Carlos Sanchez sempre foi um empresário relativamente discreto – mas agora, o controlador da EMS está sob os holofotes do mercado com sua oferta não-solicitada para tomar o controle da Hypera.

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A oferta, enviada ao conselho da concorrente na segunda-feira, 21, foi rechaçada 48 horas depois pelo board da Hypera, que argumentou que Sanchez está subavaliando a companhia e que a EMS — cuja receita vem predominantemente de genéricos — não é o melhor fit estratégico.

Carlos Sanchez, da EMS (Crédito:Divulgação/Sergio Lima)

A oferta pela Hypera é a maior tacada de Sanchez até agora para transformar em líder de mercado a empresa que seu pai, Emiliano, começou em 1964 depois de ser dono da pequena Farmácia Santa Catarina.

A EMS teve um faturamento líquido de R$ 8 bilhões no ano passado e um EBITDA de R$ 2,77 bi.

O setor farmacêutico tem hoje quatro grandes players. Uma fusão com a Hypera levaria vocês à liderança absoluta do setor. Foi isso que motivou a oferta?

Claro que o ganho de escala é um aspecto positivo, mas o principal motivo para vermos valor com essa transação é a complementaridade dos nossos portfólios.

Atualmente somos a maior companhia de genéricos e similares do mercado, com posição relevante em prescrição médica e com o maior crescimento nesse segmento nos últimos anos.

Também temos faturamento de aproximadamente R$ 1 bilhão no mercado institucional. Já a Hypera é a maior companhia de OTC e possui posição similar à nossa em prescrição médica. Juntos assumiremos a liderança no mercado de prescrição.

Acredito também que juntos temos muita complementaridade de competências. A EMS sempre foi uma companhia extremamente inovadora e focada em P&D, tendo construído o maior portfólio de moléculas do mercado. Já a Hypera é a melhor companhia na gestão e desenvolvimento de marcas.

O Júnior construiu marcas emblemáticas, tem excelência nisso, uma coisa que não fazemos bem hoje e na qual não temos DNA. Queremos nos beneficiar dessa qualidade que eles têm.

A Hypera (e alguns gestores) argumentam que a EMS é um grupo eminentemente de genéricos, e que a fusão geraria sinergias limitadas nas áreas comercial e de P&D. Qual sua visão sobre isso?

Acho que existem sinergias muito relevantes, e P&D é uma das grandes áreas de sinergia por alguns motivos. Temos hoje o maior portfólio de moléculas da indústria, então qualquer molécula que a Hypera esteja desenvolvendo que nós já tenhamos – e existem muitas – é um investimento que pode ser evitado.

O mercado potencial de moléculas é o mesmo para todas as companhias, então tanto nós quanto a Hypera estamos investindo em moléculas em duplicidade, e isso pode ser eliminado.

A Hypera disse que o valuation que vocês propuseram subestima “significativamente” o valor da companhia. Por que o valuation de vocês é justo?

Estamos propondo uma combinação de negócios e utilizando o mesmo múltiplo para avaliar as duas companhias. Nossa oferta levou em consideração o EBITDA histórico das duas empresas, ou seja, nem fizemos qualquer ajuste negativo depois do anúncio da última sexta. A EMS cresce mais, tem margens melhores, paga mais dividendos e está menos alavancada, o que por consequência reduzirá a alavancagem para os acionistas da Hypera depois da combinação.

A combinação gera enormes sinergias, que serão compartilhadas de forma estritamente proporcional pelos acionistas das duas companhias. E finalmente estamos oferecendo uma alternativa parcial em caixa – com prêmio sobre o preço de mercado – para quem preferir este caminho. Estamos sendo extremamente justos quando você compara com a alternativa, que é a Hypera seguir sozinha, sem sinergias e tendo que lidar com um ajuste operacional relevante ao longo dos próximos meses.

Leia a entrevista completa no Brazil Journal.