São mais de 300 mil turistas do Brasil que abrem suas carteiras em Paris todos os anos, conforme estimativa da própria Secretaria de Turismo e Congressos da capital francesa. Em busca de alta gastronomia e, claro, compras, essa turma tem sido cada vez mais assediada pelos grandes centros de compras de lá, como as galerias Lafayette e Printemps, ávidas pelo euro fácil dos brasileiros. Entre as estratégias, a Le Bon Marché – a mais antiga loja de departamentos de luxo do mundo, com 160 anos – vai inaugurar em abril uma exposição para homenagear a cultura do País. Batizada de Le Brésil Rive Gauche, a mostra sobre moda, arte, gastronomia e design dará um astral mais verde-amarelo à loja. 

 

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Sinal dos tempos: que aristocrata francês, na época da inauguração da Le Bon Marché, em 1852,

poderia imaginar que a loja mais chique da Europa iria homenagear o “povo selvagem” deste lado do Atlântico?

 

“Os brasileiros são os nossos clientes mais leais”, diz Patrice Wagner, CEO da Le Bon Marché. Entre os nomes cotados para mostrar suas criações estão os estilistas Reinaldo Lourenço e Amir Slama. Emissários do Le Bon Marché estiveram no Brasil, no final de 2012, para escolher também trabalhos de artesanato. Serão enviadas à Cidade Luz mais de 1,5 mil peças de artistas de Minas Gerais – entre elas porcelanas, jogos americanos e até pedras-sabão. A proposta da loja, controlada pela holding LVMH Moët Hennessy, o maior grupo mundial do alto luxo, segue a tendência aberta pela gigante americana Macy’s. Em 2011, a varejista promoveu a mostra Brazil: A Magic Journey com o intuito de celebrar os consumidores brasileiros.

 

HISTÓRIA O Le Bon Marché nasceu em 1852, pelas mãos de Aristide Boucicaut, filho de um designer de chapéu que, ao se mudar para Paris, resolveu investir em um modelo novo de negócio. Consistia em oferecer variedade de opções de marcas, produtos e serviços, tudo em um mesmo lugar. Boucicaut fundou, assim, a loja, que ocupa uma área de 30 mil metros quadrados, nas cercanias do Jardin de Luxembourg, em um prédio que conta com a assinatura do engenheiro Gustav Eiffel, o mesmo que desenhou a famosa torre que leva seu sobrenome, no time de projetistas. Do lado de dentro, mais de 1,4 mil etiquetas de alto padrão, como a francesa Louis Vuitton, a italiana Gucci e a espanhola Balenciaga, se esparramam pelas araras.

 

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Patrice Wagner, CEO da Le Bon Marché: ”Queremos homenagear

os brasileiros, que são nossos clientes mais fiéis”

 

Não deixa de ser uma ironia constatar que brasileiro só gosta de loja de departamentos no Exterior – as experiências com esse modelo, protagonizadas por nomes como a americana Sears e as brasileiras Mappin e Mesbla, entre outras, acabaram malsucedidas. Empresas como a gaúcha Renner só deslancharam no mercado depois de abandoná-lo. Para Silvio Passarelli, diretor de gestão de luxo da Faculdade Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, é questão de gosto. “O brasileiro prefere ter exclusividade no espaço e no serviço”, diz Passarelli. “Por isso que aqui o conceito de shopping center faz sucesso.” Segundo ele, há sondagens de grandes grupos do setor para se lançar no mercado nacional, mas a operação é arriscada. O jeito, portanto, é continuar gastando no estrangeiro, onde o nosso dinheiro é muito bem-vindo.