Com a vitória do primeiro-ministro britânico Boris Johnson, defensor do Brexit, surge um questionamento: Como fica a situação do Brasil que tem um acordo de livre comércio com a União Europeia?

Para o economista e chefe da consultoria MB Associados, Sérgio Vale, o impacto imediato do Brexit não deve ser tão nocivo para o Brasil, considerando que a Inglaterra não é um dos nossos principais parceiros comerciais.  Segundo dados da Associação Latino-Americana de Integração, China, Estados Unidos, Países Baixos, Argentina e Chile são os nossos principais parceiros de exportação em 2019. O Reino Unido ocupa a 15ª posição.

Porém, Vale afirma que o Brexit pode mudar este cenário, trazendo para o Brasil mais oportunidades de negócios “Ao sair da UE, a Inglaterra procurará parcerias comerciais com outros países. Veremos certamente acontecer um acordo entre EUA e Inglaterra, e também com o Brasil”, garante.

Demetrius Cesário,  professor de Relações Internacionais da ESPM concorda com Vale e vê um cenário positivo para o Reino Unido e o Brasil pós Brexit, que eventualmente pode trazer melhores resultados que o acordo Mercosul-EU. “O Reino Unido tem uma  postura mais liberal no comércio que pode beneficiar o Brasil, considerando que na UE países como a França e Irlanda ainda tem receios”, defende.

Os impactos do divórcio entre Reino Unido e a Europa apresentam consequências especialmente nas questões migratórias e no turismo. A desaceleração econômica do Reino Unido também deve impactar o cenário global em 2020, mas sem grandes prejuízos.

Oportunidades de Mercado

De acordo com os especialistas, mesmo com o Brexit, os acordos comerciais com a União Europeia prevalecem. Para Vale, o Brexit não representa uma ameaça para dita parceria comercial.  Mas, aponta que temos dois assuntos para nos preocupar: “Nossas principais ameaças são a reputação ambiental fragilizada que o Brasil tem na Europa. E o antagonismo entre Bolsonaro e Fernández, presidente da Argentina, que precisa parar para garantir o sucesso nas relações comerciais”.

Contudo, o Brexit deve trazer melhorias na balança comercial brasileira, com a abertura dos mercados agrícolas no Reino Unido e da indústria e os serviços no Brasil. “A Inglaterra é líder em serviços, vemos oportunidades também no setor automobilístico, mas para isso será necessário que eles estejam realmente abertos a importar as nossas commodities”, explica Vale.

Caso a abertura aconteça o Brasil terá bons resultados no agronegócio, com exportação de carnes, lácteos e commodities.  Enquanto o Reino Unido deve manter a tradição de procurar novos acordos de bens e serviços com as nações.

Mesmo com o protecionismo em alta no cenário internacional, Cesário adverte que é preciso ficar de olho para os excessos ideológicos não atrapalharem o comércio global.  Segundo o especialista, o Brexit ainda gera incertezas, que só vão desaparecer com um acordo de livre comércio assinado entre o Brasil e o Reino Unido. Por este motivo, manter relações multilaterais com todos os países possíveis é fundamental para a economia brasileira.