18/07/2025 - 7:30
De olho em um consumidor mais exigente em termos de sustentabilidade, a Breitling, marca suíça de relógios de luxo, prevê usar somente ouro que considera rastreável e de fontes que respeitem direitos humanos e com boas condições trabalhistas. Além disso, a companhia também estima usar somente diamantes feitos em laboratórios em um futuro breve, deixando de usar pedras preciosas naturais – que muitas vezes são extraídas em zonas de guerra na África, por exemplo.
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As novidades do portfólio da Breitling já são praticamente 100% alinhadas às práticas ESG. Até o fim deste ano, todos os novos lançamentos da coleção principal da marca com diamantes terão apenas pedras preciosas que foram cultivadas em laboratório.
Sobre o ouro, a companhia prevê, até o ano de 2030, usar somente o que foi extraído de minas que seguem os padrões da Swiss Better Gold Association (SBG) – uma associação fundada por empresas suíças do setor que promove uma cadeia de produção considerada sustentável.
Antoine H. Loron, Managing Director da Breitling para América Latine e Caribe, frisa que o movimento da Breitling está diretamente associado a um consumidor ‘mais exigente’.
“Nossos clientes tem demandado que a marca seja mais sustentável de um modo geral. Decidimos, alguns anos atrás, passar a trabalhar com a Swiss Better Gold, que é uma associação Suíça que trabalha para ter a melhor rastreabilidade para o ouro e para extraí-lo nas melhores condições”, afirma o executivo em entrevista à IstoÉ Dinheiro.
“A associação trabalha com duas minas, na Colômbia e no Peru, e garantimos que os trabalhadores estejam em boas condições. A Better Gold oferece bem-estar, saúde e educação para os trabalhadores e suas famílias. Eles trabalham com boas condições salariais, em condições mais próximas das normas da Suíça ou da Europa de um modo geral”, commpleta.
A exigência do mercado consumidor para com a rastreabilidade de produtos é uma prática que não se resume ao mercado de luxo. Como mostrou a IstoÉ Dinheiro, o Brasil tem sido pioneiro na adoção práticas que preveem a rastreabilidade do algodão utilizado na produção de camisetas que integram o portfólio de marcas conhecidas como Renner e Reserva.
Ouro sem mercúrio
Loron relata que o ouro é extraído sem o uso de mercúrio, o que a companhia considera que são as ‘melhores condições possíveis’.
A utilização do mercúrio na mineração é com o intuito de separar os sedimentos do metal precioso – a prática, todavia, é altamente tóxica e afeta os trabalhadores no sistema nervoso central, rins, fígado e pode causar danos permanentes em humanos, especialmente em mulheres grávidas e crianças.
Além da meta de só usar ouro sustentável até 2030, a empresa atesta estar ‘trabalhando para integrar ouro extraído de forma artesanal e em pequena escala em todos os produtos de sua coleção principal até o final de 2025’.
“Para cada grama adquirida, a Breitling faz uma contribuição que apoia diretamente as comunidades das quais ela obtém esse ouro. Essas comunidades, por sua vez, se beneficiam com investimentos em infraestrutura, salários legais, condições de trabalho saudáveis, proteção da biodiversidade e reabilitação da terra ao final das atividades de mineração”, diz um comunicado da empresa.
Diamantes ‘idênticos aos naturais’
Da mesma forma, os diamantes cultivados em laboratório atendem à mesma demanda de consumidores que olham mais para o ESG.
“Não temos uma data exata em que a Breitling deixará totalmente de usar diamantes naturais, mas boa parte das novidades do catálogo usam os feitos em laboratório, como o Breitling Super Chronomat 38 Origins”, conta Antoine H. Loron.
A produção em laboratório é feita aplicando gás e calor extremo a uma base de carbono, o que cristaliza o carbono e permite que os diamantes cresçam sob condições controladas.
“Os feitos em laboratório são idênticos aos naturais em todos os aspectos, e saber exatamente sua origem garante que eles estejam livres de vínculos com conflitos, violações de direitos humanos e degradação ambiental”, diz a Breitling sobre a matéria prima.
