O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado na segunda-feira, 30, apontou para um saldo positivo na criação de vagas em maio, de 148.992. O número é resultado de 2.256.225 admissões e 2.107.233 demissões no período.

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De acordo com o levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), todas as vagas criadas no mês foram com salário de até dois salários mínimos. Nas faixas salariais maiores, houve resultado negativo, ou seja, perdas de vagas. Veja gráfico abaixo:

Salário médio de contratação cai

Com a saldo líquido de apenas de vagas de menor remuneração, o salário médio de admissão em maio de 2025 foi de R$ 2.248,71. Comparado ao mês anterior, houve uma redução real de R$ 10,98 no salário médio de admissão, uma variação em torno de -0,49%.

Para o economista da LCA Bruno Imaizumi, os dados mostram que o mercado de trabalho está mais aquecido para posições que exijam menos e, consequentemente, paguem menos. “Mas isso não significa quem já está no mercado não esteja recebendo mais, já que o Novo Caged só calcula salários de admissão e desligamentos. E não os que estão já no mercado sem se movimentar”, destaca.

Entre as análises, Bruno ressalta que, com o mercado aquecido e se expandido, ele está começando a englobar uma parcela da força em idade de trabalho que tem mais dificuldade de se inserir no mercado, mais ainda na formalidade.

“Vemos proporção maior de pessoas no mercado que já receberiam menos no mercado informal, mas agora estão conseguindo se ocupar formalmente. O que é positivo, pois consegue mais estabilidade e direitos trabalhistas”

Outro fator que pode explicar a criação de vagas com até dois salários veio do próprio ministro, Luiz Marinho. Ele detalhou que, dos 148.992 novos empregos formais, 98.003 é ocupado por jovens entre 18 a 24 anos, ou seja, população em início de carreira.

“Derruba por terra essa certeza de muita gente que diz: ‘Os trabalhadores jovens não estão aceitando ir para o mercado formal de trabalho’, comentou Marinho.

O ministro disse ainda que tem chamado a atenção, em especial dos sindicatos, que a base da pirâmide salarial é muito baixa. “Aqui também carece de um debate profundo sobre os pisos salariais nas empresas, nos segmentos, no comércio, serviços, enfim. Na minha opinião, é disso que se trata”, afirmou.

Caged de maio: positivo, mas abaixo do esperado

O resultado do Caged ficou abaixo das projeções de economistas consultados em pesquisa da Reuters, que apontaram criação líquida de 179.000 vagas. Ficou também acima dos 139.557 postos criados em maio de 2024, porém abaixo dos 156.193 registrados no mesmo mês em 2023.

Todos os agrupamentos de atividades registraram saldo positivo no mês, com destaque para Serviços com 70.139 novos postos. Seguiram comércio (+23.258 postos); indústria (+21.569 postos); agropecuária (+17.348 postos) e
construção (+16.678 postos).

O crescimento nas vagas de emprego também alcançou todas as regiões do país, com maior número de novas vagas no Sudeste (+74.536 postos, +0,30%), seguido pelo Nordeste (+45.888 postos, +0,57%), Norte (+10.836 postos, +0,45%); Centro-Oeste (+10.504 postos, +0,24%) e Sul (+7.117 postos, +0,08%).

No acumulado do ano, o saldo foi positivo em 1.051.244 empregos. Já nos últimos 12 meses, o crescimento dos postos foi de 1.628.644 empregos.

Ministro: juros altos interferem no mercado

O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, voltou a criticar o atual patamar da taxa básica de juros. Ele classificou a Selic em 15,00% ao ano como “excessivamente alta” e a chamou de “armadilha”.

“Nós somos escravos do juro alto, vocês sabem que juros atrapalham um bocadinho. Se não fossem os juros nesse patamar, seguramente poderíamos estar crescendo mais”, disse ele em coletiva de imprensa para detalhar o Caged de maio.

Sobre a velocidade de criação de postos de trabalho menor do que a do ano passado (com saldo de empregos de janeiro a maio de 2025 4,9% menor que no mesmo período de 2024), ele disse: “Quem sabe isso deixa o pessoal do Banco Central feliz e possa iniciar o processo de redução dos juros.”

O ministro afirmou ainda não enxergar impacto das guerras na empregabilidade, mas, sim, a política de juros. “Não vejo que as guerras têm influenciado por enquanto aqui na economia brasileira. Eventualmente, o comportamento do governo americano também pode influenciar alguma coisa, mas em grande parte mesmo, o que eu consigo enxergar aqui nos elementos que trabalho é a política de juros.”

Questionado sobre as projeções do mercado de que a Selic encerre 2025 em 15,00% e 2026 em 12,50% ao ano, ele respondeu que “temos que cortar os pulsos” se o BC mantiver a taxa em dois dígitos até fim do governo. “Nem li o Focus, me recuso a acreditar nisso, não é possível um negócio desse. Espero que tenham mais juízo na turma que tem essa bússola”, disse.

Marinho defendeu que o país precisa de mais produção para conter a inflação, não menos. Na visão dele, há sazonalidades que deveriam ser consideradas e aumentar juros “sacrifica” a sociedade “sem mudar absolutamente nada no preço”. “É um tema que eu nem gosto de falar para não me meter nessa seara”, completou.

Pnad: baixo desemprego, maior formalidade e massa salarial recorde

A divulgação da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) trouxe uma série de recordes. Primeiro, a taxa de desemprego no menor nível da série histórica para o trimestre terminado em maio. O número de trabalhadores com carteira assinada (CLT) no setor privado atingiu outra marca recorde,  de 39,8 milhões de pessoas. Além disso, a taxa de informalidade caiu para 37,8% da população ocupada no mesmo período, contra 38,6% em 2024.

Outro dado revelado pela pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) foi um recorde também na massa salarial. O rendimento médio mensal habitual de todos os trabalhos chegou a R$ 3.457 no trimestre encerrado em maio, o que representa um crescimento de 3,1% quando comparado ao mesmo trimestre do ano anterior.

Já a massa de rendimento habitual (a soma das remunerações de todos os trabalhadores) atingiu R$ 354,6 bilhões, novo recorde, subindo 1,8% no trimestre, um acréscimo de R$ 6,2 bilhões, e aumentando 5,8% (mais R$ 19,4 bilhões) no ano.

“Como o rendimento médio real permaneceu estável, consequentemente ocorreu aumento da massa de rendimentos, ou seja, a maior massa de rendimentos resultou quase exclusivamente da expansão do volume de ocupados, e não de aumento do rendimento médio”, explicou o analista.

*Com informações de Estadão Conteúdo e Reuters