As ações da Braskem operam em forte alta e lideram o Ibovespa no pregão desta segunda-feira, 26, em resposta ao fato relevante divulgado pela empresa que confirmou que o empresário Nelson Tanure fez uma oferta pela aquisição do controle.

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Às 10h40 os papéis subiam 11,8%. Mais tarde, por volta das 12h30, as ações da Braskem subiam 8,1%, desacelerando a alta mas ainda mantendo a liderança do Ibovespa.

Em comunicado, a Novonor (antiga Odebrecht), que atualmente é o acionista controlador da Braskem, diz que ‘a proposta está condicionada a condições precedentes, dentre elas a conclusão de negociações com os bancos credores e o cumprimento integral das obrigações da Novonor com a Petrobras, decorrentes do Acordo de Acionistas’.

“A Novonor manterá a Braskem informada sobre eventuais avanços materiais nas discussões relacionadas, para que a companhia possa adotar as providências cabíveis em observância à lei societária e regras de governança aplicáveis”, diz  a nota.

Atualmente a Novonor tem 50,1% do capital votante da empresa, enquanto a Petrobras tem 47%.

Analistas do BTG Pactual Henrique Pérez e Luiz Carvalho, que tem recomendação neutra para os papéis da empresa, destacaram que a ‘posição da Petrobras é uma incógnita crucial’ na oferta.

“Como acionista significativa e principal fornecedora de matéria-prima da Braskem, a Petrobras detém considerável influência. Se a Novonor aceitaria Nelson Tanure como parte do acordo de acionistas é incerto — e pode, em última análise, determinar a viabilidade da transação”, dizem os especialistas.

Além disso, a casa frisa que há um ‘limbo’ acerca dos direitos de tag along, já que caso a Novonor mantenha uma participação minoritária e Tanure
simplesmente concorde com o acordo de acionistas existente, é possível que a cláusula de tag along não seja acionada, o pode ‘decepcionar os investidores que antecipam um evento de liquidez por mudança de controle’.

Rumores de oferta já haviam causado rali

Na semana anterior os papéis BRKM5 já haviam saltado na bolsa de valores após fontes a par do tema terem falado à imprensa sobre uma eventual oferta de Nelson Tanure.

“O Tanure viu uma boa oportunidade, ainda mais com ações em baixa no setor petroquímico… Ele certamente vai conseguir um deságio bem significativo com os bancos credores para fazer negócio”, disse uma fonte à Reuters.

“Os bancos sabem que hoje a chance deles receberem essa dívida da Braskem é muito pequena e provavelmente com isso que o Tanure vai jogar”, acrescentou.

Conforme o resultado trimestral mais recente, ao fim de março a dívida bruta corporativa da petroquímica era de US$ 8,6 bilhões. Já a dívida líquida da companhia encerrou o mês em questão a US$ 6,6 bilhões.

Em termos de alavancagem, a dívida Líquida Ajustada é 7,92x o EBITDA Recorrente da companhia, representando alta de 7% ante o trimestre imediatamente anterior.

M&A da Braskem está na praça há anos

Uma eventual compra da fatia da Novonor na Braskem já é ventilada no mercado e na imprensa há anos, mas nunca foi concretizada. Os motivos que impediram a transação de ocorrer incluem as condições de mercado, com compressões dos spreads petroquímicos por conta dos ciclos – que impactaram drasticamente o preço das ações – à crise do afundamento de solo em Maceió, que também impactou o valor de mercado e a estabilidade da companhia.

Já em 2016, quando a Odebrecht foi implicada na Lava Jato, se iniciaram conversas preliminares para venda de participações em ativos, incluindo a Braskem.

Em 2018 a holandesa LyondellBasell chegou a ter negociações avançadas, mas que caíram por terra um ano depois.

Em um passado mais recente, em 2022 a Unipar Carbocloro entrou no jogo como potencial interessada, a Novonor formalizou contratação de assessoria financeira para venda e a Petrobras publicou interesse em vender sua participação de maneira conjunta ou separada da Novonor. Todavia, as negociações também não foram concretizadas.

Um ano depois, em 2023, o fundo Apollo Global Management e a Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (Adnoc) fizeram propostas não vinculantes, mas que também não foram efetivadas.

Em 2024 a Saudi Aramco e outras companhias asiáticas foram citadas pela imprensa como possíveis interessadas, mas sem confirmações públicas, ao passo que a Petrobras reforçou que só venderá em bloco com a Novonor.

Nesse contexto, atualmente a Novonor segue buscando um comprador e nenhuma proposta vinculante foi aceita até o momento.

Quem é Nelson Tanure, que fez a oferta

Nelson Tanure é um empresário, investidor e bilionário brasileiro, notório por atuar em operações envolvendo empresas com dificuldades financeiras ou em situações estratégicas de mercado – comprando-as para depois reorganizá-las ou revendê-las.

Tanure esteve envolvido em setores variados, como energia, mídia e infraestrutura.

Entre os episódios mais conhecidos, estão sua participação na Docas Investimentos e a atuação no grupo de telecomunicações Oi, durante o período de recuperação judicial da companhia.

Nelson Tanure possui um portfólio diversificado de investimentos em empresas brasileiras de diversos setores:

  • O maior acionista da Alliança Saúde (antiga Alliar), detendo 93,3% das ações da empresa de medicina diagnóstica
  • Principal acionista da Light, com 21,8% do capital social da distribuidora de energia do Rio de Janeiro
  • Indicado para presidir o Conselho de Administração da EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), após o fundo Phoenix, do qual é cotista, adquirir o controle da companhia

No setor imobiliário, o empresário também possui uma participação significativa na Gafisa, uma das principais incorporadoras do país. Além desses investimentos, Tanure possui participações em outras empresas, como a Azevedo & Travassos, do setor de engenharia.

O empresário que fez a oferta pela Braskem também demonstrou interesse em adquirir a rede de supermercados Dia no Brasil, com possibilidade de fusão com o Grupo Pão de Açúcar (GPA), onde já detém cerca de 9% das ações .