“Além disso, para cada quilate comprado, a companhia contribui para um Fundo de Impacto Social que apoia comunidades produtoras de diamantes”, completa a empresa suíça de relógios de luxo.
Vale destacar que em geral um diamante feito em laboratório costuma custar menos do que um natural com as mesmas características, com preço sendo menor em dois dígitos percentuais.
Debate sobre regulação na Suíça
Apesar do propósito indiscutivelmente nobre e das práticas mais sustentáveis do que a média da indústria, casos de um passado recente tornaram efervescente o debate na Suíça sobre o ouro de produzido de forma sustentável – levantando a hipótese de que se, apesar dos esforços voluntários das companhias do ramo, não será necessária também uma regulação por órgãos de controle e uma maior fiscalização.
Acidentes de trabalho em anos passados mostram que apesar das melhorias, ainda há avanços a serem feitos no ramo – especialmente em termos de segurança do trabalho.
Segundo informações do jornal Tribune de Genève, em meados de maio de 2023 ocorreu uma tragédia na mina de La Esperanza, em Yanaquihua, no Peru. Na ocasião, 27 trabalhadores morreram em um incêndio.
A mina é uma das maiores do tipo na região, e o incidente chamou atenção internacional para as condições do setor de mineração artesanal. O ouro extraído estava sendo vendido para a refinaria Metalor, segundo o jornal. A refinaria integra a inciativa Swiss Better Gold.
O debate se tornou mais relevante dentro da Suíça dado que a associação é cofinanciada em dezenas de milhões de francos suíços pela Secretaria de Estado para Assuntos Econômicos do país, a SECO.
No site da associação há comunicados recentes sobre melhorias feitas em minas associadas.
Em uma publicação que data de 22 de março deste ano, sobre Minera Sotrami – cooperativa peruana -, a associação diz que ‘tomou conhecimento de um acidente fatal que resultou na trágica morte de dois trabalhadores terceirizados devido à exposição a gases tóxicos’.
A associação alega ter analisado o relatório e que agendou uma nova vistoria após o acidente.
Em outro comunicado, sobre a Yanaquihua, a SBG alega também estar ‘trabalhando ativamente para fortalecer práticas de saúde e segurança ocupacional’.
Segundo a associação, foi implementado um plano estruturado de melhoria contínua, com foco em áreas críticas como preparação para emergências, treinamentos e documentação. Monitoramentos realizados em agosto e outubro confirmaram 89% de conformidade em SSO e 97% de conformidade operacional geral.
As companhias atualmente associadas à Swiss Better Gold são:
- Audemars Piguet
- Argor
- aXedras
- BDL5
- Breitling
- Cartier
- Chaume
- Chopard
- Degussa Goldhandel
- Fred
- Fredy Sadik
- Helveticor
- Hublot
- Impact Finance
- La Prairie
- LVMH Watches & Jewelry
- Metalor
- OCIM
- MKS PAMP
- Precious Watch Factory
- PX Group
- Raiffeisen
- Richemont
- Solidus
- Swiss Positive Fund
- UBS
Sobre a nova coleção de relógios da Breitling
A companhia lançou neste mês de julho de 2025 novos relógios, com uma atualização sua linha Superocean Heritage. A linha em questão nasceu em meados de 1957, com o primeiro cronógrafo de mergulho e já ganhou releituras em anos passados.
Nessa nova coleção a companhia passou a oferecer novas opções de tamanho, com modelos com caixas de 36 mm, 40 mm, 42 mm e 44 mm, com o cronógrafo limitado a 42 mm

A investiu em um mostrador novo, com acabamento em azul, verde ou preto, e índices pontiagudos mais nítidos. O bezel cerâmico colorido também é mais resistente a riscos, valorizando durabilidade.
Os braceletes são integrados, com pulseiras em malha de metal no padrão mesh ou borracha.
A coleção contou com uma linha lançada em parceria com o surfista bicampeão mundial, Kelly Slater, que é limitada a 500 peças. O modelo está disponível com pulseira borracha azul estilo ou malha metálica e acompanha uma caixa temática com mensagem personalizada de Slater.
Os preços dos relógios da nova coleção da Breitling no Brasil variam de R$ 34 mil a R$ 67 mil.