O engenheiro civil carioca Guilherme Malan Werneck dirige uma produtora de internet e é primo em segundo grau do ministro da Fazenda Pedro Malan. George Eduardo Aczel Cardoso, outro carioca, é primo também em segundo grau do presidente Fernando Henrique Cardoso. O administrador de empresas Gilberto Buffara Júnior não tem nenhum parentesco no primeiro escalão do governo. Mas, nos últimos dias, Buffara teve de prestar depoimentos na Divisão de Repressão ao Crime Organizado e de Inquéritos Especiais, no Rio de Janeiro, por causa de um projeto que os três arquitetaram juntos: o site Democracia.com. Movido por uma denúncia do presidente Fernando Henrique de que o portal continha ofensas a sua pessoa, o delegado da Polícia Federal, Paulo Tarso de Oliveira, indiciou dois dos três sócios. George Cardoso, parente de FHC, não foi encontrado. Com a notificação, os palavrões foram retirados do ar.

Longe de imaginar confusão, a idéia inicial de Malan (o Guilherme), Cardoso (o George) e Buffara era montar um site politicamente correto: notícias, salas de bate-papo, pesquisas de opinião e uma biblioteca de projetos públicos. Mais recentemente, os donos abriram fóruns de discussões em que o tema é escolhido pelo próprio usuário. E foi então que tudo saiu do controle. ?Quando surgiram os primeiros palavrões, nós fizemos uma reunião e decidimos cortá-los?, diz Buffara. ?Mas não temos tempo nem dinheiro para censurar tudo o que aparece.? De acordo com a Polícia Federal, o inquérito está parado e nenhum processo foi aberto contra o site até o momento. ?O que aconteceu não foi autoria nossa. O site não pode se responsabilizar por isso?, diz Guilherme Malan.

Como argumento, os proprietários do site defendem a livre expressão das idéias na sociedade. ?Mas isso tem um limite que é o respeito aos direitos de outra pessoa?, diz Alexandre Tabuchi, advogado do escritório Menezes e Lopes, em São Paulo. ?O presidente fez o que qualquer cidadão poderia fazer, mas o site não pode se responsabilizar pelos palavrões?. Os donos do Democracia.com, contudo, criticam a forma agressiva como foi feita a notificação. ?Eu sempre fui simpatizante do presidente?, diz Buffara. ?Agora me pergunto qual é o tipo de espírito democrático que ele tem. Tudo isso seria facilmente resolvido com uma ligação telefônica.?