14/05/2008 - 7:00
OS DOIS SENHORES NAS FOTOS AO LADO já foram sócios e hoje brigam nos tribunais pelo controle da VarigLog, uma das maiores companhias de carga aéreas do Brasil. O da esquerda, Lap Wai Chan, é representante do fundo de investimento americano Matlin Patterson. O da direita é Marco Antonio Audi, que, junto com Luiz Eduardo Gallo e Marcos Haftel, associou- se ao fundo para adquirir a VarigLog. Chan, nascido em Hong Kong e naturalizado brasileiro, passou semanas atrás por uma situação incômoda. Um juiz de São Paulo, responsável pela briga entre os dois sócios, determinou a apreensão de seu passaporte para impedi-lo de sair do País. Lap Chan, como é chamado, estava voando rumo a Nova York, quando a decisão judicial foi publicada. Só voltou dos Estados Unidos dias depois, protegido por um habeas- corpus preventivo. Tão logo desembarcou, deu uma única entrevista à imprensa, para a DINHEIRO, cujos principais trechos estão publicados abaixo. Dias antes, Audi tinha conversado com a reportagem da revista. A briga entre os dois começou em julho de 2007, meses depois de a VarigLog vender a Varig para a Gol por US$ 270 milhões. Cada um tinha suas próprias idéias sobre o que fazer com o dinheiro. Chan queria enviá-lo para o Matlin Patterson como retorno do investimento feito na companhia aérea brasileira, pois isso, segundo ele, estava previsto nos contratos de financiamento. Audi pretendia reter a dinheirama no caixa da VarigLog, para garantir a execução do ?plano de negócios da empresa?, como afirma.
Desde então, por sucessivas decisões judiciais, o controle da companhia saltou das mãos de um para o outro. O mais recente lance dessa batalha ocorreu no mês passado. Assim que assumiu de novo o comando, Lap Chan tentou transferir US$ 86 milhões da VarigLog depositados na Suíça para uma conta do Matlin Patterson. Não conseguiu. ?A operação fazia parte de uma operação para preservar esse dinheiro do bloqueio por parte dos credores?, diz Lap Chan. ?Era uma forma de transferir recursos para o fundo?, rebate Audi. A seguir, as opiniões de cada um sobre os assuntos que cercam a VarigLog.
DINHEIRO NA SUÍÇA
O que Lap Chan diz:
?Havia uma operação de salvamento da VarigLog. Por isso, tentamos transferir o dinheiro, mas o juiz só viu 10% da operação. A LanChile, nossa credora, havia bloqueado US$ 17 milhões. A Esso entrou com pedido de falência e já estava procurando contas para bloquear. A VEM também. Para evitar futuras penhoras, o dinheiro seria transferido para a Volo (controladora da VarigLog) e a Volo abriria uma linha de crédito para a VarigLog imediatamente e no mesmo valor. O juiz viu a carta de transferência e não a linha de crédito. Nós mostramos depois. Fizemos a operação antes de explicá-la ao juiz porque o processo é público e aberto, e isso abriria um risco enorme de que viessem outros bloqueios. Nosso objetivo era preservar o dinheiro. A insinuação de que os recursos iam para o fundo não faz sentido. Quanto eu investi na VarigLog e na Varig? US$ 400 milhões. Eu deixaria US$ 50 milhões destruir US$ 350 milhões? Há uma pergunta que eles não respondem: O que o dinheiro estava fazendo na Suíça? A VarigLog não opera na Suíça. Quem abriu a conta foi o Eduardo Gallo, no final de maio de 2007. Os três têm procuração da diretoria para movimentar a conta. Eles pagaram bônus para a diretoria uma semana antes de eles darem procuração para os sócios. Os diretores receberam R$ 1 milhão.?
O que Audi diz:
?O primeiro ato de Lap Chan ao reassumir a companhia foi determinar a saída do dinheiro da VarigLog para a conta do Matlin Patterson. A decisão do juiz era que o dinheiro só podia ser usado para a VargiLog. Ele estava presente quando da decisão. Graças à cautela do banco e à agilidade dos advogados, evitamos isso, senão o dinheiro viraria pó. Se ele queria preservar os recursos, por que não abrir uma nova conta? Ou então comprar CDBs? De qualquer forma, ele não poderia fazer essa operação, pois o dinheiro saiu pelo Banco Central e tem que voltar por esse caminho. A empresa tem contas em 13 países.?
O COMEÇO DA BRIGA
O que Lap Chan diz:
?Quando vendemos a Varig, começou a briga. Vendemos por US$ 270 milhões e queríamos devolver para o fundo Matlin Patterson para compensar os US$ 240 milhões que haviam sido investidos. Os três sócios sempre souberam que os contratos previam isso. Os investimentos na Varig e na VarigLog eram específicos e separados. Se fosse necessário mais dinheiro para a VarigLog, haveria mais dinheiro. O que eu não poderia era sacanear os investidores. Se isso acontecesse, o investidor não colocaria mais dinheiro na VarigLog. Quando entrou o capital da venda da Varig, eles acharam: ?Eu sou dono do mundo, vou fazer o que eu quero e danese o fundo.? Para mim isso foi o final.?
O que Audi diz:
?O chinês é inconseqüente, é doido. Ele se comprometeu a emprestar US$ 486 milhões para a VarigLog até 2011. Quando vendemos a Varig para a Gol, saimos com US$ 300 milhões em caixa e uma dívida de US$ 346 milhões com o Matlin Patterson, que vencia em 2011. Quando recebeu o dinheiro o Lap disse para mim: ?O Matlin Patterson vai abrir mais um fundo de investimento. Precisamos mostrar para os investidores do fundo que compramos uma companhia por US$ 24 milhões e vendemos por US$ 320 milhões. Precisamos levar o dinheiro para lá.? Eu disse não, de jeito nenhum. O que ele fez? Trouxe o David Matlin, um dos sócios do Matlin Patterson para falar comigo. Ele disse que iam levar o dinheiro. Acabou nisso.?
SITUAÇÃO DA EMPRESA
O que Lap Chan diz:
?Em julho de 2007, quando eles nos tiraram da empresa, a VarigLog tinha mais de 20 aeronaves. Aí, triplicaram o salário deles e compraram carros importados. Foram para um escritório novo, ao lado da Gol e do Aeroporto de Congonhas. Nisso gastaram R$ 30 milhões. Eles venderam ações da Gol (recebidas como parte de pagamento pela Varig) na baixa para compor o caixa. Em julho de 2007, comunicaram à recepção que os representantes do Matlin Patterson não podiam entrar lá. Só voltamos à empresa no dia 1o de abril. Impostos não foram pagos, salários estavam atrasados e fornecedores não recebiam pagamento. Os atrasos somavam R$ 200 milhões. Em abril deste ano, estávamos com três aviões.?
O que Audi diz:
?A história começa com a sabotagem que o Matlin Patterson fez na VarigLog. Primeiro, ele tragou o dinheiro, depois retomou os aviões que pertenciam ao fundo. Eles queriam asfixiar a empresa. Chegamos a ter 24 aviões e agora são três. Eles travaram o caixa da companhia e os pagamentos começaram a atrasar. Eles foram os primeiros a entrar na Justiça contra a companhia. e as outras empresas de leasing de aviões foram atrás. O próprio fundo falava que não tinha mais nada a ver com a companhia. Eles tentaram tomá-la de nós. Nós temos o direito de pensar que o problema era a crise americana. O que ele está fazendo é usar o dinheiro dele como um bandido usa um 38 para levar nosso relógio.?