BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) – O governo brasileiro vai procurar os Estados Unidos para encontrar uma solução para a tarifa de 25% imposta pelo presidente norte-americano, Donald Trump, sobre as importações de aço e alumínio dos EUA, disse nesta quarta-feira o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin.

Em entrevista a jornalistas no Palácio do Planalto, Alckmin defendeu pleito da indústria siderúrgica brasileira de manutenção do sistema de cotas de exportação sem a sobretaxa, como ocorreu em 2018 no primeiro mandato de Trump como presidente dos EUA, quando ele também impôs tarifas sobre aço e alumínio.

Alckmin disse que conversou na véspera com a embaixadora brasileira em Washington para que seja realizado um encontro com o governo norte-americano em busca de uma solução para as tarifas, que têm impacto direto sobre as exportações do Brasil.

“Cotas são um mecanismo inteligente, se você aumenta a tarifa aumenta o custo para a cadeia norte-americana”, afirmou.

Mais cedo, o presidente da associação de siderúrgicas brasileiras Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, se mostrou otimista sobre a possibilidade de diálogo entre Brasil e EUA, mas frisou que o governo brasileiro tem menos de um mês para conseguir um acordo com Washington para a manutenção do sistema de cotas atual.

“A lógica de 2018 não mudou. É a mesma lógica de hoje”, disse o executivo, citando o processo negocial em que o Brasil convenceu o primeiro governo de Trump a aceitar o sistema de cotas sem imposto para as importações de aço brasileiro, em vez da cobrança de 25% sobre todo o volume que chega aos EUA.

Em 2018, Trump anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre importações de aço e de 10% sobre alumínio. Desta vez, o governo comandado pelo bilionário anunciou tarifas iguais de 25% com início de vigência a partir de 12 de março.

“EXPECTATIVA FAVORÁVEL”

Negociações entre Brasil e EUA em 2018 para revisar as tarifas duraram meses e criaram o sistema em que o Brasil pode enviar sem pagar tarifas aos EUA 3,5 milhões de toneladas de produtos semiacabados (placas) para laminação e 687 mil toneladas de laminados por ano.

Desde então o setor brasileiro vem tentando flexibilizar esse sistema para que fosse flexível, permitindo o envio de mais produtos aos EUA além dos limites rígidos, mas, nesse caso, incorrendo na tarifa de 25% sobre o excedente.

“Foram vários meses da primeira vez porque tratava-se de algo inusitado naquela época… Mas esse acordo agora tem cerca de seis anos de vigência, e se durou esse tempo todo é porque foi benéfico para ambas as partes”, disse o presidente do Aço Brasil.

“Temos uma expectativa favorável”, acrescentou sobre a esperança de negociações rápidas para a revisão das medidas desta semana decididas por Trump.

Questionado se o setor pode reduzir exportações aos EUA, o que poderia trazer impactos ao volume de produção de aço das siderúrgicas brasileiras, Lopes citou que “não há programa de redução de nada na produção”.

Em 2024, as exportações de aço do Brasil somaram 9,6 milhões de toneladas, uma queda de 18% sobre 2023, segundo dados do Aço Brasil. Desse volume, 3,4 milhões de toneladas de placas foram para os EUA.

Na véspera, o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, citou que as exportações brasileiras para os EUA podem cair se os termos atuais da medida de Trump não forem revistos, devido ao fim da vantagem da cota sem tarifa e a competição com produtores globais, o que tende a achatar os preços no mercado internacional e reduzir a rentabilidade das empresas.

Antes do anúncio das tarifas norte-americanas, a previsão do Aço Brasil, divulgada em meados de dezembro, para a produção este ano era de queda de 0,6%, para 33,6 milhões de toneladas.

Enquanto isso, o setor siderúrgico brasileiro tenta convencer o governo federal a ampliar as medidas de defesa comercial contra a China, adotadas no ano passado sobre alguns produtos.

“O grau de dificuldade aumentou tremendamente, o contexto ficou mais complexo”, disse Lopes se referindo ao risco às exportações aos EUA em meio a um quadro de importações elevadas de aço pelo Brasil.

“O setor não tem tempo de esperar mais nada”, acrescentou ao ser questionado se as tarifas de Trump poderiam servir como estímulo para o governo federal acelerar a adoção de medidas mais amplas de proteção comercial.

Nesta quarta-feira, questionado por jornalistas se o Brasil poderia aplicar reciprocidade às tarifas de Trump, Alckmin respondeu que “precisamos ter cautela”.

“Comércio exterior é ganha-ganha… O caminho é diálogo, isso já aconteceu anteriormente. Vamos dialogar para buscar um bom entendimento. Não tem guerra tributária”, disse Alckmin citando que “há várias alternativas”, incluindo cotas.

(Por Lisandra Paraguassu, em Brasília, e Alberto Alerigi Jr., em São Paulo)

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