De Bruxelas, na Bélgica, veio a notícia: o Parlamento Europeu e os Estados-membros da União Europeia (UE) chegaram a um acordo para proibir a importação de vários produtos de desmatamento pelos países da região. Estão incluídas nas restrições commodities como gado, cacau, café, soja, madeira, milho, suínos e aves.

O problema para o Brasil é que, segundo o Sistema Integrado de Comércio Exterior do governo federal, dos US$ 120 bilhões em produtos agropecuários brasileiros exportados no ano passado os principais foram soja (53,5%), produtos florestais (14,4%), carnes (8,3%) e café (3,9%).

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Enquanto os líderes políticos do bloco avançam na mudança da legislação, por aqui o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, classificou como preocupante o impacto que as novas regras podem ter no agronegócio brasileiro. A declaração foi feita durante o tradicional evento de apresentação da retrospectiva do ano e projeções para a temporada seguinte. Segundo Martins afirmou, a entidade tem usado a diplomacia para tentar sensibilizar os líderes da região. “Durante o ano inteiro tivemos diversas reuniões com representantes do Bloco Europeu e com diplomatas para mostrar a sustentabilidade do nosso agro”, disse ao garantir que todos ficam muito bem impressionados ao conhecer técnicas de agricultura de baixo carbono do País.

Um dos exemplos da estratégia da entidade aconteceu em junho de 2022 quando embaixadores, adidos e secretários de agricultura de 11 nações estiveram no Mato Grosso como parte do programa de intercâmbio de conhecimento batizado de Agrobrasil. Durante uma semana, representantes de Alemanha, Austrália, Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos, Índia, Indonésia, Malásia, Países Baixos, Singapura e União Europeia visitaram o governo do estado, a Fazenda Bom Futuro e a Embrapa Agrossilvipastoril. No tour, conheceram in loco técnicas como agrofloresta, plantio direto, Integração Lavoura-Pasto-Floresta (ILPF), todas já em amplo uso  no estado que possui 903,2 mil km2, sendo 3,3% dedicado à produção agrícola, 25,1% à pecuária e 60,6% coberto por mata nativa.

A decisão do Parlamento Europeu, no entanto, mostra que é preciso fortalecer ainda mais o diálogo já que a complexidade para o agro nacional é diferente de outras partes do mundo. Pelas novas regras, toda a cadeia de valor deverá estar em conformidade. No Brasil, isso significa mais de 5 milhões de potenciais propriedades produtivas dispersas em um território que soma 8,5 milhões de Km2. Para Sueme Mori, diretora de Relações Institucionais da entidade, uma avaliação mais precisa do impacto para o setor ainda é prematura. “Os textos divulgados pelo Parlamento Europeu não deixam claro pontos importantes como, por exemplo, qual será a amplitude na cadeia da decisão”

O fato da semana é só mais um capítulo de uma briga repleta de informações truncadas e imprecisas que atribuem ao agronegócio brasileiro o papel de vilão absoluto do meio ambiente. É preciso assumir: nem vilão, nem santo. Há falhas que precisam ser urgentemente corrigidas, há boas práticas que precisam ser disseminadas e há uma premente necessidade de melhorias da comunicação do agro com a sociedade, seja ela a brasileira ou a internacional.