13/06/2014 - 20:00
Os japoneses usam a palavra dantotsu para designar aquela pessoa ou empresa que é a melhor entre os melhores, porque é capaz de superar todos os pontos fortes de seu oponente. Não por acaso, foi com este nome que os executivos da subsidiária da japonesa Bridgestone, a maior fabricante de pneus do mundo, batizaram seu plano de ação para o mercado brasileiro. Para se impor por aqui, os japoneses estão pisando firme no acelerador. Um bom exemplo disso é que mesmo em um mercado em baixa, devido à queda de 17,3% nas vendas de pneus para as montadoras no período janeiro-maio, eles estão reforçando suas defesas.
Na contramão do setor, decidiram investir US$ 63 milhões na fábrica situada em Camaçari, polo industrial baiano distante 41 quilômetros de Salvador. O montante é suficiente para aumentar em 20% sua produção, para 10,5 mil unidades por dia. Esse é um dos passos para cumprir a ambição de assumir a liderança até o final de 2024. O Brasil, onde seu faturamento ultrapassou US$ 1 bilhão no ano passado, é um dos poucos países nos quais a Bridgestone não ocupa o lugar mais alto do pódio. Aqui, estão na terceira posição, com uma fatia de 15%, atrás da italiana Pirelli, com 25%, e da americana Goodyear, com cerca de 17%.
“Os japoneses são sempre muito contidos nas metas estipuladas”, diz Ariel Depascuali, presidente da Bridgestone Brasil. “Se eles pensam em ter a liderança em 2024, é porque eles realmente acreditam nisso.” Para correr atrás desse resultado, as atenções da Bridgestone se voltam para a região que abrigou o Complexo Petroquímico do Nordeste (Copene), o primeiro motor de crescimento do Nordeste e atual polo de fabricação de automóveis e autopeças. Porém, a temperatura de Camaçari, sempre próxima dos 30ºC, não ajuda a refrescar as cabeças dos executivos do setor pneumático.
Além da diminuição das vendas às montadoras, a produção de pneus de carga, agrícolas e industriais, mais rentáveis devido ao tamanho, recuou: 6,2%. “É um mercado que não está bom para ninguém”, diz Alberto Meyer, presidente da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip). Para completar, as medidas antidumping contra empresas asiáticas, acusadas de praticar preços abaixo do custo de produção, não surtiram efeitos e esses concorrentes dominam hoje 35% do mercado de reposição. Nesse contexto, a pergunta que fica é a seguinte: como manter o otimismo num cenário desses?
Para a Bridgestone, que está operando no vermelho desde janeiro, a resposta é ampliar a oferta de produtos e acelerar em busca de novos consumidores. Por isso, até o aumento do número de funcionários da fábrica baiana já está em curso para acelerar a produção. “Sem dúvida, estamos sofrendo”, diz Depascuali. “Mas queremos estar à frente dos concorrentes quando o cenário melhorar novamente.” Outra vertente do plano elaborado para competir pneu a pneu com as suas principais concorrentes é fazer um dos maiores investimentos em marketing da história da Bridgestone.
De acordo com fontes ouvidas pela DINHEIRO, a empresa está perto de anunciar o patrocínio da Olimpíada Rio 2016, e a de 2020 em Tóquio. A verba é estimada em US$ 300 milhões e será uma resposta à ação da alemã Continental, patrocinadora oficial da Copa do Mundo de Futebol, e à Pirelli, fornecedora de pneus dos carros da Fórmula 1. Enquanto se prepara para acelerar em pistas menos sinuosas, Depascuali tenta se adequar para reduzir os prejuízos no balanço.
Durante a Copa do Mundo, a empresa entrará em ritmo de férias coletivas nas unidades de Camaçari (BA) e em Santo André, na região metropolitana de São Paulo. “Isso já estava no nosso cronograma anual como parada de manutenção das máquinas, mas terá uma duração maior em 2014”, afirma Depascuali, sem entrar em detalhes nos números. Essa espécie de pit-stop ajudará a Bridgestone a voltar para a meta estabelecida pela matriz japonesa de crescer 7% todos os anos no País. Até o próprio aumento de 17% nas vendas do ano passado já ficou para trás. “Nosso foco é recuperar as perdas desse primeiro semestre”, afirma o presidente.