15/08/2007 - 7:00

André Esteves
O jovem carioca de 38 anos, que era um dos principais sócios do banco de investimentos Pactual, irá comandar a área de renda fixa do banco suíço UBS, em Londres. Isso significa que ele terá sob seu comando nada menos que US$ 900 bilhões. Nunca um brasileiro subiu tão alto no mundo das finanças globais. Além disso, seu patrimônio pessoal já é superior a US$ 1 bilhão e cresceu depois da venda do Pactual ao UBS.
Há pouco mais de um ano, quando o suíço UBS comprou o banco de investimentos Pactual por US$ 3,1 bilhões, um ar de resignação tomou conta do mercado financeiro. Por um punhado de dólares, mais uma empresa brasileira ? talvez a mais bem-sucedida da história recente ? terminava em mãos estrangeiras. Com a operação, alguns imaginavam que, em pouquíssimo tempo, a agilidade dos garotos do Pactual seria substituída pela frieza dos suíços. Era uma leitura equivocada. Para saber o que realmente estava acontecendo, bastava conhecer a história e o perfil do principal executivo por trás do negócio. No momento da venda, o carioca André Esteves já havia traçado um desenho do seu futuro, como um enxadrista que tenta enxergar duas ou três jogadas à frente. Na semana passada, o futuro chegou. O principal sócio do Pactual assumirá o cargo de chefe global de renda fixa do UBS em Londres e terá sob suas asas a gestão de inacreditáveis US$ 900 bilhões ? um valor próximo ao PIB nacional. Nunca um brasileiro voou tão alto no mundo das finanças globais. Antes dele, Álvaro de Souza havia se tornado o maior gestor de fortunas do Citibank, mas cuidava de uma carteira de US$ 60 bilhões. Henrique Meirelles, quando presidiu o BankBoston mundial, comandou um banco de US$ 70 bilhões. A escala alcançada por Esteves, hoje com 38 anos, é inédita e impressionante.

?Com a sua experiência em mercados emergentes e com o histórico de sucesso na criação de um banco tão ágil como o Pactual, ele irá implementar uma estratégia de crescimento?, disse Huw Jenkins, chairman do UBS.
Personagens

Carlos Ghosn
Aos 51 anos, esse brasileiro de Rondônia é o executivo mais bem pago da Europa. Por ano, ele recebe ? 45,5 milhões como presidente da Renault e Nissan. O grupo fatura US$ 130 bilhões e investirá 11% da receita em três anos.

Carlos Brito
Aos 47 anos, o presidente mundial da Inbev comanda a maior cervejaria do mundo. No seu portfólio estão 200 marcas. A empresa atua em 30 países e faturou ? 13,3 bilhões no ano passado.

Alberto Weisser
De Nova York, o CEO mundial da Bunge, uma gigante em alimentos do mundo, responde pelas operações em 21 países, que faturam US$ 26,3 bilhões. O grupo tem 22 mil funcionários. No Brasil, o investimento será de US$ 1 bilhão.

Paulo Sérgio Kakinoff
O jovem executivo de 32 anos é hoje uma das peças mais importantes da Volkswagen no mundo. Chefe de desenvolvimento de vendas do grupo, responde pelas ações de marketing da empresa em 40 países e tem US$ 2 bilhões para investir. Sediado em Wolfsburg, na Alemanha, ele tem a missão de reposicionar as marcas de vários modelos da montadora, que vende 5,6 milhões de automóveis por ano.

Nicandro Durante
Aos 49 anos, ele assumiu uma diretoria mundial da British American Tobacco, que controla a Souza Cruz no Brasil e fatura ? 25 bilhões. É o responsável pela operação do grupo em 50 países, onde as vendas chegam a 120 bilhões de cigarros.

Paulino do Rego Barros Jr.
Presidente de Operações Globais da AT&T, a maior operadora mundial de telecomunicações, ele é responsável por investimentos de US$ 18 bilhões de uma empresa que fatura US$ 117 bilhões. Com base em Atlanta, nos Estados Unidos, tem como principal missão ampliar as receitas da AT&T com soluções IP, que ligam telefonia à internet.

Alain Belda
Foi o primeiro executivo brasileiro a chegar ao topo de uma multinacional. Aos 63 anos, ele comanda a gigante do alumínio Alcoa, que tem mais de 124 mil empregados, espalhados em 300 unidades operacionais em 44 países. Sob seu comando, o grupo faturou US$ 30,4 bilhões em 2006.

