Numa espécie de dobradinha, os ministros Fernando Haddad, da Fazenda, e Marina Silva, do Meio Ambiente, deram o tom e uma espécie de pontapé inicial do governo Lula no cenário internacional. Os dois, em coro e afinados, tentaram passar a impressão de que novos tempos estão por vir no Brasil. Dirimiram inquietações quanto às instabilidades recentes. Reiteraram a ideia de que a República segue forte e ainda encontraram espaço para anunciar novidades. Haddad, por exemplo, prometeu ali que um novo arcabouço fiscal deverá sair em abril, costurado a toque de caixa pela equipe. Falou em mudanças do Imposto de Renda para o segundo semestre, privilegiando concessões aos mais pobres e aperto nas camadas privilegiadas (numa espécie de reviravolta Robin Hood), insinuou a meta de zerar o déficit público em dois anos e ainda traçou as linhas mestras de um pacote econômico ­— que foi bem recebido lá fora, mas com ressalvas por aqui. Marina não fez por menos e convocou o mundo a investir cerca de US$ 100 bilhões em projetos sustentáveis e proteção ambiental, que teriam o Brasil como principal beneficiário alvo. Caso os prognósticos e entendimentos de ambos no fórum internacional tenham êxito, o cenário será realmente promissor. Haddad e Marina pareciam à vontade. Tratados como estrelas do evento, sabiam que galvanizavam as expectativas de mudanças no País. Representavam Lula e trouxeram a lição de casa bem decorada para não causar ruídos nesse sentido. O ministro da Fazenda, solicitadíssimo, teve uma dúzia de reuniões e acertos com interlocutores multilaterais. Marina idem e tratou de reiterar o cumprimento das metas de desmatamento zero, acalmando a comunidade, temerária desde que o elenco anterior de Bolsonaro buscou desprezar os acordos nesse aspecto. As críticas à proposta fiscal de Haddad partiram especialmente dos conterrâneos. A queixa maior de empresários, especialistas e investidores brasileiros era ao fato de a “esquerda” sempre querer resolver rombos fiscais aumentando impostos, como resumiu o economista Samuel Pessôa. Muitos concordam com ele. A resposta de Haddad a alegações do tipo é a de que a sustentabilidade fiscal depende de um maior equilíbrio nas cobranças. Hoje, por todos os motivos, a parte mais pesada do Leão vem recaindo sobre as camadas mais carentes de renda. O governo Lula, com Haddad à frente da pasta, procura mudar isso. Em Davos, disse o ministro: “Você tem que estar com as contas arrumadas, mas para desenvolver o País precisa de uma certa política proativa”. Suas palavras soaram bem. Não restam dúvidas, foi ali construída uma maior confiança, em especial em relação à institucionalidade brasileira. Qual é a impressão predominante deixada no Fórum? A de que outra forma de tocar a economia entrará em marcha por aqui. Meta número um: o retorno das receitas e despesas aos mesmos níveis pré-pandemia. Não será fácil. O buraco deixado é gigantesco, como todos estão cansados de saber. De qualquer modo, existe a perspectiva de que será mais fácil nesse momento aprovar uma Reforma Tributária que passou os últimos quatro anos em banho-maria nas comissões da Câmara e do Senado. Em Davos, a sensação é de que agora ela sai.

Carlos José Marques
Diretor editorial