Relatório do Itaú aponta que os ganhos do Brasil com a política de tarifas mais elevadas prometida pelo presidente norte-americano Donald Trump tendem a ser limitados e que país tem mais a perder do que a ganhar com novas taxas.

O documento intitulado “Brasil: como fica o comércio exterior no governo Trump 2?”, levou em consideração o comércio de produtos como soja, milho, aço, petróleo e minério de ferro. A conclusão do Itaú é que os impactos negativos de uma nova guerra comercial para o Brasil podem ser maiores do que na primeira, ocorrida em 2018, pois os ganhos potenciais são limitados, enquanto os riscos de novas tarifas e retaliações aumentam. 

As exportações brasileiras que podem ser mais afetadas por novas tarifas americanas incluem principalmente os setores de siderurgia, combustíveis e aviação. Outros produtos, como alimentos (carnes e café), também podem ser impactados, mas provavelmente em um segundo momento, já que podem ter um impacto maior na inflação norte-americana, apontou o documento assinado pelos economistas Igor Barreto Rose e Julia Marasca

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EUA tem superávit comercial com Brasil

O presidente Donald Trump afirmou que vai focar os primeiros aumentos de tarifas em países que os Estados Unidos possuem déficit comercial. Neste ponto, o Brasil tende a escapar de grandes aumentos nesse primeiro momento, já que os EUA possuem superávit comercial e exportam mais para o Brasil do que importam. 

Os primeiros países atingidos pela nova política foram China, México e Canadá. A alíquota de 10% sobre os produtos chineses já entrou em vigor nesta terça-feira, 4. Já a taxação de 25% em produtos do México e do Canadá foi adiada por um mês para a negociação entre os governos. O Vietnã pode ser outro país alvo das novas políticas comerciais norte-americanas. 

Mas os produtos brasileiros não devem escapar por muito tempo, já que Trump mencionou uma possível tarifa universal de 10% e cita o governo brasileiro como “grande taxador”. Já Kevin Hassett, presidente do Conselho de Políticas Econômicas do novo governo, indicou que a política externa americana pode adotar como princípio equiparar as tarifas cobradas entre países. De acordo com o Itaú, o Brasil tarifa, em média, em 11,2% os produtos importados dos Estados Unidos. Os EUA aplicam uma tarifa de 1,5%, em média, em itens brasileiros. 

Em 2019, Trump já havia acusado o Brasil de manipular as taxas de câmbio para que uma moeda mais depreciada incentivasse a exportação de produtos do país. Na ocasião, o dólar estava custando R$ 4. 

O que esperar para soja e milho? 

Mas a taxação de produtos chineses que entram nos Estados Unidos não pode fazer com que a China compre mais produtos brasileiros, como soja e milho, em detrimento dos norte-americanos? 

O relatório destaca que o aumento do market share de produtos brasileiros na China que aconteceu entre 2018 e 2020 não deve se repetir, já que 70% das importações chinesas de soja já têm origem brasileira e a substituição da soja norte-americana pela do Brasil já foi realizada.

Com relação ao milho, 45% do consumido na China é brasileiro, contra 30% que vem dos Estados Unidos. O relatório aponta, porém, que estoques internos elevados na China podem levar a uma redução nas importações este ano.