Joesley Batista Júnior
Dono do grupo Friboi, ele passou a comandar o maior frigorífico do mundo, ao adquirir a Swift por US$ 1,4 bilhão. Sua empresa, fundada por seu pai em 1953, hoje abate 47 mil animais por dia e tem uma receita global de US$ 11,5 bilhões. É a maior no Brasil, nos Estados Unidos, na Austrália e na Argentina, os grandes celeiros da pecuária.

Roger Agnelli
Com a aquisição da canadense Inco, por US$ 18 bilhões, e de uma série de mineradoras no mundo, a Vale do Rio Doce, comandada por Roger Agnelli, hoje tem um valor de mercado de US$ 114 bilhões e é a empresa mais valiosa do Brasil. Para os próximos anos estão programados investimentos de US$ 7,4 bilhões, o que faz da Vale a maior multinacional brasileira.
O ex-dono do Pactual representa o símbolo maior de uma geração de empresários e executivos brasileiros que vêm conquistando o poder nas corporações globais. São pessoas que comandam orçamentos bilionários, que estão à frente de grandes setores industriais e cujas decisões podem mudar o mundo. O que os une é a ousadia e a busca incessante por resultados. Ao escolher Esteves como seu braço direito, Huw Jenkins revelou que o UBS não adquiriu apenas um banco de investimentos ao arrematar o Pactual. Comprou um estilo de gestão, fundado na meritocracia e na eficiência. Esteves, por sua vez, foi seduzido pelo desafio porque suas ambições são ainda maiores do que sua juventude e seu patrimônio ? já superior a US$ 1 bilhão. Fontes próximas ao banqueiro revelam que boa parte do que ele recebeu ao vender o Pactual foi investido em ações do próprio UBS. Além disso, ao aceitar a transferência para Londres, ele também receberá um novo ? e generoso ? pacote acionário.
?O sonho do André é se tornar o maior acionista do UBS no mundo?, revela um ex-sócio do Pactual. Para quem conhece o banqueiro, é muito provável que seja verdade. Há um ano, ele disse à DINHEIRO que se inspirava em Jorge Paulo Lemann, o lendário financista que criou a Ambev e que, mesmo depois de vendê-la para a belga Interbrew, se tornou mais relevante lá dentro do que os próprios compradores. Esteves e Lemann são amigos, aconselham-se mutuamente e, de certa forma, um começa a repetir a história do outro.
O modelo Ambev de gestão também explica o sucesso de outra estrela brasileira no mundo corporativo global. Trata-se de Carlos Brito, de 47 anos, que desde o início de 2006 lidera na Bélgica a expansão da Inbev, companhia resultante da fusão com a Interbrew. Até agora, o CEO da Inbev já importou mais de 30 executivos da Ambev para missões estratégicas no grupo e essa ?conquista? da cervejaria por brasileiros gerou ondas de protestos na Bélgica.
Brito, que recebe cerca de 4 milhões de euros por ano, não parece se importar. Seu foco é gerar resultados ? e isso vem ocorrendo. Sob seu comando, a empresa se tornou a maior cervejaria do mundo e alcançou receita anual de 13,3 bilhões de euros. ?Quem não dá o sangue aqui dentro não tem futuro?, costuma dizer Brito nas reuniões com seus principais executivos. Meses atrás, especulou-se que a Inbev poderia até mesmo comprar a Anheuser-Bush, dona da Budweiser, que é a segunda no ranking global.
Exemplos como os do Pactual e da Ambev, de empresas que foram adquiridas, mas se tornaram agentes de transformação nas matrizes, explicam apenas parcialmente a ascensão brasileira no mundo. Também têm sido cada vez mais comuns aquisições por empresas nacionais de grandes alvos no Exterior ? e mesmo em países ricos. O exemplo mais claro foi a compra da canadense Inco pela Vale do Rio Doce, por US$ 18 bilhões. O movimento, arquitetado pelo executivo Roger Agnelli, transformou a Vale na segunda maior mineradora do mundo, atrás da BHP Billiton, com valor de mercado de US$ 114 bilhões. Outro caso de sucesso foi a compra da norte-americana Swift pelo Friboi, de Joesley Batista, que se tornou o maior frigorífico do mundo, com grandes operações em toda a América Latina, nos Estados Unidos e na Austrália. Com capacidade para abater 47 mil animais por dia, o novo Friboi terá receita anual de US$ 11,5 bilhões.
CAPACIDADE DE REAGIR ÀS CRISES E FLEXIBILIDADE NO COMANDO EXPLICAM SUCESSO
