17/02/2025 - 11:48
O ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, declarou que o Brasil é o ‘rei das tarifas ‘ e que a visão dos EUA sobre suas relações diplomáticas e comerciais tende a ser ‘mais pragmática’ nessa nova administração de Trump.
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“Penso que a relação de EUA com China vai evoluir. Mas, em se tratando de tarifas, que é o tema do momento, Brasil é um dos ‘reis’ do uso de tarifas para fins de proteção da economia doméstica, como vemos no etanol, que tem uma disparidade grande entre as tarifas cobrados por EUA e por Brasil”, disse, durante o evento Plano de Voo 2025, da Amcham Brasil, que ocorre nesta segunda-feira, 17.
A fala foi indiretamente endossada pelo economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, que disse que o Brasil ‘talvez seja o país mais fechado do planeta’ e que tem tarifas muito altas, avaliando a reciprocidade na política tarifária como ‘um risco maior’.
Chapman comentou que a China concentra importações de matéria-prima do Brasil, ao passo que os EUA tendem a importar mais produtos manufaturados, que ‘geram mais emprego’, segundo o diplomata.
Apesar das rusgas e da distinção política de ambos os mandatários, Chapman disse que ‘há espaço para negociação’ entre Brasil e EUA, com pragmatismo vindo da Casa Branca.
Além disso, citou que a relação – política, diplomática e comercial – deve melhorar quando ‘as manchetes estiverem mais positivas’, citando indiretamente um episódio em que a primeira dama brasileira, Janja, ofendeu o bilionário Elon Musk – que agora ocupa um posto no governo de Trump.
“Estou otimista, acho que é um momento de oportunidade, é um momento de reaproveitar, pensar tudo que poderia ser feito se a relação EUA-Brasil recomeçasse. As manchetes que saem daqui também tem que ser mais positivas, não queremos ver manchetes de elogios ao Irã ou de xingamentos a Elon Musk.”
A avaliação do ex-embaixador dos Estados Unidos é de que o país deve ‘mapear seus interesses’ e trabalhar mais bilateralmente com seus parceiros.
‘Vai ser mais difícil negociar com os EUA agora’
Christopher Garman, Diretor Executivo para as Américas do Eurasia Group, também integrou o painel e complementou a fala do embaixador declarando que ‘não ajuda nada’ as falas de Lula citando “desdolarização” na reunião dos Brics.
O especialista ainda acrescentou que algumas das propostas de Trump ‘não são concretizáveis’.
“O desafio é contrabalancear o ânimo com as incertezas que estão na mesa, com esse governo que esta iniciando um ciclo tarifário e deportações em massa. Trump tem uma crença clara que o uso de tarifas é uma política industrial, um meio de trazer empregos para os EUA, e a base republicana está impulsionando para uma política de deportações maiores”, disse.
“O ciclo de tarifas, vemos com mais pessimismo e achamos que existe uma complacência do setor privado. Muito do que estava na mesa não vai ser concretizar, porque são propostas que não são executáveis. É difícil colocar 25% de tarifas sobre tudo do Canadá e México”, concluiu.
Segundo Garman, a negociação com Trump deve ser mais difícil agora do que no primeiro mandato do republicano.
“O caminho pela frente é, para o Brasil, negociar, mas com possíveis ressalvas. Vai ser mais difícil do que na primeira administração. No Brasil, o jogo é falar com fornecedores, com quem compra o aço, expor a importância do aço brasileiro, fazer esse jogo de negociação. Trump faz anúncios sem ter um plano necessariamente muito desenhado, já que ele voltou atrás em menos de 24h recentemente [sobre tarifas a México e Canadá]. É um presidente que centraliza o poder decisório.”