
– ‘Ambiente conturbado’ –
A inflação, um problema global derivado em parte dos efeitos econômicos da pandemia de coronavírus, corrói a renda das famílias, especialmente as mais vulneráveis, que gastam a maior parte de seu dinheiro em alimentos no Brasil.
O preço da carne, por exemplo, subiu 8,45% em um ano.
Imagens de pessoas vasculhando o lixo em busca de comida proliferaram nos últimos meses.
Segundo Alex Agostini, da consultoria Austin Rating, vários fatores também explicam essa inflação anual de dois dígitos, situação que o Brasil viveu nas décadas de 1980 e 1990.
“Existe uma restrição de oferta de vários componentes no mundo. Além disso, aqui no Brasil há uma questão de risco fiscal e um ambiente político conturbado que teve grande impacto na desvalorização do real, o que afetou bastante os preços. Também está no radar a variante ômicron, que gera uma expectativa ruim para 2022”, explicou à AFP.
A projeção do mercado para 2022 é de inflação de 5,03%.
Para tentar conter o avanço incessante dos preços, o Banco Central impôs nas últimas sete reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) importantes aumentos na taxa básica de juros Selic.
Em dezembro, aplicou alta de 1,5 ponto percentual, para 9,25%, o máximo desde 2017, e alertou que espera aumento igual na próxima reunião, em fevereiro.
Por enquanto, a estratégia não tem dado resultados, e os economistas esperam que a inflação permaneça em patamares elevados este ano.
“O aumento dos preços, que reduz o potencial de compra das famílias, e o aumento da taxa de juros para combatê-lo, que está desacelerando setores que ainda respiravam, como construção ou veículos, vão impactar muito o crescimento da economia em 2022”, explicou Agostini.
As previsões de crescimento para 2022 são pouco otimistas, em 0,28%, segundo a última pesquisa Focus, ante os 2,5% esperados há um ano.
No terceiro trimestre, a economia brasileira entrou em recessão, contraindo (-0,1%), após queda (-0,4%) entre abril e junho.