O fato é que, pela primeira vez, o Brasil convive com um quadro macroeconômico raro ? de abundância de divisas ? e com uma situação microeconômica também extremamente favorável. Graças ao boom do mercado acionário, cujo arquiteto foi o banqueiro André Esteves, que fez do UBS Pactual líder em aberturas de capital, as empresas brasileiras estão cada vez mais capitalizadas e aptas a crescer no Exterior. Esse fenômeno foi captado numa pesquisa inédita da KPMG, que será divulgada nesta semana, e foi antecipada à DINHEIRO. ?Há alguns anos para cada quatro aquisições de empresas nos mercados emergentes por multinacionais de países ricos havia um movimento no sentido inverso?, disse à DINHEIRO Cláudio Ramos, sócio da KPMG, que participou desse levantamento global. ?Hoje, a relação é inferior a dois para um.? No primeiro semestre deste ano, por exemplo, houve 126 operações de fora (países ricos) para dentro (emergentes) e 67 aquisições na direção contrária (leia quadro na página seguinte). Ramos também participou de um outro estudo interessante, chamado de Global M&A Predictor. É um trabalho que visa prever as tendências de fusões para o futuro. ?A pesquisa apontou as empresas brasileiras como as que estão mais aptas a crescer no Exterior?, diz o sócio da KPMG. ?Elas estão capitalizadas, com baixo endividamento e, portanto, com forte poder aquisitivo.?
A nova força dos emergentes também catapultou a carreira de outro executivo brasileiro. Tratase de José Francisco Martins Viveiros, de 58 anos, que assumiu o posto de CEO de mineração da indiana Arcelor Mittal, um grupo que fatura US$ 88,6 bilhões por ano. Sua missão é fazer com que a produção de minério do grupo salte para 100 milhões de toneladas. Isso reduzirá a dependência que o grupo tem hoje em relação à Vale do Rio Doce, onde Viveiros trabalhava. Ele será mais um expatriado, assim como muitos outros que têm feito sucesso no Exterior. Um deles é Paulo Kakinoff, de apenas 32 anos, que se transferiu para Wolfsburg, na Alemanha, onde cuidará do marketing da Volkswagen em nada menos que 40 países. ?O desafio é imenso, mas traduz tudo aquilo com que sonhei?, disse ele à DINHEIRO.
No mundo das montadoras, no entanto, nenhum brasileiro foi tão longe como Carlos Ghosn, que dirige a francesa Renault e a japonesa Nissan. Seu salário atual, de 45 milhões de euros, é hoje o maior da Europa. Rápido e direto, suas reuniões não costumam durar mais do que 15 minutos. ?Não preciso saber dos detalhes?, costuma dizer Ghosn.
Com fama de ?matador de custos?, ele tirou a Nissan do abismo, mas hoje está sob pressão dos investidores. Isso porque, no primeiro trimestre, os lucros da Nissan e da Renault caíram 16,2% e 20,6%, respectivamente. ?Ele tem uma agilidade mental acima da média e saberá superar qualquer desafio?, avalia Diogo Clemente, ex-diretor da Ford, que acompanha de perto o trabalho de Carlos Ghosn, na Renault.
Ter um brasileiro como principal prioridade máxima da AT&T, é trazer novas soluções de telefonia por meio do protocolo IP, que utiliza a internet, na era da convergência tecnológica. No mundo dos alimentos, há também um brasileiro na proa, que é Alberto Weisser, da Bunge, uma das grandes esmagadoras e tradings de grãos do planeta.
Nos cigarros, quem se destaca é Nicandro Durante, que dirige as operações da British American Tobacco, dona da Souza Cruz, em 50 países. A seu favor, pesou a experiência no instável e turbulento mercado brasileiro. ?O Brasil foi a minha melhor escola?, disse ele à DINHEIRO em entrevista recente. Além deles todos, há ainda uma lembrança obrigatória, que é Alain Belda. Ele comanda a gigante do alumínio Alcoa desde 2001 e, meses atrás, chegou a discutir uma possível compra da Alcan. Hoje, lidera um colosso com 124 mil empregados e receita anual de US$ 30,4 bilhões. E mesmo na competitiva aviação civil norte-americana há um brasileiro voando alto. Trata- se de David Neeleman, que nasceu em São Paulo e hoje comanda a JetBlue, uma empresa de baixo custo que ele criou em 1998.
A JetBlue possui atualmente 127 aviões, mais de 500 vôos diários para 54 cidades dos Estados Unidos e 10,7 mil empregados. Com esses números, a JetBlue tornou-se a empresa aérea de mais rápido crescimento na América do Norte. ?A minha receita é simples?, disse ele à DINHEIRO. ?Eu amo o que faço e faço sempre o melhor que posso?.